Como a biodiversidade pode mitigar as mudanças climáticas

4 jul, 2024 | Notícias

A humanidade enfrenta uma dupla crise planetária: as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade.  A biodiversidade promove inúmeros benefícios socioambientais positivos, como a qualidade da água, do ar, polinização, segurança alimentar, saúde e bem estar. Além de ameaçada pelas alterações antrópicas como a mudança no uso do solo, contaminação e exploração de recursos, as mudanças climáticas aceleram a perda de diversidade de espécies. Um ecossistema afetado tem sua capacidade de mitigar as mudanças climáticas por meio do sequestro de carbono reduzida.

A proteção, conservação e restauração da biodiversidade colaboram diretamente para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Contudo, a criação de uma abordagem integrada entre as duas problemáticas é um desafio. Pensando nisso, um artigo científico publicado em maio deste ano na revista Bioscience da Oxford listou seis pontos-chaves em que a biodiversidade contribui na mitigação das mudanças climáticas com o objetivo de interligar e relacionar ambos desafios que vivemos em prol de soluções compartilhadas. Confira abaixo:

  1. Conservação dos estoques e sumidouros de carbono

É necessário que a conservação e a expansão da proteção dos ecossistemas naturais seja prioritária e que os ecossistemas nativos não sejam substituídos por espécies exóticas como o Pinus sp. e Eucalyptus sp. Dessa forma, será promovida a manutenção dos estoques de carbono e conservação da biodiversidade. Por exemplo, nas Florestas nativas na Amazônia, na Bacia do Congo e no Sudeste Ásia; que são particularmente importantes devido à co-ocorrência de alto carbono e biodiversidade. Nessas realidades, é mais barato manter a floresta em pé e conter a perda da biodiversidade do que restaurar áreas alteradas.

Contudo, a prioridade entre conservação e restauração varia em cada região, na Mata Atlântica a restauração dos ecossistemas deve ser uma prioridade para os fundos ambientais.

  1. Restauração da biodiversidade

É necessário ir além do cumprimento de metas de restauração em milhões de hectares para analisar como essa restauração é feita. Para isso, é preciso considerar a diversidade de espécies, para que elas promovam uma conectividade ambiental e gerem benefícios ecossistêmicos. 

  1. Conservação integrada da fauna e flora local

A conservação da flora e da fauna pode sequestrar potencialmente 6,5 bilhão de toneladas por ano, ou 6,5 PgC (pentagramas de carbono) por ano. Isso ocorre devido a sua interação e complexidade alimentar, que altera regimes de incêndios e microclima; bem como a promoção da diversidade de habitats; além de serviços como a dispersão, polinização e propagação de plantas. Dessa forma, a conservação de habitats como as florestas devem estar integradas a conservação das espécies.

  1. Utilizar somente as áreas já existentes de agricultura, pastagem e silvicultura

A expansão de plantações é uma das principais causas de perda de biodiversidade, devido à degradação e perda de habitat, que acabam afetando também o clima e os recursos hídricos. Dessa forma, uma gestão mais eficiente das áreas de agricultura, pecuária e silvicultura poderia sequestrar mais de 13,7 bilhão de toneladas de carbono. Nesse sentido, é incentivada a formulação de políticas públicas que proíbam a expansão dessas áreas.

  1. Incorporação da biodiversidade nos modelos de negócios

É necessário que mais incentivos econômicos sejam concedidos às empresas em prol da conservação da biodiversidade. As empresas e as instituições financeiras precisam

definir a sustentabilidade com mais precisão em termos de conservação da biodiversidade, e devem ser fornecidos incentivos para isso. O Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) está no caminho ao alocar recursos essenciais para a Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD). Da mesma forma, o setor privado pode aumentar o seu Impacto Líquido Positivo (NPI) – meta de gestão corporativa de biodiversidade.

  1. Conferências das Partes (COPs) conjuntas sobre biodiversidade e clima

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU e a Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) já pontuou que a crise da biodiversidade e das mudanças climáticas deve ser enfrentada de forma conjunta.

Uma forma de fazer isso é integrar as Conferências das Partes sobre clima e biodiversidade, aumentando a sinergia entre especialistas e acordos ambientais multilaterais e instituições internacionais.

Seis pontos-chave nos quais combater a crise da biodiversidade pode contribuir para uma solução eficaz para a emergência climática (topo). Fonte: Pereira et al. 2024. 

Seis pontos-chave nos quais combater a crise da biodiversidade pode contribuir para uma solução eficaz para a emergência climática (topo). Fonte Pereira et al. 2024.<br />

Seis pontos-chave nos quais combater a crise da biodiversidade pode contribuir para uma solução eficaz para a emergência climática (topo). Fonte: Pereira et al. 2024. 

Além disso, o artigo mostra seis pontos-chaves que podem ser transformados em metas para resolver a dupla crise conjuntamente: 

  • Aumentar os estoques e o sequestro de carbono otimizando a gestão dos ecossistemas terrestres e aquáticos;
  • Restauração com uma gama diversificada de espécies nativas, garantindo a conectividade ambiental e restaurando os benefícios que os ecossistemas podem nos proporcionar;
  • Reduzir a perda de biodiversidade;
  • Garantir a manutenção dos serviços ecossistêmicos;
  • Melhorar a gestão da terra nas áreas agrícolas existentes, garantindo a subsistência e o sequestro de carbono;
  • Incorporar a biodiversidade nos modelos de negócios, compensando perturbações e danos à biodiversidade causados ​​pelas atividades humanas;
  • Integrar COPs para abordar questões ambientais em conjunto;
  • Incorporar a biodiversidade numa agenda abrangente sobre mudanças climáticas;
  • Alcançar um impacto positivo líquido (NPI) para a biodiversidade;
  • Alcançar compromissos de emissões líquidas zero de carbono até 2050;
  • Garantir um ambiente sustentável para as gerações presentes e futuras.

 

> Confira o artigo na íntegra

 

Referência consultada:
PEREIRA, Cássio Cardoso; KENEDY-SIQUEIRA, Walisson; NEGREIROS, Daniel; FERNANDES, Stephannie; BARBOSA, Milton; GOULART, Fernando Figueiredo; ATHAYDE, Simone; WOLF, Christopher; HARRISON, Ian J; BETTS, Matthew G. Scientists’ warning: six key points where biodiversity can improve climate change mitigation. Bioscience, [S.L.], v. 74, n. 5, p. 315-318, maio 2024. Oxford University Press (OUP). http://dx.doi.org/10.1093/biosci/biae035.

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

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