Fonte de água para milhões
Mais do que um refúgio de biodiversidade, a Mata Atlântica é essencial para o abastecimento de água no Brasil. Suas nascentes, córregos, rios e aquíferos abastecem cerca de 100 milhões de pessoas, sustentando cidades, zonas rurais e ecossistemas.
O bioma abriga bacias hidrográficas estratégicas, como as dos rios Paraná, São Francisco, Doce, Tietê e Itajaí, fundamentais para o abastecimento urbano em diversas regiões do país.
A importância das áreas protegidas
Um estudo do WWF (2003) mostrou que mais de 30% das 105 maiores cidades do mundo dependem de unidades de conservação para seu abastecimento de água. No Brasil, cinco das seis capitais analisadas estão na Mata Atlântica e dependem diretamente dessas áreas: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza.
O relatório recomenda a criação de áreas protegidas ao redor de mananciais e o manejo adequado de áreas fora dessas zonas. Em locais como São Paulo, a ocupação desordenada próxima a represas como Billings e Guarapiranga dificulta a gestão hídrica e eleva os custos do abastecimento.
A floresta conservada é aliada da água
Estudos do Instituto Florestal de São Paulo revelam a forte relação entre a conservação da floresta e a produção de água limpa. Na região de Cunha (SP), por exemplo, cerca de 70% da chuva que cai na floresta abastece os rios de forma contínua, um índice superior ao observado até mesmo na Amazônia.
Isso ocorre porque a Mata Atlântica funciona como uma “esponja natural”: sua cobertura vegetal retém a água da chuva, filtra o solo, recarrega os lençóis freáticos e libera a água aos poucos, mantendo o regime hídrico permanente.
Além de conservar, é importante atuar na recuperação das áreas de mananciais das bacias hidrográficas, restaurando ecossistemas, pois a floresta ajudará a evitar ou reduzir a erosão, o assoreamento, filtrar as impurezas antes que cheguem à água e a promover a mitigação e a recuperação da biodiversidade.
A transição para uma agricultura sustentável que promova a produção sem comprometer os recursos hídricos também é fundamental.
Qualidade da água: um retrato preocupante
Apesar da importância dos rios da Mata Atlântica para o abastecimento e o equilíbrio ambiental, a qualidade dessas águas segue estagnada. O relatório Observando os Rios da SOS Mata Atlântica de 2024 analisou 112 rios e corpos d’água em 14 estados, com apoio de mais de 100 grupos voluntários.
Os dados revelam que:
- Apenas 7,6% dos pontos apresentaram qualidade boa;
- A maioria (75,2%) ficou na categoria regular;
- E quase 17% foram classificados como ruins ou péssimos.
Nenhum dos pontos monitorados alcançou a qualidade ótima e essa realidade se repete ano após ano.
Mesmo assim, cerca de 84% dos pontos analisados ainda podem ser usados para atividades como agricultura, abastecimento humano e lazer. Isso mostra que ainda há tempo para agir, mas a fragilidade dos rios da Mata Atlântica é um alerta claro: precisamos proteger nossas águas com mais urgência e efetividade.

Infográfico dos principais resultados do Observando os Rios de 2024. Créditos: SOS Mata Atlântica
A importância das matas ciliares
As matas ciliares, que crescem ao redor de rios, lagos e nascentes, são fundamentais para proteger os corpos d’água. Elas evitam a erosão, reduzem o assoreamento, ajudam a infiltrar a água no solo e são habitat de inúmeras espécies.
Infelizmente, muitas dessas áreas foram desmatadas ao longo dos anos. As consequências são sentidas com o aumento das secas, enchentes e da escassez hídrica. A recuperação das matas ciliares é uma medida urgente. As áreas nas margens de rios, lagos e nascentes onde ocorrem as matas ciliares são consideradas de preservação permanente pelo Código Florestal.
Na Apremavi, proteger a água é restaurar a floresta. Por isso, os projetos de restauração ecológica priorizam áreas de nascentes, margens de rios e zonas de recarga hídrica, promovendo a reconexão entre natureza e bem-estar humano.

Exemplo de matas ciliares ao redor de corpos d’água. Créditos: cartilha “Planejando Propriedades e Paisagens Sustentáveis” da Apremavi.
Rios Voadores: a água da Mata Atlântica vem da Amazônia
Os chamados rios voadores são massas de ar carregadas de vapor de água, originadas principalmente da evapotranspiração da Floresta Amazônica. Funcionam como “cursos de água atmosféricos”, transportando enormes volumes de umidade da Amazônia em direção ao Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, além de países vizinhos.
Esse fenômeno só é possível porque a floresta atua como uma verdadeira bomba d’água: absorve a umidade do Atlântico, transforma-a em chuva e devolve parte dela à atmosfera. Quando os ventos alíseos carregam esse vapor até os Andes, ele muda de rota e segue para o sul do continente. Estudos de cientistas como Antônio Nobre mostram que uma árvore amazônica pode liberar até mil litros de água por dia, demonstrando a importância da conservação da floresta para a manutenção do ciclo das chuvas e da estabilidade climática em grande parte da América do Sul.

Como a floresta faz chover. Créditos: Árvore Água