MapBiomas aponta aumento de 22% no desmatamento em 2022
O Relatório Anual de Desmatamento de 2022 do MapBiomas aponta aumento no desmatamento, a maioria da área desmatada é devido a agricultura e em áreas privadas, além de ser ilegal e seguir impune
O MapBiomas teve início em 2015 como uma rede colaborativa, formada por ONGs, universidades e empresas de tecnologia. Desde então, a iniciativa fornece informações detalhadas e atualizadas sobre a dinâmica da cobertura do solo no Brasil, permitindo o acompanhamento das mudanças ao longo do tempo.
Os resultados do MapBiomas estão disponíveis gratuitamente para toda sociedade. A plataforma permite a visualização dos mapas gerados, bem como o acesso a dados e estatísticas sobre desmatamento, regeneração florestal, expansão urbana, agricultura, entre outros temas relacionados ao uso da terra.
O projeto vem colaborando para o aprofundamento e entendimento sobre onde, quando, quanto e como foi a evolução do desmatamento em todos os biomas brasileiros, agregando novos sistema de detecção e aprimorando os cruzamentos territoriais para melhor caracterização do desmatamento. Assim, desde 2019 eles validam e elaboram relatórios anuais de desmatamento em todos os biomas brasileiros.
![RAD 2022 MapBiomas RAD 2022 MapBiomas](https://apremavi.org.br/wp-content/uploads/2023/06/capa-rad2022.jpg)
O quarto Relatório Anual de Desmatamento (RAD2022), publicado pelo projeto, analisou os alertas de desmatamento detectados no Brasil no ano de 2022 e foi lançado oficialmente no dia 12 de junho em um webinar on-line. O relatório é fruto do projeto MapBiomas Alerta, que visa contribuir para o fim do desmatamento no Brasil a partir de um sistema de validação, refinamento e geração de laudos de alertas de desmatamento em todo o país.
Os sistemas de detecção incluem imagens de satélite diárias de alta resolução espacial de diversos sistemas de alertas (ex. DETER/INPE, SAD/Imazon, GLAD/UMD, SAD Caatinga, SAD Mata Atlântica, SAD Pantanal, SAD Pampa e SIRAD-X/ISA).
O RAD aponta que em 2022, foram 20.572 km² (2.057.251 ha) desmatados, isso significa que houve um aumento de 22,3% na área desmatada no Brasil em relação ao ano de 2021.
![Alertas de desmatamento pelo Brasil em 2022. Brasil em 2022 Alertas de desmatamento pelo Brasil em 2022. Fonte: RAD 2022 MapBiomas](https://apremavi.org.br/wp-content/uploads/2023/06/mapas-dos-alertas-de-desmatamento-no-brasil-em-2022.jpg)
Mapa dos alertas de desmatamento distribuídos ao longo dos biomas brasileiros em 2022. Fonte: RAD2022 MapBiomas
Por quê?
A principal causa do desmatamento apontada pelo relatório ao longo do Brasil é a agropecuária, que respondeu por quase 96% do desmatamento no Brasil em 2022, consolidando-se como o principal vetor de supressão de vegetação nativa, seguida de outros vetores como garimpo, mineração, causa natural, expansão urbana, dentre outros.
![Vetores de desmatamento mapbiomas Infográfico dos vetores (causas) de desmatamento distribuídos ao longo dos biomas brasileiros em 2022. Fonte: RAD2022 MapBiomas](https://apremavi.org.br/wp-content/uploads/2023/06/vetores-de-desmatamento-mapbiomas.jpg)
Infográfico dos vetores (causas) de desmatamento distribuídos ao longo dos biomas brasileiros em 2022. Fonte: RAD2022 MapBiomas
Onde?
Quando olhamos para os distintos recortes territoriais em todo Brasil, a maioria das áreas são privadas: 56,8% da área desmatada recaiu sobre áreas de domínio privadas, e mais 14,1% em assentamentos, 9,5% em terras públicas não destinadas.
