Plantas nativas ornamentais atentam para conservação da Restinga
A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos de biodiversidade no Planeta, abrigando milhares de espécies de plantas, animais e fungos, muitas delas ameaçadas de extinção em diferentes ecossistemas. Dentre eles destaca-se a restinga, que se estende pela região litorânea do país. A restinga compreende um conjunto diversificado de tipos de vegetação situadas em terrenos predominantemente arenosos, de origens diversas, que em geral possuem solos pouco desenvolvidos.
Apesar de serem consideradas legalmente como Áreas de Preservação Permanente (APPs) (Lei nº 12.651/2012) a restinga é um dos ecossistemas mais ameaçados da Mata Atlântica, devido à urbanização, especulação imobiliária constante, poluição hídrica e plantio de espécies exóticas como o Pinus sp. Além de estarem ameaçadas, essas paisagens naturais ainda são pouco exploradas por pesquisas.
Guia de Plantas Nativas Ornamentais de Restinga
Pensando nisso, um projeto desenvolvido pelo Laboratório de Ecologia Vegetal do Departamento de Ecologia e Zoologia do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (FLORAM), publicou um guia de plantas nativas ornamentais de restinga.
Gabriela Goebel, Técnica Ambiental da Apremavi, mestranda em Botânica pela UFSC e uma das autoras da obra, comenta: “as restingas catarinenses possuem uma das maiores diversidades de espécies vegetais do Brasil, mas que, infelizmente, ainda é desconhecida pela maior parte da população. Além disso, muitas dessas espécies possuem potencial ornamental, podendo ser utilizadas no paisagismo que é uma forma de valorização da flora nativa e de promover a conservação dessas espécies, assim como de substituir as espécies exóticas que usualmente são utilizadas”.
Como parte da pesquisa para obterem algumas das informações que compõem o guia, o grupo de pesquisadores selecionou diferentes espécies nativas da restinga de Florianópolis (SC), com potencial ornamental, e realizou, durante um ano, saídas de campo para observar os períodos de floração e frutificação dessas espécies, bem como para coletar sementes para produção de mudas. Esse processo culminou na coleta de informações sobre o cultivo, fenologia e propagação das espécies a fim de incentivar o uso para fins paisagísticos.
Gabriela destaca ainda que “muitas dessas espécies não tinham informações sobre germinação de sementes, época de produção de flores e frutos, e esse tipo de conhecimento é essencial para produção de mudas e utilização em projetos de restauração e paisagismo, por exemplo”.
Importância da Restinga
Do ponto de vista da conservação, a restinga exerce diversas funções, como a fixação das dunas litorâneas que protegem o litoral contra eventos de ondas e marés, onde a sua vegetação atua como uma barreira para esses eventos. Além disso, as restingas têm um potencial imenso para o turismo ecológico nessas regiões.
“A pesquisa realizada pelo projeto foi muito importante por gerar conhecimento sobre espécies nativas da restinga que tem esse potencial ornamental e divulgá-lo à comunidade em geral na forma de um guia ilustrado, com informações acessíveis que podem ser utilizadas por diferentes públicos e regiões do Brasil, já que muitas dessas espécies ocorrem em restingas de outros estados”, ressalta Gabriela.
Vídeo feito pela Apremavi que explora a beleza da Restinga.
#GeraçãoRestauração na restinga de SC
O manejo de plantas exóticas invasoras e o desenvolvimento de metodologias para a restauração do ambiente natural da restinga são urgentes, já que o tempo beneficia a dispersão de plantas invasoras, como o Pinus sp. Silvia Ziller, fellow Ashoka e fundadora do Instituto Hórus, estuda e trabalha com projetos relativos ao tema no litoral catarinense há décadas.
A estratégia do Instituto Hórus envolve disseminar informações, aumentar a conscientização, projetar métodos de controle, desenvolver políticas públicas, criar tecnologias apropriadas e gerenciar ou erradicar a vegetação não-destrutiva. Ela trabalha com os melhores cientistas e especialistas em agricultura de todo o mundo para elaborar planos para a proteção da flora e fauna nativa, além de executar projetos para a remoção das plantas invasoras. Como todas as iniciativas de restauração, o sucesso depende da participação de vários atores locais e regionais, como governos municipais, institutos de pesquisa, lideranças locais e financiadores.
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Um dos grandes parceiros do Instituto Hórus é o Laboratório de Ecologia de Invasões Biológicas, Manejo e Conservação (LEIMAC) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O grupo é coordenado pela professora Michele de Sá Dechoum, e se dedica a estudar a introdução (intencional e acidental) de espécies associadas a atividades humanas e os impactos decorrentes, bem como a pesquisar e desenvolver metodologias de restauração em diferentes ecossistemas da Mata Atlântica. Além das pesquisas universitárias desenvolvidas, mensalmente o laboratório promove mutirões de controle de plantas exóticas invasoras nas praias de Florianópolis (SC).
Antes e depois de uma das áreas de restinga que recebeu manejo de Pinus sp. e posterior restauração. Foto: Michele de Sá Dechoum
Autores: Thamara Santos de Almeida, Vitor Lauro Zanelatto e Gabriela Goebel.
Revisão: Carolina Schäffer.