A Área de Relevante Interesse Ecológico da Serra da Abelha está localizada no município de Vitor Meirelles (SC). Possui uma área de 4.251 hectares e tem milhares de araucárias centenárias. Foi criada por motivação da Apremavi, através da Resolução 005 de 17.10.90 do CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente e referendada por Decreto Presidencial publicado no Diário Oficial da União no dia 28 de maio de 1996.
Localizada no município de Vitor Meirelles, é uma área de 4.251 hectares de Mata Atlântica. Abrange uma zona de transição entre as florestas ombrófila mista e ombrófila densa, o que lhe confere grande importância científica, por sua biodiversidade e características fitossociológicas.
Na área existem aproximadamente 8.000 araucárias adultas, com idade superior a 200 anos. O sub bosque é formado por espécies como a canela sassafrás, canela amarela, canela fogo, canela preta, canela garuva, cedro, palmito, pau óleo, pindabuna, angico, casca danta, andrade, e nos locais onde já houve interferência humana surgem vassourões, canela guaica e bracatinga. Essas características lhe conferem o status de inigualável banco de sementes, que podem ser usadas para repovoar com espécies nativas, áreas já degradadas em toda a região do entorno.
Na área existem centenas de nascentes que abastecem vários ribeirões com belas cachoeiras, dentre os quais se destacam o Rio Deneke, o Rio da Prata e o Rio Varaneira, que desembocam no Rio Itajaí do Norte. A altitude varia de 400 a 800 metros, com a existência de vales estreitos e profundos, além de pequenas cavernas. Existem também áreas planas, principalmente nas margens dos rios e no planalto onde ocorre a araucária.
A ARIE é rica em fauna, abriga algumas espécies ameaçadas de extinção como o papagaio de peito roxo (Amazona vinacae), gavião pombo (Leucopternis polionata), tesourinha do mato (Phibalura flavirostris) e pavó (Pyroderus scutatus).Além destes podem ainda ser observados na região, ouriços, pacas, quatis, cachorros do mato, e dezenas de outras espécies de aves, répteis e anfíbios.
A ARIE da Serra da Abelha faz parte dos remanescentes de Mata Atlântica de Santa Catarina e é um dos últimos redutos da Araucaria angustifolia, da qual restam apenas 3% da área que existia originalmente. A região foi considerada como uma das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade brasileira, nos workshops realizados pelo Ministério do Meio Ambiente, em Atibaia (1999) e Florianópolis (2006).
Na ARIE da Serra da Abelha residem 42 famílias que praticam a agricultura familiar e fazem a coleta do pinhão para subsistência. As famílias estão organizadas na Associação de Agricultores José Valentim Cardoso (Ajovacar), fundada em 1997. Algumas dessas famílias residem na área desde 1948, época em que desmataram pequenas áreas, para a prática da agricultura de pousio. As atividades agrícolas e de coleta de pinhões, praticadas ao longo dos anos pelos moradores da ARIE, apresentaram reduzido impacto ambiental, fato que contribuiu para a conservação da floresta até os dias atuais.
Segundo dados do diagnóstico socioambiental, realizado pela Apremavi e prefeitura municipal de Vitor Meirelles, junto a 100% das famílias residentes no interior da ARIE, atualmente 146 ha estão sendo utilizados para pastagens, 110 ha para lavouras anuais, 14 ha com reflorestamento de pinus e eucalipto e 3 ha estão reflorestados com espécies nativas. Os moradores também informaram que existem aproximadamente 250 ha com capoeiras em estágio médio ou avançado de regeneração.
A área foi declarada de utilidade pública pelo INCRA, para fins de Reforma Agrária, através de dois decretos, nos anos de 1985 e 1986. Recentemente, em função da criação da ARIE, o INCRA iniciou negociações junto ao IBAMA, visando a implantação de um projeto de assentamento alternativo que possibilite contemplar a permanência das famílias na área, com a conservação da floresta.
Por abrigar madeiras nobres, a Serra da Abelha sempre foi alvo de conflitos, invasões de madeireiros, caça e também alguns incêndios criminosos. Com a criação da ARIE, os moradores passaram a perceber a importância ambiental da área e começaram a denunciar as tentativas de invasão de madeireiros e o corte ilegal de árvores.
Atividades da Apremavi na Serra da Abelha
O planejamento ordenado das ações a serem implementadas em uma Unidade de Conservação é fundamental para garantir a preservação dos recursos naturais nela existentes e a consecução dos benefícios indiretos de ordem ecológica, econômica, científica e social dela advindos.
