Parques e ambientalistas novamente sob ataque em SC

5 jul, 2022 | #AtivismoSIM, Notícias, Parques e UCs

Os tempos sombrios parecem não ter fim. Ainda estamos impactados com o recente assassinato de Bruno e Dom, a vandalização da estátua de Chico Mendes e todas as questões relacionadas à destruição da Amazônia e nos deparamos com novos ataques a ambientalistas e parques em Santa Catarina.

No dia 28 de junho de 2022, Germano Woehl e Elza Nishimura Woehl foram vítimas de um atentado, com disparos de arma de fogo contra a sua residência, na cidade de Guaramirim. O casal de ambientalistas criou e mantém várias Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) na cidade de Guaramirim e em Itaiópolis. Enquanto isso, em Palhoça, a prefeitura está querendo implantar uma rodovia na área do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e, na região de Blumenau, iniciativas visam mudar a categoria do Parque Nacional da Serra do Itajaí.

Ao mesmo tempo em que manifesta sua solidariedade ao casal de ambientalistas, esperando uma ação urgente para que os culpados sejam punidos, a Apremavi se junta aos movimentos em defesa dos parques acima citados, e tantos outros, cuja manutenção é fundamental para a qualidade de vida de todas as espécies.

Entenda os casos e participe das mobilizações.

Casal de Ambientalistas sofre atentado

Confira a íntegra do relato escrito por Germano Woehl e compartilhado nas redes sociais. Germano e sua esposa, Elza Woehl, foram vítimas de um atentado no dia 28/06. Ambos são ambientalistas, proprietários da RPPN Santuário Rã-bugio, onde desenvolvem projetos em busca da proteção de áreas remanescentes da Mata Atlântica, e também ajudam no monitoramento de tais regiões, alertando e denunciando crimes ambientais.

 

“Sofremos um atentado na última terça-feira, 28/06/2022, por volta das 19h30min. Um motoqueiro parou na estrada em frente de nossa casa em Guaramirim (SC) na RPPN Santuário Rã-bugio e efetuou 3 disparos de arma de fogo, espingarda cano curto calibre 12, contra nossa residência. A PM foi acionada e chegou minutos depois e fez a inspeção. O primeiro tiro foi contra a placa da RPPN (que só vimos no dia seguinte). Outros dois tiros foram em nossa residência, a 25 metros de distância da estrada. Foram usados diferentes tipos de munição. Um tiro de um único balote acertou a parede da casa a alguns centímetros da porta e fez um buraco de 3 cm. Outro tiro, a munição continha 7 balotes que atravessaram a porta veneziana da garagem, ricochetearam na parede interna, estilhaçando a vidraça da porta interna e entraram na sala de jantar, atingindo exatamente o local da mesa onde eu fico durante horas usando o computador. Dois desses balotes ficaram incrustados na madeira e outros 5 foram encontrados pela PM espalhados pela sala.

A PM encontrou as duas cápsulas deflagradas em frente da nossa casa. Por sorte, a Elza (minha esposa) estava no piso superior da casa e nada sofreu, mas ficou em pânico e está muito traumatizada até agora. Quando escuta barulho de moto se aproximando, corre em busca de abrigo e o som estrondoso dos tiros não lhe sai da cabeça. Eu não estava em casa, viajei para Itaiópolis naquele dia e essa foi minha sorte, porque senão eu estaria na linha de tiro dos 7 balotes. Vizinhos ajudaram a acionar a PM e o vizinho de frente viu a moto de trilha barulhenta saindo meio cambaleando”.

 

Nota da Rede de ONGs da Mata Atlântica

Diversas entidades ambientalistas se manifestaram sobre mais esse atentando ao ativismo socioambiental. Confira a nota publicada pela Rede de ONGs da Mata Atlântica, da qual a Apremavi é integrante.

 

No dia 28 de junho de 2022 Germano Woehl e Elza Nishimura Woehl foram vítimas de um atentado, com disparos de arma de fogo contra a residência do casal na cidade de Guaramirim, Santa Catarina. Germano e Elza são ambientalistas, proprietários da RPPN Santuário Rã-bugio. Por meio de programas de educação ambiental desenvolvem diversos projetos que visam a proteção dos remanescentes de Mata Atlântica que, apesar de reduzidos, ainda resguardam uma das mais ricas biodiversidades do planeta e fornecem serviços ambientais indispensáveis para a população.

Como ambientalistas ativistas Elza e Germano também ajudam no monitoramento dos remanescentes de Mata Atlântica, alertando e promovendo denúncias de crimes ambientais. Por certo a insatisfação dos predadores da floresta com o trabalho do casal está na raiz da motivação de mais este atentado. Importante destacar que esse não é o primeiro que eles sofrem. Felizmente o casal não foi atingido; Germano estava fora de casa e Elza no piso superior da casa, que não foi atingido pelos disparos. Acionada a Policia Militar fez rondas pelos arredores, encontrou cápsulas de munição calibre 12, porém não mais localizou o autor dos disparos que, segundo relatos de vizinhos, se evadiu numa motocicleta.

A Rede de ONGs da Mata Atlântica – RMA externa sua total e irrestrita solidariedade ao casal Elza e Germano, repudiando de maneira veemente mais esse intolerável episódio, clamando que todos os esforços sejam envidados para a devida apuração e punição dos autores desse atentado. Não podemos mais tolerar que este cenário, de absoluta insegurança e risco àqueles que se dedicam à defesa do meio ambiente e dos interesses difusos da coletividade, se perpetue. É preciso dar um basta definitivo nesse quadro lastimável, coibindo de forma exemplar esses atentados através da rigorosa e ágil apuração de responsabilidade e aplicação da punição legal prevista.

