Estudo identifica mais de 190 espécies de aves em Atalanta
As observações em campo ocorreram em dezembro e foram conduzidas por especialista da avifauna da Mata Atlântica, a convite da Apremavi.
Avistar pássaros de diferentes tamanhos e cores, principalmente em áreas próximas de remanescentes florestais, como é o caso das pequenas cidades do Alto Vale do Itajaí (SC), e identificar a biodiversidade por trás das vocalizações, voos e movimentos ágeis dos pássaros de Atalanta foi o principal objetivo da visita do Biólogo Gustavo Malacco, que esteve trabalhando em diferentes áreas da cidade em dezembro de 2021. Entre as avistadas algumas são conhecidas das comunidades, como o bem-te-vi, o tucano e os bandos de jacus; já outros chamam atenção pelo canto exótico e cores vivas da plumagem.
Foram analisadas seis paisagens, abrigando diferentes ambientes: áreas de floresta, ambientes antropizados (pastagens, plantações, edificações, estradas e áreas degradadas); aquáticos (lagoas e taboas) e aéreo. Para a observação, foram aplicadas técnicas de playback, enfocando, principalmente, na vocalização de espécies de aves ameaçadas de extinção, raras, deficientes em dados e endêmicas.
Etapas para a identificação das espécies
Durante as observações foram registradas 176 espécies. Também foram analisados os registros fotográficos de Wigold B. Schaffer, que documenta a aparição de aves em Atalanta há anos. Ao todo, 196 táxons foram identificados, o que representa cerca de 22% da avifauna ocorrente na Mata Atlântica e pouco mais de 27% da avifauna ocorrente no estado de Santa Catarina.
Além dos estudos em campo, também foi observada a bibliografia e outras pesquisas desenvolvidas no Alto Vale do Itajaí. Na cidade de Laurentino, por exemplo, ao longo de 15 anos foram registradas 315 espécies, ilustrando a riqueza e diversidades, com a presença de dezenas de táxons ameaçados de extinção e endêmicos. Confira na galeria algumas das espécies registradas:
Algumas das espécies avistadas em Atalanta. Fotos: Gustavo Malacco e Wigold B. Schaffer.
Espécies ameaçadas de extinção
Registrou-se três espécies consideradas ameaçadas de extinção em campo, sendo: Spizaetus tyrannus (gavião-pega-macaco) e Saltator fuliginosus (bico-de-pimenta), ameaçadas em Santa Catarina, e Biatas nigropectus (papo-branco), ameaçada globalmente e em Santa Catarina, e também consta como quase ameaçada nacionalmente. Registros de espécies de aves em municípios limítrofes de Atalanta indicaram que algumas das 57 espécies que podem viver na região também estão em perigo. É o caso da Amazona vinacea (papagaio-de-peito-roxo) e Phibalura flavirostris (tesourinha-da-mata).
Gabriela Goebel, bióloga e técnica ambiental na Apremavi, destaca a importância das constatações: “Esse tipo de estudo evidencia a rica diversidade de espécies que temos em nossa região, com espécies inclusive ameaçadas de extinção. É essencial conhecê-las para que possam ser construídas estratégias para conservação das mesmas. Além disso, possibilita que mais pessoas conheçam e tenham um olhar mais atento para a incrível biodiversidade da nossa região e da Mata Atlântica como um todo”.
O especialista recomendou a continuidade de amostragens em Atalanta, buscando documentar outros táxons com potencial de ocorrência, como por exemplo Sporophila falcirostris (cigarra-verdadeira) e Sporophila frontalis (pixoxó), ameaçados nacionalmente.
Espécies não avistadas, mas com potencial de ocorrer na região. Fotos: WikiAves
Aves como indicadores de qualidade ambiental
O estudo também resultou num importante insumo para os trabalhos da Apremavi na restauração e conservação de paisagens florestais na região: a identificação de espécies que indicam uma boa conservação do ambiente. Da lista inicial com 196 espécies, 59 podem ser consideradas indicadoras de qualidade ambiental. Isso pode ocorrer por diferentes motivos, como a necessidade por uma alimentação restrita (como insetos e outros pequenos invertebrados), pressão de caça sobre a espécie ou a especificidade de hábitat (vivem apenas em florestas bem conservadas).
Segundo Vitor Lauro Zanelatto, colaborador da Apremavi e estudante de Ciências Biológicas, a pesquisa deverá ser utilizada também em novas estratégias de conscientização e educação ambiental, evidenciando o impacto da restauração para toda a biodiversidade do ecossistema: “As informações do estudo são valiosas para nós, mostram não apenas o resultado da conservação da natureza, mas também os benefícios da restauração. Muitas das paisagens visitadas durante o estudo já foram campos degradados. Com mudas nativas, comprometimento e alguns anos para a regeneração, até mesmo aves ameaçadas de extinção já foram observadas. Isso é fantástico, inspirador!”
Sobre o pesquisador
Gustavo Malacco é Biólogo e mestre em Engenharia Florestal. Especialista na avifauna da Mata Atlântica, já realizou diversos estudos no bioma, identificando espécies e aconselhando medidas para a preservação da biodiversidade. Em Minas Gerais, liderou um projeto realizado pela ONG Angá, visando a reintrodução do bicudo (Sporophila maximiliani), ameaçada de extinção. Além de produzir um protocolo de reintrodução, a iniciativa atentou-se à morfologia, genética e, especialmente, monitoramento destas populações pós-soltura; sendo considerada exemplo para novas estratégias de reintrodução de populações da avifauna na Mata Atlântica.
Autor: Vitor Lauro Zanelatto.
Revisão: Carolina Schäffer.
Foto de capa: Wigold B. Schäffer.