Palmito-juçara, o açaí da Mata Atlântica

23 jun, 2009 | Guia de Espécies

O palmito-juçara (Euterpe edulis) é uma das palmeiras mais características da Mata Atlântica, sendo também o local onde ela tem sua maior ocorrência. Aparece também em algumas áreas no cerrado, perto dos cursos dos rios e das matas úmidas. Essas palmeiras desempenham um papel essencial para a manutenção do ecossistema, uma vez que são vitais para a fauna e ocupam lugar de destaque no sub-bosque.

As palmeiras em geral compreendem um grupo de plantas de grande importância econômica e ornamental, pois podem fornecer cocos, tâmaras, palmito, açúcar, sagu, óleo, cera, fibras e material para a construção de habitações rústicas. Dentre as espécies de sua família, o palmiteiro, é uma das mais importantes sob todos os aspectos. Infelizmente a situação atual das populações naturais dessa espécie é de grande fragmentação e uma reduzida área de ocorrência e, apesar de todo seu potencial de regeneração ou recuperação em áreas naturais, a super-exploração dificulta sua recomposição.

O fato de ter sido explorado ao extremo para a retirada do palmito (cabeça do estipe utilizada em conservas e in natura), que é de altíssima qualidade, fez com que a espécie fosse parar nas listas das espécies ameaçadas de extinção. Diferentemente do açaí, o palmito juçara quando cortado, não rebrota, por isso a sua exploração extrema o levou a essa condição de ameaça. Com o advento da Lei da Mata Atlântica (11.428/2006) o seu corte e manejo está proibido, sendo possível sua exploração somente através de plantios, que podem ser feitos através do enriquecimento ecológico de florestas secundárias, conforme o decreto 6.660 de 2008, ou através de sua utilização em Sistemas Agroflorestais.

O seu efetivo plantio nos sub-bosques da Mata Atlântica pode fazer com que ele saia da lista de espécies ameaçadas de extinção. Infelizmente o palmiteiro ainda hoje tem sido explorado ilegalmente. A ação mais comuns é o roubo do palmito e beneficiamento (fabricação da conserva) na própria floresta, com posterior comercialização, também ilegal, o que coloca em risco inclusive a saúde humana de quem consome um produto dessa natureza. O consumidor tem um papel fundamental no controle desse crime ambiental, consumindo apenas produtos que tenham sua origem certificada.

Considerando a prática do uso sustentável em áreas de palmiteiros plantados, é possível a geração de renda significativa nas propriedades rurais. Além do “palmito” outro produto obtido do palmiteiro é o suco dos frutos, conhecido como polpa de açaí. Está comprovado que a polpa do palmito-juçara é tão saboroso quanto o do palmito-açaí (Euterpe oleraceae Mart.), de ocorrência mais ao norte do Brasil, e tradicionalmente conhecido como vinho de açaí. Confira a receita de polpa de juçara abaixo.

Essa espécie tem também outros atrativos como sua madeira leve, resistente e durável (longe da umidade), muito usada como ripas no telhado das casas do interior do país. Além disso é uma espécie muito ornamental, usada para ajardinamentos.

Detalhes do sub-bosque e do fruto de palmito-juçara. Foto: Carolina Schäffer.

Palmito-juçara

Nome científicoEuterpe edulis Mart.
Família: Arecaceae.
Utilização: madeira pouco utilizada, mas podendo-se fazer ripas, calhas para água e fabricação de compensado e celulose. Sua principal finalidade econômica é a cabeça do estipe, chamada de palmito, que é muito consumida em conserva, podendo ser consumida in natura também. Seus frutos são muito apreciados por animais, principalmente aves, sendo um dos seus principais consumidores os tucanos (Ramphastidae). Da polpa dos frutos também se faz suco.
Coleta de sementes: diretamente da árvore.
Época de coleta de sementes: outubro a janeiro.
Fruto: coquinhos roxo-escuro, quase pretos, dispostos em cachos, com aproximadamente 2cm cada fruto.
Época de colheita de frutos: abril a agosto.
Germinação: normal.
Flor: amarela disposta em ramos abaixo da copa.
Plantio: sub-bosque, áreas sombreadas, enriquecimento e regeneração de florestas secundárias.
Observação: os frutos deverão ficar imersos em água por três ou quatro dias e depois despolpados. A semeadura desta espécie é feita através de pré germinação em canteiros com serragem.
Status de conservação: Vulnerável segundo a Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção publicada em 2022 pelo MMA

Receita para lá de especial

Polpa do fruto palmiteiro

Os frutos estão maduros quando começarem a cair sozinhos. Colha as hastes e retire os frutos selecionando e retirando os verdes ou estragados, em seguida abane numa peneira para retirar a sujeira. Coloque os frutos selecionados dentro de um recipiente e lave-os com água corrente.

Em seguida encha o recipiente com água potável até cobrir totalmente os frutos e deixe descansar até a casca e a polpa começarem a soltar esfregando os frutos no dedo.

Se quiser acelerar o processo, deixe os frutos imersos em água morna (quanto maior a temperatura, mais rápido a polpa se solta).

Com um pilão (ou pedaço de madeira) aperte os frutos contra o fundo do recipiente. A polpa irá se soltar formando um caldo grosso e os frutos começarão a ficar claros. Pode-se acrescentar um pouco mais de água para afinar a polpa. Passe o caldo por uma peneira bem grossa para retirar as sementes. Peneire novamente o caldo numa peneira fina para a retirada da casca exterior. Coloque a polpa dentro de sacos plásticos.

Depois de passar pela peneira fina ele está pronto para consumir como suco, podendo se adicionar um pouco mais de água e adoçar a gosto. Se consumir como polpa, como o açaí na tigela, congele a polpa e depois bata com banana, guaraná em xarope ou mel.

As sementes que foram separadas da polpa podem ser utilizadas para o plantio.

Fontes consultadas

ALVES, M.R.P.; DEMATTÊ, M.E.S.P. Palmeiras: características botânicas e evolução. Campinas: Fundação Cargill, 1987. 129p.

LORENZI, H. Palmeiras Brasileiras e Exóticas Cultivadas. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2004.

PROCHNOW, M (org). No Jardim das Florestas. Rio do Sul: APREMAVI, 2007. 188p.

Autores: Geraldine Marques Maiochi, Leandro Casanova e Tatiana Arruda Correia.
Colaboração: Miriam Prochnow.

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