 

Rodovia quer cortar a restinga do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro

A Prefeitura de Palhoça e o Governo de Santa Catarina estão iniciando uma obra para implantar uma rodovia com duas faixas de pista dupla onde hoje passa a Estrada do Espanhol, uma via de chão batido dentro dos limites físicos do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, possibilitando tráfego intenso numa área com baixo trânsito, que atualmente não afeta nem expõe a risco a fauna e a flora daquele local. É praticamente uma “BR 101” rasgando a restinga do parque, onde ainda existem exemplares de espécies nativas ameaçadas de extinção.

O que causa ainda maior espanto é que a obra está sendo feita sem consulta à comunidade e sem licenciamento ambiental prévio. Segundo o Art. 28 do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, “são proibidas, nas UCs, quaisquer alterações, atividades ou modalidades de utilização em desacordo com os seus objetivos, o seu Plano de Manejo e seus regulamentos”.

As mobilizações para parar esse descalabro já estão acontecendo. No dia 03 de julho a população local da Comunidade da Baixada do Maciambu fez uma manifestação em prol do Parque. Também já houve uma reunião com o Ministério Público de Santa Catarina.

 

Depoimento de João de Deus Medeiros, coordenador da RMA, na mobilização do último dia 03/07. Crédito: Arquivo RMA.

A construção de uma rodovia para tomar o lugar da atual Estrada do Espanhol, uma via de chão batido que passa pelo Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, deverá ser precedida de estudos para mitigar possíveis danos ambientais. Segundo o Promotor de Justiça José Eduardo Cardoso, há risco iminente de que a obra, que é anunciada como o principal acesso à Praia da Pinheira, possa impactar diretamente na área situada no interior da Unidade de Conservação Estadual classificada no grupo de proteção integral e uso indireto.

O Ministério Público propôs a realização dos estudos de impacto ambiental para o afastamento de riscos de danos ambientais, bem como a previsão de medidas mitigatórias e compensatórias cabíveis – como a implantação de corredores ecológicos -, a exemplo do que sucedeu por ocasião da duplicação da Rodovia BR 101, naquela mesma região.

Na reunião, realizada no dia 01 de julho, houve o consenso entre o Ministério Público e os representantes do IMA e da Prefeitura de Palhoça quanto à necessidade da realização dos estudos ambientais antes da concessão das licenças necessárias para obra, inclusive para verificar se o local é a melhor alternativa para a implantação do novo acesso à Praia da Pinheira.

O Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, com 84.130 hectares, é a maior unidade de conservação de Santa Catarina. Foi criado em 1975 com base nos estudos científicos do botânico Pe. Raulino Reitz e do botânico e ecologista Roberto Miguel Klein, com o objetivo de proteger a rica biodiversidade e os mananciais hídricos da região. O Parque ocupa cerca de 1% do território catarinense, com áreas dos municípios de Florianópolis, Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz, Águas Mornas, São Bonifácio, São Martinho, Imaruí, Paulo Lopes e Garopaba. E as ilhas do Siriú, dos Cardos, do Largo, do Andrade e do Coral, e os arquipélagos das Três Irmãs e Moleques do Sul.

Aspectos da paisagem do Parque Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e registros da mobilização realizada em 03/07. Fotos: João de Deus Medeiros e Miriam Prochnow.

Proposta pretende mudar categoria do Parque Nacional da Serra do Itajaí

O Parque Nacional da Serra do Itajaí está sofrendo uma forte ameaça por parte de parlamentares catarinenses. A iniciativa pretende mudar a categoria do parque para Floresta Nacional (FLONA). Não há qualquer justificativa minimamente plausível para essa modificação.

A frente da iniciativa estão o Deputado Estadual Ivan Naatz (PL), que organizou uma audiência pública em Blumenau, no dia 29 de junho, para apresentar a proposta, e o Deputado Federal Darci de Matos (PSD), que já protocolou um projeto de lei com o mesmo teor.

O Parque Nacional da Serra do Itajaí, criado em 2004, tem 57 mil hectares distribuído por nove municípios da chamada região do Vale Europeu: Blumenau, Ascurra, Apiúna,, Botuverá, Gaspar, Guabiruba, Indaial, Presidente Nereu e Vidal Ramos. É uma unidade de conservação de proteção integral, sob gestão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

O Parque abriga mais de 500 espécies de árvores e arbustos, 350 espécies de aves e mamíferos, algumas delas ameaçadas de extinção, que necessitam de proteção contra exploradores e caçadores, e que ali encontram local propício para sua reprodução e vivência, podendo aumentar suas populações e recolonizar áreas degradadas e pobres em vida silvestre. A floresta do parque representa um dos melhores remanescentes da Mata Atlântica do estado de Santa Catarina. É também uma área importantíssima de recursos hídricos, para o abastecimento da população do vale do Itajaí.

A mudança de categoria da UC representa um grande retrocesso, com interesses exclusivamente destrutivos, e precisa ser impedido. Um abaixo-assinado contra a proposta foi articulado pela Associação Catarinense de Preservação da Natureza (ACAPRENA). Confira:

Sou contra o fim do PARQUE NACIONAL DA SERRA DO ITAJAÍ (57 mil hectares de Mata Atlântica) e DEFENDO o PARQUE NACIONAL como a forma mais adequada de PROTEGER os mananciais fornecedores de água de Classe UM para dezenas de municípios de Santa Catarina, o turismo e a biodiversidade e apoio a justa INDENIZAÇÃO dos proprietários.

Aspectos da paisagem do Parque Nacional da Serra do Itajaí.
Fotos:  Miriam Prochnow e Heinz Beyer.

Autora: Miriam Prochnow
Revisão: Carolina Schäffer e Vitor L. Zanelatto

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