SEEG destaca retrocesso climático, mas aponta oportunidade de desmatamento zero até 2030
Os últimos quatro anos no Brasil deixaram um legado climático de retrocesso. Apenas se o Brasil realizar sua promessa de zerar o desmatamento até 2030 será possível cumprir as metas do país no Acordo de Paris.
No dia 23 de novembro foi lançada a nova coleção do SEEG, o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima. A 11ª edição do relatório evidencia que em 2022 o Brasil emitiu 2,3 bilhões de toneladas brutas de gases de efeito estufa, o que representa uma queda de 8% nas emissões brutas em relação a 2021, quando a emissão bruta foi de 2,5 bilhões de toneladas.
Apesar disso, essa quantidade foi a terceira maior desde 2005, ficando atrás dos demais anos (2019 e 2021) do governo Bolsonaro. O relatório mediu nesta edição o legado climático catastrófico e de retrocesso deste governo, onde o país emitiu 9,4 bilhões de toneladas brutas de gases de efeito estufa no período, retornando ao patamar de emissões de governos como o segundo de FHC, entre 1998 e 2002 (9,8 bilhões), anulando as conquistas da segunda passagem de Lula pelo Planalto, entre 2007 e 2010 (7,6 bilhões) e a primeira gestão de Dilma entre 2011 e 2014 (7,7 bilhões).
Emissões brutas por mandato presidencial entre os anos de 1991 a 2022. Créditos: SEEG do Observatório do Clima
O SEEG estima emissões nos cinco setores que são fontes de gases de efeito estufa no Brasil – Agropecuária, Energia, Mudanças de Uso da Terra, Processos Industriais e Resíduos. A destruição dos biomas novamente é a responsável por esse grande número de emissões, principalmente o desmatamento na Amazônia, que sozinho responde por 36% das emissões brutas do país. Não fosse pelas mudanças de uso da terra, as emissões per capita brasileiras seriam de 5,9 toneladas, dentro da média mundial.
O relatório destaca que o Brasil precisa ampliar seus esforços para diminuir esse aumento das emissões ao longo dos últimos anos, cumprindo sua meta de redução de gases de efeito estufa no Acordo de Paris em 2025 (NDC). Para isso, será preciso reduzir o desmatamento em 49% na Amazônia entre 2022 e 2025, o equivalente à média dos anos de devastação mais baixa do país (2009 a 2012).
Confira a live de lançamento do relatório:
Em 2022, durante a COP27, Lula prometeu “não medir esforços para zerar o desmatamento e a degradação de nossos biomas até 2030”. Caso essa promessa seja cumprida, o país cumpriria com muita folga o acordo, o que mostra que ainda há muito espaço para aumento da ambição climática do país nos sete anos críticos para o atingimento do objetivo de estabilizar o aquecimento global em 1,5ºC. Para isso, é primordial que o governo continue e intensifique as ações de prevenção e controle do desmatamento enquanto implementa as medidas imediatas nos demais setores e elabora o planejamento e as ações preparatórias para mudanças estruturais neles, essenciais para colocar o país numa trajetória de emissões líquidas negativas em 2045.
“O que os dados do SEEG mostram é que há muito espaço para aumento da ambição climática do Brasil. E, se o governo estiver falando sério sobre ser o grande defensor da meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5ºC acima da média pré-industrial, terá de aumentar a ambição da NDC atual já para 2030, como todos os grandes emissores precisam fazer”, disse David Tsai, coordenador do SEEG.
A plataforma ainda deverá disponibilizar nos próximos dias dados detalhados dos gases de efeito estufa no Brasil por setores, estados e municípios e por atividade econômica, bem como recursos como infográficos, soluções de mitigação por município e tabela de dados.
> Confira o relatório na íntegra
O SEEG
O Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) é uma iniciativa do Observatório do Clima que realiza estimativas anuais das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, disponibilizando esses dados em forma de documentos analíticos sobre a evolução das emissões e uma plataforma digital que abriga os dados do sistema e sua metodologia.
Autora: Thamara Santos de Almeida com informações do Observatório do Clima.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto e Carolina Schäffer.
Foto de capa: Carolina Schäffer.