Plano de Manejo: uma oportunidade de geração de conhecimento sobre a biodiversidade

23 ago, 2024 | Notícias

Apesar do Brasil ser um dos países com maior biodiversidade no mundo, existem diversas lacunas de conhecimento e de geração de dados científicos. Dentro dessa perspectiva, é comum que os pesquisadores coletem dados em regiões que já foram amostradas anteriormente.

Um estudo publicado recentemente na revista Science of the Total Environment por 189 pesquisadores brasileiros compreender as lacunas de dados coletados ao longo de 20 anos no âmbito de programas de pesquisa sobre a biodiversidade: PPBio (Programa de Pesquisa em Biodiversidade) e PELD (Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração).

A pesquisa revelou uma distribuição desigual das pesquisas entre os biomas brasileiros, com a Caatinga e o Cerrado destacando-se como um dos mais subamostrados, embora nenhum bioma tenha sido suficientemente estudado. A maioria dos dados coletados foi sobre vertebrados, seguidos por plantas, invertebrados e fungos. Essa concentração em poucos grupos taxonômicos e áreas específicas reflete um viés geográfico e taxonômico na pesquisa, exacerbando as lacunas de conhecimento. Além disso, a baixa disponibilidade de dados para a comunidade científica limita a capacidade de tomada de decisão e a efetividade das políticas de conservação.

Uma possibilidade importante na geração de conhecimento sobre a biodiversidade brasileira é o desenvolvimento do Plano de Manejo em Unidades de Conservação. Uma das etapas da elaboração deste documento envolve o diagnóstico da biodiversidade presente naquela área protegida. Além disso, áreas sem Planos de Manejo são frequentemente negligenciadas, o que pode resultar em menor proteção para espécies ameaçadas. 

As UCs que contam com o documento podem ter até duas vezes mais espécies registradas. É o que aponta um estudo publicado por pesquisadores brasileiros na revista Biodiversity and Conservation. Essa produção de conhecimento ocorre justamente porque elas atraem mais estudos científicos e recursos financeiros, contribuindo para um conhecimento mais abrangente da biodiversidade.

A Apremavi em parceria com a The Vita Coco Company está concluindo o processo de revisão do Plano de Manejo do Parque Municipal da Mata Atlântica em Atalanta (SC). Uma das etapas foi justamente o diagnóstico da UC, onde foram conduzidos estudos sobre a biodiversidade do Parque com foco nos grupos de aves, mamíferos, plantas, anfíbios e répteis. Durante esse processo, registramos novas espécies ameaçadas para a região, além de outras espécies que ainda não tinham a ocorrência confirmada. Com a publicação do novo plano no próximo semestre, espera-se não apenas fortalecer a Unidade de Conservação, mas também oferecer contribuições para a geração de conhecimento sobre a biodiversidade brasileira, ajudando a preencher as lacunas de conhecimento que ainda persistem.

Os Planos de Manejo se destacam como uma ferramenta para superar as barreiras de conhecimento acerca da biodiversidade. Ao priorizar o desenvolvimento e a implementação deles, especialmente em regiões e biomas subamostrados, podemos contribuir significativamente para a conservação da biodiversidade e a criação de políticas públicas alinhadas à ciência.

 

Fontes consultadas:

Carrillo, A. C. (2013). Lições aprendidas sobre a etapa de planejamento em planos de manejo de UC.

Guimaraes, A. F., Querido, L. C. A., Rocha, T., Rodrigues, D. J., Viana, P. L., Bergallo, H. G., … & Dala-Corte, R. B. (2024). Disentangling the veil line for Brazilian biodiversity: An overview from two long-term research programs reveals huge gaps in ecological data reporting. Science of The Total Environment, 174880.

Santos, G. S., Moreira, D. O., Loss, A. C., & Garbin, M. L. (2024). Management plans bias the number of threatened species in protected areas: a study case with flora species in the Atlantic Forest. Biodiversity and Conservation, 33(2), 843-858.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Foto de capa: Wigold Schäffer.

Pin It on Pinterest