Soberania alimentar e economia solidária: Xica da Silva
“A economia solidária é a porta de entrada e também a saída para quem quer uma vida melhor. Um outro mundo é possível”
Francisca Maria da Silva, a Xica da Silva, é chefe de cozinha e ativista pela economia solidária. Natural de Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte, ela atua em movimentos sociais, com foco no enfrentamento à violência contra a mulher, soberania alimentar e no direito à terra. Ainda jovem, ela trabalhou em cultivos de cana-de-açúcar, café e amendoim; observou a transformação de alimentos em produtos, onde a segurança alimentar não é objetivo.
Sua trajetória como ativista começou após superar uma situação de violência doméstica. Xica conheceu a economia solidária e, com outras mulheres, criou um grupo para a geração de renda e empoderamento feminino. Na feira, venderam pães, biscoitos e peças de artesanato. Juntas perceberam que a economia solidária* oferece liberdade, autonomia e pertencimento; e é uma das soluções para a emergência climática e soberania alimentar. Seu trabalho está enraizado no respeito à natureza e na valorização do saber popular.
A partir da relação entre clima, alimentação e produção, entendo que, para a justiça climática é preciso o cuidado com a terra e justiça social: “A gente está aqui em frente a um pé de bergamota que comemos uma geleia maravilhosa. A gente tem essa coisa de pegar no campo, de plantar, de combater o desperdício. A gente não joga nada fora, a gente aproveita a polpa, aproveita a casca, aproveita a semente.”
Com o tempo, Xica percebeu que suas práticas estavam também enfrentando as mudanças climáticas, que plantar alimentos pode ser resistência, cuidado com a terra e também promoção de saúde.“No início eu não entendia que era um enfrentamento às mudanças climáticas. Em 2019, com a pandemia, começou a faltar comida, começou a faltar tudo… A gente montou um projeto para plantar, para além de plantar e comer, ter aquele grupo de convivência, para não entrar na depressão.”
Se pudesse plantar uma semente do futuro, Xica sabe exatamente o que ela conteria: “carinho, amor, solidariedade, o coletivo e a família. A gente tem que retomar os cuidados, o respeito.” A ativista semeia o futuro com afeto, coragem e resistência. Entre hortas, panelas, feiras e círculos de convivência, cultiva uma economia solidária que alimenta, liberta e transforma vidas, são pessoas como ela que garantem a segurança alimentar do Brasil e dos brasileiros.
> Leia o artigo de Xica da Silva na publicação “Quem Precisa de justiça climática no Brasil?”
*A “economia solidária”, defendida pelo economista Paul Singer, se baseia na cooperação, autogestão e solidariedade entre os membros de um empreendimento, buscando resultados econômicos sem visar o lucro individual. Em vez da competição e exploração, a economia solidária prioriza o bem-estar coletivo, a igualdade e a distribuição justa dos resultados do trabalho.

Xica na Apremavi colhendo bergamotas e cozinhando com Miriam Prochnow e Angela Mendes no encontro do comitê das Defensoras por Defensoras. Fotos: Thamara Santos de Almeida
Sementes de Futuro
Em busca de inspiração, a Apremavi apresenta nesta série diversas formas de viver de modo ativista. Pessoas que se dedicam a contribuir com um mundo mais sustentável e biodiverso, criando soluções e buscando promover mudanças nos desafios locais e globais do nosso presente.
Autores: Thamara Santos de Almeida e Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Thamara Santos de Almeida..