Mico-leão-dourado, uma história bem-sucedida de conservação
Provavelmente, você nunca viu um mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) na natureza, mas já deve ter visto ele estampado a cédula de vinte reais. A espécie está ameaçada de extinção e vive nas florestas de baixadas litorâneas da Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro. Especificamente na bacia do rio São João, nos municípios de Casimiro de Abreu, Silva Jardim, Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu, Araruama, Rio das Ostras, Cabo Frio e Macaé.
Nem sempre foi assim, historicamente a espécie habitava todo litoral do Rio de Janeiro. Séculos de desmatamento, caça e tráfico, entretanto, fizeram com que na década de 1970, sua população estivesse reduzida a menos de 200 indivíduos. Dentre as ameaças, é possível citar a fragmentação do habitat em decorrência do desmatamento da Mata Atlântica como principal. A competição por recursos por espécies invasoras de saguis (Callithrix jacchus e Callithrix penicillata) também ameaça o mico, além do tráfico e da caça.
Uma história bem-sucedida de conservação
Com o objetivo de conservar a espécie, em 1974 foi criada a Reserva Biológica de Poço das Antas para proteger a maior população em vida livre de micos-leões-dourados que existia na época. Os trabalhos de pesquisas e educação ambiental passaram a fazer com que ela fosse conhecida nacionalmente e internacionalmente.
Desde 1992, os esforços para aumentar a quantidade de animais na natureza e reduzir as suas ameaças são liderados pela Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD). A implantação de corredores florestais para conectar fragmentos de remanescentes de Mata Atlântica existentes na região é uma das principais estratégias da Associação, tanto é que em 2020, por orientações da AMLD, foi construído o primeiro viaduto vegetado em rodovias federais do Brasil, que permite a conexão entre a Reserva Biológica de Poço das Antas ao local onde hoje é a sede da Associação Mico-Leão-Dourado e o Parque Ecológico do Mico-Leão-Dourado.
Todos estes esforços permitiram que as populações de micos na natureza se recuperassem e chegassem a cerca de 3.700 indivíduos. Entretanto, entre 2016 e 2017, um surto de febre amarela dizimou 1/3 das populações da espécie. Para enfrentar isso, houve o desenvolvimento de uma vacina com esforços da AMLD e da Fiocruz Bio-Manguinhos, que contou com a participação de diversas instituições como o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ), a Universidade Estadual Norte Fluminense e o CPB/ICMBio e Centro Brasileiro de Pesquisa e Conservação de Primatas do ICMBio. Até o final de setembro de 2022 a iniciativa já imunizou mais de 300 micos. Confira o documentário produzido pela AMLD sobre a iniciativa.
Importância da restauração florestal
A conexão entre as florestas presentes na Mata Atlântica é fundamental para a sobrevivência da espécie. Segundo consta no site da AMLD, “O maior desafio agora é garantir a proteção e conexão das florestas nessa região onde vive o mico. Além da restauração florestal, com plantio de mudas nativas da Mata Atlântica e corredores florestais, a AMLD desenvolve programas de educação ambiental na região”. A Associação, assim como a Apremavi, é uma das unidades regionais do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, em prol justamente da recuperação das florestas não apenas no habitat do mico-leão-dourado, mas em todo o Brasil.
Registros de mico-leão-dourado em vida livre. Fotos: Wigold Schäffer e Carolina Schäffer
Mico-leão-dourado
Nome científico: Leontopithecus rosalia
Família: Callitrichidae
Habitat: Florestas de até 500m de altura, endêmico da Mata Atlântica de baixada costeira do estado do Rio de Janeiro
Alimentação: Onívoros (se alimentam de animais invertebrados como insetos, pequenos vertebrados e frutos)
Peso: 500g a 700g (estimado)
Comprimento: 22 a 30cm
Hábito de vida: monogâmicos e cooperativos
Distribuição: Mata Atlântica (estado do Rio de Janeiro)
Ameaças: tráfico e a caça, fragmentação do habitat, doenças como a febre amarela e espécies invasoras
Status de conservação: Em Perigo de extinção segundo o ICMBio
Fontes consultadas:
RAMBALDI, Denise Marçal. Mico Leão Dourado: uma bandeira para proteção da Mata Atlântica. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2002.
Autores: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Duda Menegassi e Carolina Schäffer.