Parque Nacional das Araucárias completa 20 anos de existência

20 out, 2025

Há 20 anos, em 19 de outubro de 2005, foi criado o Parque Nacional das Araucárias (PARNA das Araucárias). Criado por decreto federal, o Parque abrange 12.841 hectares distribuídos entre os municípios de Ponte Serrada e Passos Maia, no Oeste Catarinense, e conserva um dos últimos grandes remanescentes de Floresta Ombrófila Mista do estado.

Sua criação foi resultado de um amplo trabalho coletivo que envolveu o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o governo estadual, prefeituras, universidades e organizações da sociedade civil, entre elas a Apremavi. O objetivo foi garantir a conservação dos ecossistemas e da biodiversidade da região, ameaçada pela fragmentação e pela ação humana.

 

Um refúgio de biodiversidade

Logo nos primeiros anos, o PARNA das Araucárias se revelou muito importante para a biodiversidade. Levantamentos realizados em 2008 pela Apremavi registraram 26 espécies de anfíbios, 204 espécies de aves e 27 espécies de mamíferos de médio e grande porte, incluindo espécies ameaçadas de extinção, entre elas o puma (Puma concolor), o gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) e o veado-poca (Mazama nana).

Espécies emblemáticas, como o pica-pau-de-cara-canela (Dryocopus galeatus) e o macuco (Tinamus solitarius), também encontram abrigo nos limites do parque, que também abriga as nascentes dos rios que formam a bacia do rio Chapecó.

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O papel da Apremavi na criação e consolidação

Após a criação do Parque, a Apremavi liderou uma série de projetos voltados à estruturação da UC e ao engajamento comunitário. “Após o processo de criação, em 2005, a Apremavi teve projetos aprovados e iniciamos um trabalho de envolvimento da comunidade. Trabalhamos com a formação dos conselhos consultivos e envolvemos diversos setores da sociedade, para que as pessoas tivessem acesso às Unidades de Conservação e também desmistificar um pouco o processo de sua criação”, relata Edilaine Dick, coordenadora de projetos da Apremavi.

Esses conselhos se tornaram espaços fundamentais de participação social e orientação da gestão das UCs. A Apremavi também foi responsável pela elaboração do Plano de Manejo, entre 2007 e 2010. “No Plano de Manejo realizamos o levantamento de fauna e flora e identificamos potenciais turísticos, o que culminou na elaboração de um documento que, até hoje, serve como guia para orientar as atividades do ICMBio”, complementa Edilaine.

Além disso, a Apremavi conduziu projetos de restauração ecológica em áreas da zona de amortecimento, envolvendo agricultores locais na recuperação de áreas alteradas e melhoria da qualidade ambiental das propriedades.

Cachoeira do Parque Nacional das Araucárias

Registros da paisagem do Parque Nacional das Araucárias e ações realizadas pela Apremavi desde 2005. Fotos: Arquivo Apremavi e Thamara Santos de Almeida

Papagaio-de-peito-roxo: o embaixador do Parque

Uma das ações mais importantes ao longo desses 20 anos é a reintrodução do papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), espécie endêmica da Mata Atlântica que havia sido extinta localmente. O trabalho representa um caso de sucesso de conservação da biodiversidade  no Sul do Brasil, conforme nos conta a pesquisadora líder do trabalho: “o que começou apenas como uma tentativa acabou crescendo. Conseguimos reverter uma extinção local e contribuir para a implementação da Unidade de Conservação e para a conservação da espécie”, relata Vanessa Kanaan, fundadora do Instituto Fauna Brasil.

“Antes, era comum ver papagaios em gaiolas. Hoje, isso praticamente não acontece mais em Passos Maia. A população passou a ver o papagaio-de-peito-roxo como um símbolo do Parque.” Com 15 anos de existência, o projeto já realizou mais de uma dezena de solturas e desenvolve tecnologias inovadoras, como monitoramento por bioacústica e drones termais, além de ações de educação ambiental e ciência cidadã com escolas e moradores locais.

“O papagaio-de-peito-roxo se tornou um embaixador da conservação. A comunidade o adotou como símbolo, e, a partir dele, as pessoas começaram a reparar em outras espécies e aspectos da natureza ao redor”, reforça Vanessa.

Papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) espécie ameaçada e reintroduzida no Parque Nacional das Araucárias

Ações de soltura e monitoramento do papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) no Parque Nacional das Araucárias pelo Instituto Fauna Brasil. Créditos: Vanessa Kanaan (Instituto Fauna Brasil) e Gabriel Brutti.

O olhar dos pesquisadores e moradores locais

Moradora local de Ponte Serrada, a bióloga Alini Guinzelli Bortolaz se envolveu com o PARNA das Araucárias  em 2017, como voluntária do Instituto Fauna Brasil, e hoje atua como analista ambiental e guia de observação de aves.

“Com a criação do Parque, muitas aves ameaçadas tiveram uma nova chance de reprodução e alimentação. A importância é enorme para a conservação de espécies que não ocorrem em outro lugar. É também um espaço privilegiado para a observação de aves e turismo de natureza”, afirma Alini. Ela também apoia a pesquisa de monitoramento de outros grupos da fauna no parque, como os mamíferos.

 

Alini Bortolaz, analista ambiental da UC, apoiando o monitoramento de mamíferos no Parque Nacional das Araucárias

Alini Bortolaz, analista ambiental da UC, apoiando o monitoramento de mamíferos no PARNA das Araucárias. Foto: Thamara Santos de Almeida.

Gestão e importância da UC

Segundo Fábio de Almeida Abreu, gestor do PARNA das Araucárias, o Parque é hoje um modelo de integração entre a conservação e a comunidade local. “O Parque representa o maior fragmento de Floresta com Araucárias do oeste de Santa Catarina. Sua criação tem como objetivo proteger esse ecossistema e sua rica fauna e flora. Abriga espécies que dependem desse território para sobreviver, como o puma, o veado e o papagaio-de-peito-roxo”, comenta Fábio.

A gestão é feita pelo Núcleo de Gestão Integrada (NGI Palmas) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que administra outras duas Unidades de Conservação. A equipe é composta majoritariamente por profissionais da própria região, fortalecendo o vínculo comunitário. “Recentemente ampliamos nossa equipe, o que possibilitou uma presença constante no Parque e o avanço no processo de aquisição de novas áreas. Temos recebido um número crescente de estudantes e visitantes, e evoluímos significativamente na educação ambiental, na comunicação e nas parcerias com prefeituras, ONGs e instituições de pesquisa nesses 20 anos”, explica Fábio.

Ele ainda relata que essas duas décadas de existência demonstram que os objetivos do PARNA estão sendo cumpridos: “os objetivos definidos pela legislação estão sendo cumpridos: proteção territorial, conservação da biodiversidade, promoção da educação ambiental e manutenção dos serviços ecossistêmicos.”

> Saiba mais sobre o Parque

 

Equipe Apremavi, analistas ambientais e gestores do Parque Nacional das Araucárias

Equipe Apremavi, analistas ambientais e gestores do Parque Nacional das Araucárias em julho de 2025. Foto: Thamara Santos de Almeida.

Autora: Thamara Santos de Almeida
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto e Carolina Schäffer
Foto de capa: Thamara Santos de Almeida

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