Fritz Müller, o Príncipe dos Observadores
2022 será sua oportunidade para conhecer a vida de Fritz Müller, chamado por Darwin de Príncipe dos Observadores e que deixou um legado impressionante para a ciência.
Em 2022 comemoramos o bicentenário do nascimento de Johann Friedrich Theodor Müller, mais conhecido como Fritz Müller. Naturalista teuto-brasileiro, nascido em 31 de março de 1822, que também foi botânico e professor de matemática e ciências naturais. Foi o primeiro cientista a apresentar modelos matemáticos para elucidar a seleção natural e fornecer provas contundentes da mesma.
Sua obra contribuiu para fundamentar e enriquecer a teoria da evolução das espécies por seleção natural de Darwin, tendo sido reconhecido mundialmente pela publicação Für Darwin, no ano de 1864, cinco anos após Darwin publicar a A Origem das Espécies.
Edição da tirinha Armandinho em homenagem ao bicentenário de Fritz Müller. Autor: Alexandre Beck
A intensidade da colaboração pode ser medida pelas 19 citações a pesquisas de Fritz na sexta edição de A Origem das Espécies. Também pela opinião de Francis Darwin, que começou o trabalho de organizar a correspondência do pai. Em 1887, ele escreveu: “Minha impressão é que, entre todos os amigos que nunca viu pessoalmente, Fritz Müller era aquele por quem tinha a maior consideração”. É famoso o tratamento de “Príncipe dos Observadores” que Darwin dispensou a Fritz numa carta a um amigo em comum, em 1880.
Fritz Müller morou e desenvolveu suas pesquisas de botânica e zoologia na Colônia Blumenau (atual Blumenau/SC) desde 1852 e em Desterro (Florianópolis/SC), tendo percorrido muitos caminhos por Santa Catarina. Faleceu em 21 de maio de 1897, aos 75 anos, na casa de sua filha Johanna, em Blumenau.
Fritz em 1891. Foto: Arquivo Histórico de Blumenau
Um dos maiores entusiastas da vida e obra de Fritz Müller é o também naturalista e ambientalista Lauro Eduardo Bacca, que usou os estudos de Fritz como parte dos seus ensinamentos aos seus alunos. Hoje, Bacca encontra-se empenhado em descobrir e percorrer os caminhos que o cientista trilhou durante sua vida. Em breve o professor Bacca estará num evento da Apremavi, contando as histórias dessa aventura.
+ Acompanhe a entrevista do professor Bacca para o OJC
Fritz Müller pode fazer parte da sua vida de várias formas, seja através do estudo da sua obra ou nos lugares por onde passou. Carolina Viviane Nunes, nos traz um relato emocionante e pé no chão de sua experiência:
“Eu tinha onze anos quando conheci Fritz Müller, meu primeiro herói – essa é a frase de abertura do texto que o Viegas Fernandes da Costa me enviou essa semana. Eu costumava dizer que era entusiasta ou admiradora do Fritz, mas o Viegas, poeta, encontrou uma palavra muito mais precisa e significativa. Nas memórias dele, ficaram as poesias que ele teve contato no Arquivo Histórico; nas minhas, ficaram as gavetas cheias de borboletas, que eu abria e fechava sem parar no museu. Fritz andava descalço, e talvez seja por isso que eu sempre me identifiquei com ele. E as trilhas: em 1868, ele fez uma longa excursão botânica a pé, saindo de Blumenau e chegando até o Morro da Boa Vista, onde hoje é Rancho Queimado. Uma viagem de vários dias, por caminhos bem mais cansativos e desconfortáveis do que hoje em dia”.
Carolina também relata como foi receber Lauro e Êdela Bacca em Rancho Queimado, que estão dedicados em compreender e documentar as experiências e produções de de Fritz Müller em Santa Catarina: “Bacca veio munido do relato da excursão, escrito por Fritz naquela época. O objetivo era descobrir as localidades e refazer possíveis trajetos. A descrição do Fritz é bastante precisa, embora sucinta. Ele fala da localidade Morro Chato e da sua passagem pelo Caminho dos Tropeiros, antiga rota que ligava Lages ao litoral. Péra lá! – disse o Walter enquanto líamos o relato atentamente. Então ele passou por aqui! – completou. E assim, descobrimos que Fritz (quase certamente) passou a pé e descalço pelo sítio onde moramos. Feliz aniversário de 200 anos, Fritz!”
Destaque: Bacca e Carolina, em Rancho Queimado (SC). Galeria: registros das paisagens em que Fritz esteve e da região onde residiu em Blumenau. Fotos: Lauro Bacca; Luiz C. de Souza/NSC TV
Caminhos do Fritz
Em 1876, durante uma expedição, Fritz esteve no Alto Vale. Registrou em suas anotações a passagem por Rio do Sul e de lá perseguiu o curso do Rio Taió. Depois de atravessar planícies úmidas, agora ocupadas por lavouras de arroz, descobrimos a entrada da trilha em Mirim Doce que, segundo moradores locais, continuou sendo usada por tropeiros durante décadas.
Dali em diante a floresta tomou conta do caminho. Para prosseguir, só com a habilidade de um Fritz Müller: “Lá em cima é um mundo muito diferente, bem mais fresco e seco. Mas a alegria é grande quando se retorna são e salvo para casa, podendo comer em uma mesa e dormir em uma cama”, comemorou.
Mapa com alguns dos caminhos percorridos pelo naturalista em SC. Elaboração: NSC TV.
Celebrações em 2022
Para homenagear o nosso cientista e divulgar sua obra, o Grupo Desterro Fritz Müller – Charles Darwin 200 anos, tem trabalhado desde 2020 com uma intensa programação, que inclui eventos on-line, divulgação de conteúdo em sites e mídias sociais, preparação de publicações e exposições. Foram elaborados dois ebooks sobre os trabalhos desenvolvidos e sobre a vida e obra de Fritz Müller. O coordenador do grupo, Marcondes Marchetti, explica esse trabalho. Confira os detalhes da iniciativa no podcast:
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em parceria com o Grupo Desterro Fritz Müller – Charles Darwin 200 anos, leva ao Congresso Nacional, em Brasília(DF), a exposição “Fritz Müller 200 anos”. A mostra ficará em exibição de 4 de abril a 2 de maio no Espaço Cultural Ivandro Cunha Lima, localizado no corredor do Anexo I do Congresso Nacional.
Mário Steindel, professor do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), afirma que a mostra é uma ótima oportunidade para conhecer esse grande naturalista teuto-brasileiro. “Ele fez contribuições importantes para comprovar a teoria de Darwin. Foi um dos primeiros apoiadores explícitos da Teoria da Evolução, prestando inúmeras evidências observacionais e experimentais no campo da zoologia e da botânica em favor da nova Teoria””, comenta Steindel, que também é coordenador científico do Grupo Desterro Fritz Müller – Charles Darwin 200 anos.
Corredor do Anexo I do Congresso Nacional. Foto: Divulgação
2022 é o ano para conhecer de perto e valorizar a obra desse naturalista que é um dos nossos maiores patrimônios históricos e culturais, símbolo de amor à natureza e às terras brasileiras.
Autores: Miriam Prochnow e Vitor L. Zanelatto.