COP28: serão os acordos suficientes para salvar um planeta em ebulição?
Para salvar os ecossistemas terrestres e com eles a humanidade, a Conferência de Clima iniciada hoje precisa entregar resultados ambiciosos que cumpram a meta de impedir o aumento da temperatura global.
Começou hoje (30/11), em Dubai nos Emirados Árabes, a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP28. COP significa “Conferência das Partes”, onde as “partes” são os países que assinaram o acordo climático original proposto pela Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) em 1992.
COP são reuniões anuais de alto nível, nas quais os representantes dos países signatários avaliam o progresso dos compromissos firmados por cada país para o enfrentamento da crise climática e tomam decisões coletivas sobre medidas adicionais a serem tomadas para combater esse desafio global. Dentre os participantes estão delegações de países, organizações não governamentais, representantes da indústria, cientistas, ativistas climáticos, jornalistas e outros interessados.
A conferência mais conhecida é a COP21, realizada em Paris em 2015, onde foi adotado o Acordo de Paris. Este acordo estabelece metas e compromissos para limitar o aumento da temperatura global e lidar com os impactos das mudanças climáticas. Um dos principais objetivos do Acordo é impedir o aumento da temperatura global acima de 1.5°C ou mantê-lo bem abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais.
O Observatório do Clima e a La Clima elaboraram uma publicação que decifra as COPs e o Acordo de Paris.
A COP 28
A COP28 acontece em um momento de ebulição global, onde o mundo todo já sente os efeitos da crise climática, através de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, chuvas intensas e enxurradas frequentes. Um dos principais objetivos do evento este ano é finalizar o Balanço Global do Acordo de Paris.
Além disso, o Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil elenca alguns outros pontos de discussão:
- detalhar como será o financiamento do Fundo de Perdas e Danos que foi estabelecido na COP27;
- estabelecer uma meta global de financiamento para países em desenvolvimento;
- acelerar a transição justa e equitativa de fontes de energias renováveis e de baixo carbono;
- abordar a lacuna de emissões de gases de efeito estufa.
O Brasil, que volta este ano para a mesa de negociações oficiais, pretende apresentar bons resultados no combate ao desmatamento, a criação de um plano de transformação ecológica para o Brasil, a correção da meta climática do país e uma proposta de criação de um fundo global para proteção de florestas.
A publicação “Rumo à COP”, produzida pela La Clima, aborda os principais temas de negociação, fazendo também uma mini retrospectiva do que aconteceu na COP 27 e nas últimas rodadas de negociação. É um documento fundamental para entender o que vai ser discutido na conferência.
O que esperamos da COP
Todos os olhos estarão sobre o Brasil durante a COP28. É a primeira COP de Lula e o presidente chega a Dubai com uma série de trunfos: a queda de 22% no desmatamento na Amazônia, a correção da “pedalada” da NDC, a presidência do G20 e a sede da COP30.
Junto com o Observatório do Clima, a Apremavi espera que o Brasil aproveite esse capital político para exercer um papel de liderança em Dubai, sendo criativo e olhando para a frente. Com grandes emissores do mundo desenvolvido enfrentando dificuldades geopolíticas ou sem apetite para avançar, Lula e a diplomacia brasileira têm a oportunidade de fazer avançar acordos difíceis, como fizeram em momentos chave do processo, nas COPs de Durban, Lima e Paris, por exemplo.
Estes acordos difíceis, porém necessários, são a única alternativa para salvar os ecossistemas terrestres e com eles a humanidade; por isso a Conferência de Clima iniciada hoje precisa entregar resultados ambiciosos que sejam suficientes para além de cumprir metas, de fato impedir o aumento da temperatura global e frear os efeitos extremos que já são vividos em todo o Brasil, sobretudo pelas comunidades vulneráveis.
Otimismo no primeiro dia do evento
No primeiro dia do evento foi registrado um progresso significativo em relação ao Fundo de Perdas e Danos, após entraves que perduraram ao longo de anos de negociações marcadas por resistência por parte dos países mais ricos. Apesar do apelo dos países em desenvolvimento para estabelecer um valor mínimo anual de US$100 bilhões para o fundo, essa cifra não foi explicitamente incorporada à decisão. As contribuições continuam a ser voluntárias, mas há uma convocação para que os países desenvolvidos ofereçam o suporte necessário ao fundo, enquanto os demais são incentivados a realizar contribuições.
Autora: Thamara Santos de Almeida e Carolina Schäffer.
Foto de capa: registro dos efeitos de mais uma enxurrada em Santa Catarina no dia 18 de novembro de 2023, por Carolina Schäffer.