As mulheres são parte da resposta para um mundo mais equilibrado
Ao lado de oito mulheres, Miriam Prochnow, fundadora e vice-presidente da Apremavi, acaba de publicar uma coluna de opinião no portal Ecoa do UOL. No artigo, que reproduzimos em íntegra aqui no site, as poderosas lideranças femininas dedicam suas palavras à explanação de que para que possamos superar as crises que vem por aí, é preciso sobretudo ter um olhar de cuidado sobre a situação em que vivemos.
A ex-Ministra do Meio Ambiente e senadora Marina Silva, disse durante entrevista em 2015: “Nós vivemos uma crise civilizatória, que se compõe de cinco grandes crises: econômica, social, política, ambiental e de valores. E essa crise de valores tem feito com que a gente separe economia de ecologia; ética de política. Com que a gente separe e destrua os recursos produzidos pelos homens e pela natureza há bilhões de anos em função do lucros de apenas poucas décadas“.
Felizmente, abrir espaço para novas formas de conduzir a política pode ajudar a ‘consertar’ o mundo. E mulheres que têm espaço para agir e tomar decisões têm se mostrado muito eficientes nisso. Alemanha, Nova Zelândia, Islândia, Taiwan e Noruega são ótimos exemplos de como as lideranças femininas têm o que é preciso para nos tirar desta crise – que está longe de existir apenas por causa do novo coronavírus.
As transformações femininas vêm com a potência da natureza com uma consciência mais ampla e espiritual. Um estudo realizado pelo Fundo para População das Nações Unidas (UNFPA, na sigla em inglês) aponta que as mulheres são um eixo central para combater as mudanças climáticas. Somente com a participação das mulheres nos processos de decisão é que soluções para esse desafio serão encontradas.
O planeta não suporta mais tanto descontrole e pressão dos seres humanos. Não temos mais espaço para perder florestas, povos tradicionais e não ter um olhar generoso para a conservação. É urgente evitar o aumento da desigualdade social e do racismo ambiental que é resultado da exploração desenfreada nos biomas. Cuidar do globo para que a gente ainda consiga equilibrar a vida por mais algum tempo. Passamos da hora de criar uma novo movimento de convivência.
É essencial a reconexão das pessoas com a natureza, ressignificar e buscar espaços com mais verde, mais qualidade de vida e um ambiente melhor no entorno e nas cidades.
O conserto do mundo passa pela igualdade de gênero. Nós mulheres podemos influenciar o mundo pós pandemia, que será um mundo que irá falar da nossa sobrevivência e do cuidado necessário para que ela ocorra.
É necessário zerar o desmatamento ilegal, apoiar a restauração dos ecossistemas e implantar a bioeconomia. Nós acreditamos que um futuro sustentável é possível, mas precisamos ser ativistas desse futuro.
Precisamos de espaço para trabalhar para que a retomada das relações sociais e econômicas seja num rumo sustentável e com mais empatia, participação ativa, colaboração, parceria, diálogo e solidariedade do que tem sido até hoje.
O mundo que queremos ver emergir depois do caos depende de nossa reconexão com a natureza. Nós mulheres, que temos essa conexão de forma intrínseca, teremos que fazer um esforço para esse resgate da humanidade. É nossa única chance de sobrevivência, pensando também nas outras espécies que nos acompanham nessa jornada na Terra.
É preciso aprender com quem já sabe
Para entender onde estamos é preciso conhecer nossas raízes, nossa história e nosso passado. Somente assim poderemos traçar nosso caminho com sabedoria, sensatez e responsabilidade. A cosmovisão indígena traz lições que abarcam a diversidade cultural, a questão de gênero, o olhar sensível aos idosos, mulheres e crianças, a visão de respeito à mãe terra e à mãe natureza. São ensinamentos estrategicamente compartilhados em coletividade e organizam socialmente os povos indígenas, como salvaguardas para a futura geração. Ter essa visão holística é essência para convivência e sobrevivência no planeta.
Os povos e as comunidades tradicionais são uns dos grupos que vêm tendo, através dos tempos, a responsabilidade de fazer o uso consciente dos recursos naturais assim também convoca toda sociedade, porque, para nós, tradicionais, que entendemos o território como parte de nosso corpo – corpo e mente -, não faz sentido imaginar um território tradicional (uma comunidade quilombola, por exemplo) sem os espaços físicos sagrados, sem os espaços de uso de produção alimentar.
É preciso descolonizar o Brasil e mudar essa visão meramente exploratória. Trabalhar mais em coletividade e incluir nos planejamentos do país as diversidades étnico culturais, econômicas, geográficas e de gênero para alcançar a tão almejada justiça social e ambiental – que, nesse contexto de crise climática, se torna uma só. E nós mulheres vimos trabalhando nesse protagonismo ao quebrar barreiras da representação política, propositiva e nas manifestações por direitos coletivos.
Já sabemos que este futuro só será possível se também for tecido pelas mãos das mulheres. E que bom poder olhar para o lado e ver que já estamos aqui.
Autoras: Ana Carolina Amaral (jornalista da Folha de S.Paulo), Dora Lima (Coalizão pelo Clima SP), Joenia Wapichana (líder da REDE na Câmara), Marcia Hirota (diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica), Mariana Belmont (jornalista colunista do Ecoa-UOL), Marina Helou (deputada estadual pela REDE-SP), Miriam Prochnow (ambientalista, vice-presidente da Apremavi), Nilce Pontes Pereira (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e Paulina Chamorro (jornalista e cofundadora da Liga das Mulheres pelos Oceanos).
Fonte: Ecoa-UOL.