Por outro lado, quilombos e terras indígenas e Unidades de Conservação são os mais conservados: 3,1% nas Unidades de Conservação, principalmente em UCs de Uso Sustentável, e TIs representaram 1,4% da área total.
Em relação as áreas privadas que foram desmatadas, 83% delas (1.729.099 ha) ocorreram em imóveis declarados no CAR. Quando considerado os últimos 4 anos, foram 212.884 imóveis rurais que tiveram alertas de desmatamento detectado.
Todos os biomas tiveram um aumento de área desmatada em Reserva Legal em 2022 em relação a 2021, com exceção do Cerrado. O número de alertas que têm sobreposição com Áreas de Preservação Permanente (APP) declaradas no CAR chegou a 9% (6.867 alertas) do total (em área 1,1%, 23.839 ha). Em todos os biomas, houve aumento da área desmatada em APPs em 2022 quando comparado a 2021.
Ranking de desmatamento por bioma:
- 1° Amazônia: 58% do total (1.192.635 ha) dos alertas;
- 2° Cerrado: 32,1% da área (659.670 ha);
- 3° Caatinga: 7% de área (140.637 ha);
- 4° Mata Atlântica: mesmo com a maior parte da sua área florestal desmatada, restando menos de 29% da sua cobertura florestal, na Mata Atlântica foram desmatados 30.012 ha, o que representa 1,5% da área total desmatada no país;
- 5° Pampa: apesar de responder pela menor área de alertas (0,2% do total), o Pampa teve um aumento de 27,2% na área desmatada de 2021 para 2022;
- 6° Pantanal: observou-se uma diminuição no número de alertas validados (-8,9%), mas um aumento de 4,4% na área desmatada entre 2021 e 2022.
Santa Catarina ocupa o 22° lugar no ranking do desmatamento em comparação com os demais Estados do Brasil em relação a sua área desmatada. Contudo, houve um aumento de 58% de área desmatada em 2022 em relação a 2021. Já em relação ao número de eventos de desmatamento, SC está em 15° lugar, com um aumento de 151% de eventos, em 2022 comparando com 2021. E segundo os dados do Atlas da Mata Atlântica, Santa Catarina ocupa, pelo quarto ano seguido, a lista dos Estados com índices recordes de desmatamento da Mata Atlântica.
Desmatamento ilegal
Quando analisadas as autorizações de supressão de vegetação registradas no SINAFLOR/IBAMA ou nos sistemas estaduais consultados descobriu-se o que já se imaginava que esses dados se tratam de desmatamento ilegal, pois 99% dos alertas de desmatamento (95% da área total desmatada) no Brasil não possuem autorização para tal.
E pior: a impunidade domina o desmatamento. As ações de autuação e embargo realizadas pelo IBAMA e ICMBio até maio de 2023 atingiram 2,4% dos alertas de desmatamento e 10,2% da área desmatada identificada de 2019 a 2022
Ações possíveis
O monitoramento do desmatamento é fundamental para prevenir, controlar e penalizar o desmatamento ilegal. Contudo,além de monitorar é primordial atacar a impunidade dos desmatadores, conforme apontado no relatório do MapBiomas “o risco de ser penalizado e responsabilizado pela supressão ilegal da vegetação nativa precisa ser real e devidamente percebido pelos infratores ambientais”. O cumprimento do Código Florestal e a fiscalização são medidas fundamentais para combater o desmatamento ilegal.
O relatório, ainda sugere três frentes de atuação em prol do combate ao desmatamento:
- garantir que todo desmatamento seja detectado e reportado;
- garantir que todo desmatamento reportado sendo de natureza ilegal receba ação para responsabilização e punição dos infratores (ex. autuações, embargo); e
- assegurar que o infrator não se beneficie da área desmatada ilegalmente e receba algum tipo de penalização (ex. suspensão do CAR, cancelamento de regularização fundiária, exclusão de cadeias produtivas).
![Resumo executivo RAD2022 MapBiomas Resumo executivo RAD2022 MapBiomas](https://apremavi.org.br/wp-content/uploads/2023/06/rad-resumo-1.jpg)
Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Carolina Schäffer.