COP29: avanços limitados e desafios à vista para o Brasil em 2025
A COP29 no Azerbaijão avançou timidamente, com o financiamento climático aquém das necessidades e predominância do lobby da indústria de combustíveis fósseis. O Brasil, que tradicionalmente ocupa papel de mediador nas negociações, agora enfrenta grandes expectativas como anfitrião da COP30, que vai acontecer em Belém no próximo ano.
Realizada em Baku, Azerbaijão, a última Conferência das Partes (COP) do Clima terminou no dia 23 de novembro e contou com avanços limitados diante das urgências climáticas globais. O relatório “Lacuna de Adaptação 2024: Faça chuva ou faça sol” do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), alerta que, sem ações drásticas, o planeta está a caminho de um aumento de temperatura entre 2,6°C e 3,1°C neste século, com impactos mais severos sobre comunidades vulneráveis.
Ele enfatiza que todas as nações devem aumentar drasticamente os esforços de adaptação climática, começando com o compromisso de chegar a um acordo global sobre financiamento climático na COP29. Apesar disso, mais uma conferência climática ocorreu e os resultados não foram ambiciosos o suficiente.
A Conferência foi marcada pelo lobby da indústria de combustíveis fósseis, com a presença de 1.773 representantes, superando o número de delegados de países mais afetados pela crise climática. Esse cenário reforça a crescente interferência do setor nos debates, replicando preocupações observadas em edições anteriores.
O financiamento climático aprovado foi insuficiente. Foi estabelecida uma meta de US$ 300 bilhões anuais até 2035, significativamente abaixo dos US$ 1,3 trilhão necessários, segundo países em desenvolvimento. O valor é 23 vezes inferior ao subsídio global a combustíveis fósseis em 2023, que atingiu US$ 7 trilhões, evidenciando a insuficiência nos esforços climáticos.
No encerramento da COP29, o Brasil desempenhou um papel de mediador nas negociações e agora enfrenta altas expectativas como sede da COP30 em Belém. A próxima COP terá como foco principal a revisão das metas climáticas conhecidas como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Essas metas representam o compromisso de cada país em reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, com o objetivo de limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC, conforme estabelecido no Acordo de Paris.
Avanços pontuais ocorreram no estabelecimento de princípios para o mercado de carbono. A proposta é estabelecer um mercado voluntário, coordenado pelas Nações Unidas, para a compra e venda de créditos de carbono. Esse mecanismo multimilionário busca alinhar as transações às metas globais de redução de emissões de gases de efeito estufa, incentivando iniciativas que promovam a descarbonização, mas questões cruciais, como os acordos bilaterais sob o Artigo 6.2 do Acordo de Paris, permanecem pendentes.
Com um saldo abaixo do esperado, a COP29 deixa o Brasil no centro das atenções para 2025. A comunidade global espera que Belém traga mais ambição e justiça climática às negociações futuras.
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Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto e Miriam Prochnow.
Foto de capa: Nos bastidores da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, UNCCC COP29, Dia 1. Baku Stadion, Baku, Azerbaijão. 11 de novembro de 2024 © Dean Calma / IAEA.