A APREMAVI vem trabalhando desde 1987 para a preservação desse importantíssimo patrimônio natural. Motivou a criação da ARIE em 1990 e em 1992 produziu o vídeo Pinheiro Brasileiro – Sua Vida, Seu Papel, Seu Destino, retratando a realidade da área. Desenvolveu também o projeto Educação Ambiental e Conservação dos Recursos Naturais na ARIE da Serra da Abelha, com o apoio financeiro e técnico do IBAMA e a participação da Prefeitura Municipal de Vitor Meirelles e da Associação dos Agricultores José Valentim Cardoso.
O projeto, iniciado em 1999, teve como objetivo implementar atividades de educação ambiental, junto aos agricultores da ARIE da Serra da Abelha e comunidade do entorno, visando contribuir com a preservação e recuperação dos recursos naturais da área e teve como principais atividades:
- Realização de diagnóstico socioambiental envolvendo as famílias residentes no interior da ARIE, para possibilitar a elaboração, a partir dos dados levantados, de um plano de manejo para a área.
- Capacitação das famílias, através de cursos e atividades práticas, em agricultura orgânica, recuperação de áreas degradadas, enriquecimento de florestas secundárias e ecoturismo.
- Recuperação de áreas degradadas através do reflorestamento de áreas de preservação permanente, com espécies nativas da Mata Atlântica e enriquecimento de florestas secundárias existentes no interior da ARIE.
- Implantação de áreas piloto de agricultura orgânica.
- Elaboração de materiais educativos e de divulgação.
O projeto trouxe grande motivação para a comunidade, principalmente através dos cursos, e despertou o interesse de alguns jovens, que já estão buscando aperfeiçoamento como guias de ecoturismo.
Outra instituição que se integrou ao projeto é o INCRA, que está participando de discussões e negociações junto ao IBAMA, com o objetivo de concretizar um Plano de Manejo para a área. Este plano busca contemplar a preservação ambiental através de atividades ecologicamente sustentáveis e a busca da melhoria da qualidade de vida dos moradores.
Características da região
A bacia hidrográfica do Rio Itajaí-Açu, também denominada Vale do Itajaí, abrange 15.000 Km2 do Estado de Santa Catarina e é caracterizada por pequenas cidades 2 a 60 mil habitantes – e pequenas propriedades agrícolas 10 a 30 ha em média . O Vale é habitado por descendentes de alemães e italianos e, em menor número, portugueses e poloneses.
O município de Vitor Meirelles localiza-se no Alto Vale do Itajaí, na região central de Santa Catarina. Sua área territorial é de 423 Km2 e sua população, é de 6.206 habitantes, a maioria na área rural. A altitude varia de 370 a 870 metros acima do nível do mar, com relevo de superfícies planas, onduladas e montanhosas.
Tem um clima mesotérmico temperado, úmido, sem estação seca, com verões quentes, onde a média anual da temperatura é de 180C. A precipitação pluviométrica anual varia entre 1.300 e 1.900 milímetros, com cerca de 100 a 120 dias de chuva e a umidade do ar gira em torno de 75 a 80%.
Os principais rios do município são o Rio Denecke, Rio da Prata, Rio Bruno, Rio Faxinal, Rio das Frutas, Ribeirão Gabiroba, Rio Tigre e Rio Dollmann, afluentes do Rio Hercílio, também chamado de Itajaí do Norte.
O município de Vitor Meirelles fica na área de abrangência da Mata Atlântica, apresentando como característica principal a transição, ou seja, o encontro entre as fitofisionomias: Floresta Ombrófila Densa (floresta do litoral) e a Floresta Ombrófila Mista (floresta com predominância de araucárias, que ocorre no planalto). A Mata Atlântica é um dos Biomas mais ricos do planeta em diversidade biológica, possuindo cerca de 20.000 espécies de plantas, 36% das existentes no país, sendo que 50% delas são endêmicas, isto é, não são encontradas em nenhum outro lugar da Terra.
Por apresentar relevo com ondulações e montanhas e uma infinidade de rios e riachos, o município é rico em cachoeiras, algumas com mais de 80 metros de queda dágua, que oferecem um belo espetáculo e grande potencial para o desenvolvimento do ecoturismo.
A economia do município gira em torno da agricultura, onde se destacam as pequenas propriedades agrícolas, com menos de 30 ha, com produção diversificada. Vitor Meirelles pertence à microrregião da AMAVI Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí e limita-se ao Norte com Itaiópolis e Santa Terezinha, ao Sul com Witmarsun, a Leste com José Boiteux e a Oeste com Rio do Campo e Salete.