Flora da Serra do Rio do Rastro ganha destaque em obra educativa

12 nov, 2024 | Notícias

A Serra do Rio do Rastro, um dos cenários exuberantes de Santa Catarina, é conhecida por suas paisagens espetaculares e também, como descoberto recentemente, por abrigar uma diversidade única de flora. 

Esse ecossistema rupícola é o centro da pesquisa de Júlia Gava Sandrini. Com um profundo interesse em espécies ameaçadas e endêmicas, a bióloga dedicou seu mestrado a explorar e catalogar a flora da serra. Seu trabalho culminou na criação do livro educativo “A Flora na Serra do Rio do Rastro” que, além de divulgar as descobertas científicas, busca sensibilizar o público sobre a riqueza e fragilidade desse ecossistema.

Na entrevista a seguir, Júlia fala sobre as motivações que a levaram a escolher a Serra do Rio do Rastro como objeto de estudo, os desafios de proteger espécies que sofrem com a pressão das intervenções humanas e a importância de combater a impercepção botânica nas novas gerações. O livro, que será distribuído gratuitamente em escolas e centros educacionais, combina linguagem acessível e ilustrações detalhadas para conectar crianças e jovens com a flora nativa e sensibilizá-los sobre a importância da conservação ambiental.

Entrevista com Júlia Gava Sandrini

Qual é a pesquisa realizada pelo teu mestrado e como ela está relacionada com o livro?

Minha pesquisa de mestrado foca no levantamento da flora rupícola da Serra do Rio do Rastro. Realizamos a coleta de 523 plantas, das quais a maioria já foi identificada. Ainda estamos finalizando a identificação das espécies, e, paralelamente a esse trabalho, surgiu a ideia de criar um livro que desse visibilidade a essa flora, frequentemente ignorada nas intervenções de infraestrutura e nas práticas de manutenção da rodovia.

No campo, percebemos que há muitas intervenções na região, e um dos problemas críticos é o tipo de manutenção realizado nas encostas da rodovia, como a roçada, que afeta também os paredões, onde ocorrem espécies ameaçadas e endêmicas. O livro, então, veio como uma forma de trazer esses exemplos locais para a educação ambiental, com o objetivo de combater a impercepção botânica, incentivando que as plantas da serra sejam percebidas e valorizadas.

Com essa publicação, queremos criar um material de apoio para escolas da região, que também pode ser utilizado em espaços não formais de educação, sensibilizando a comunidade sobre a importância da Serra do Rio do Rastro e outras áreas da Serra Geral. Embora o foco seja a flora da serra, o que abordamos serve para todas as regiões de encosta com características similares, promovendo um olhar mais atento e respeitoso para a vegetação rupícola em geral.

 

Quantas espécies foram encontradas na região e quantas delas são ameaçadas e endêmicas?

Até o momento, encontramos 270 espécies de plantas na região da Serra do Rio do Rastro. Dessas, 16 já foram identificadas como ameaçadas. O livro foi desenvolvido em paralelo ao mestrado e teve como objetivo divulgar essas descobertas, contribuindo para a sensibilização e a valorização da flora local.

 

Como você acredita que a abordagem educativa e visual do livro pode contribuir para a sensibilização ambiental de crianças e jovens?

Ao incluir fotos e ilustrações, o livro oferece uma forma prática e envolvente de interação, permitindo que o público jovem se conecte visualmente com as plantas da região. Além disso, usamos uma linguagem acessível e adaptada, equilibrando o rigor científico com uma comunicação fácil de entender.

Essa combinação entre conteúdo visual e linguagem acessível facilita o entendimento de conceitos importantes e estimula a curiosidade. Já tivemos exemplos de crianças que interagiram com o livro, como uma que, ao ver a personagem séria ao lado de uma planta exótica invasora, perguntou por que aquela espécie era “ruim”. Essa interação visual ajuda a transmitir mensagens que vão além das palavras, despertando reflexões sobre o impacto das plantas invasoras e a importância de preservar a flora nativa, fortalecendo a sensibilização ambiental.

 

Onde ele deverá ser distribuído/utilizado?

A tiragem inicial é de 2000 exemplares, que serão distribuídos gratuitamente em escolas e iniciativas de ensino não formal na região da Serra do Rio do Rastro. O objetivo é, sobretudo, alcançar escolas e atividades comunitárias que possam usar o livro como ferramenta de sensibilização e de educação ambiental.

 

Quais ações você considera essenciais para conservar a flora da Serra do Rio do Rastro? E qual a importância da restauração ecológica?

Controle de espécies exóticas invasoras: há um problema significativo com espécies exóticas invasoras, que competem de forma agressiva com as plantas nativas. Implementar programas de controle e manejo dessas espécies é crucial para proteger a biodiversidade local e evitar que essas plantas dominem o ecossistema.

Sensibilização e capacitação das equipes de manutenção da rodovia: é importante conscientizar as equipes de manutenção sobre a flora nativa da região, promovendo práticas que evitem danos às espécies locais. Pequenas mudanças nos métodos de roçada e manutenção poderiam ajudar a proteger as plantas endêmicas e ameaçadas que crescem nos paredões.

Engajamento e educação da população local: trabalhar com a população local e com as pessoas que passam pela rodovia, promovendo educação ambiental, é essencial para reduzir os impactos humanos e estimular uma atitude de proteção e respeito pela flora local.

Monitoramento contínuo: manter um monitoramento constante da flora, adaptando as ações de conservação conforme surgem novas ameaças, como a alteração na distribuição das espécies e o surgimento de novas plantas invasoras.

A restauração ecológica é uma prática fundamental, mas que enfrenta desafios no caso dos ecossistemas rupícolas, pois esses ambientes são pouco estudados e complexos. A restauração ecológica pode ser especialmente desafiadora em áreas de encosta como a Serra do Rio do Rastro, pois exige um conhecimento profundo das espécies locais, suas interações e seu papel no ecossistema. Portanto, uma estratégia inicial pode incluir a conservação ex situ de espécies ameaçadas, preservando-as em viveiros e bancos de sementes, enquanto pesquisas mais detalhadas sobre o ecossistema rupícola são realizadas.

 

Quais são os próximos passos da sua pesquisa?

Nosso próximo passo é finalizar a identificação das espécies. Com novos editais, esperamos viabilizar outras edições do livro e ampliar o alcance desse projeto, promovendo o conhecimento e a valorização da flora única da Serra do Rio do Rastro.

> Conheça a obra

Lançamento do livro Flora na Serra do Rio do Rastro

(1) e (2) Registros do lançamento da obra “Flora na Serra do Rio do Rastro”; (3) Miriam Prochnow, cofundadora e diretora da Apremavi, que escreveu o prefácio da obra, ao lado da Júlia Gava Sandrini; (4) Begonia squamipes, uma das espécies registradas no local e (5) Serra do Rio do Rastro vista de cima. Fotos: Herbário Pe. Dr. Raulino Reitz, João Paulo Durante, Bruno Marcos Pacheco e Carolina Schäffer.

“(…) Essa é uma oportunidade que a Flora na Serra do Rio do Rastro nos traz. Um mergulho em detalhes nesse ambiente único e precioso da Serra Catarinense, que precisa ser melhor conhecido para que possa ser preservado e, assim, continuar exercendo sua função de prover serviços ecossistêmicos fundamentais para a manutenção da vida. As informações sobre as espécies são apresentadas de forma criativa e didática, captando a atenção e despertando a curiosidade por mais conteúdo.”

Miriam Prochnow – cofundadora e diretora da Apremavi, no prefácio da publicação.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Herbário Pe. Dr. Raulino Reitz.

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