Visão de libélula e olhar de drone: tecnologias de geoprocessamento na restauração

7 jun, 2024 | Notícias

Desde sua fundação, a Apremavi tem se dedicado a aprimorar o conhecimento técnico de sua equipe e buscado incorporar novas tecnologias de geoprocessamento. Conheça essa história e como a estratégia auxilia no ganho de escala da restauração ecológica.

A Apremavi deu os primeiros passos em geoprocessamento em 2008, a partir da participação em um curso sobre utilização de ArcGIS (software, servidor e sistema de informação geográfica online)  promovido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) em parceria com a prefeitura de Indaial (SC). No ano de 2009, o MMA e a Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí (AMAVI), com apoio das 28 prefeituras da região, da Apremavi e da The Nature Conservancy Brasil (TNC), desenvolveram o Cargeo, sistema para identificar, mapear e averbar as Reservas Legais em propriedades rurais.

O sistema pioneiro serviu como exemplo para a implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) no Brasil. Essa iniciativa promoveu a capacitação de técnicos de prefeituras do Alto Vale do Itajaí e da Apremavi em uso de ArcGIS e AutoCAD (software topográfico para geração de mapas), servindo assim como embrião do desenvolvimento de capacidades para trabalhar com mapeamento e gerenciamento de informações.

Mesmo antes do Cargeo, a Apremavi buscou sistematizar ações de restauração ecológica com dados geográficos, relacionando essa informação a um ponto no espaço, ainda que virtual: “A primeira vez que tive contato com geoprocessamento foi em meados da década de 1990 com o mapeamento dos remanescentes de Mata Atlântica feito pela parceria entre a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE). Com esse trabalho percebi que bases de dados e informações georreferenciadas eram uma ferramenta imprescindível para gerenciar as informações referentes aos projetos de restauração e conservação. Naquela época os softwares de geoprocessamento e computadores eram caros e inacessíveis para uma Organização Não Governamental (ONG) como a Apremavi, mas anos depois buscamos alternativas para investir nelas mesmo assim e isso vem fazendo a diferença até hoje”, comenta Wigold B. Schäffer, cofundador e coordenador de projetos da Apremavi. 

Com a evolução e acessibilidade da tecnologia, a Apremavi conseguiu adquirir o primeiro aparelho de Sistema de Posicionamento Global (GPS) em 2008, ferramenta que passou a permitir o registro das coordenadas geográficas das áreas conservadas e das áreas em processo de restauração ecológica. Na época, os dados coletados em campo eram registrados em planilhas, então ainda faltava uma ferramenta para processar esses pontos coletados em campo e criar polígonos para caracterizar o uso do solo da propriedade. Essa necessidade levou a equipe a adotar em 2011 o TrackMaker e o TrackMaker Pro, programas que possibilitaram criar as geometrias a partir dos dados geográficos, resultando em dados como o cálculo de área e elaboração de mapas.

Na busca por melhorar as informações geográficas e os mapas, em 2012 a Arcplan desenvolveu para a Apremavi um curso de geoprocessamento com ArcGis, em Atalanta (SC). Em meados de 2015, uma nova rodada de capacitação em ArcGIS foi realizada, esta fornecida pela área de Sistema de Informações Geográficas (SIG) da Klabin. A partir destas formações, a confecção de mapas em escala tornou-se uma realidade na Apremavi, marcando um importante avanço na produção de mapas temáticos e de uso de solo como suporte para os projetos técnicos de restauração elaborados. 

Ainda em 2015, a Apremavi firmou uma parceria com a TNC para utilizar o sistema Cargeo internamente. A ferramenta foi aprimorada ao longo dos anos e se transformou no Portal Ambiental da Apremavi, lançado em 2017. Atualmente, o Portal está recebendo atualizações significativas com a modernização da linguagem e ferramentas, visando se tornar uma plataforma de gestão dos projetos da instituição, com um compilado sistematizado de todas as informações de planejamento, gestão e etapas de execução dos projetos de restauração e monitoramento.

Além do incremento nas funcionalidades do Portal Ambiental, a Apremavi realizou mudanças para atender os dispositivos da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). As informações ficam disponíveis para parceiros e financiadores, aumentando assim a transparência nos projetos desenvolvidos, ao mesmo passo que os dados pessoais recebem limitação de acesso ao público, protegendo o direito à privacidade das pessoas.

Em 2017 a Apremavi teve acesso ao primeiro VANT – Veículo Aéreo Não Tripulado (dispositivos popularmente conhecidos como drones) e promoveu a primeira capacitação para equipe técnica para o registro de imagens aerofotogramétricas das áreas atendidas nos projetos de restauração e conservação. O acesso a essa tecnologia possibilitou inicialmente, coletar imagens de alta qualidade em uma altitude maior, permitindo uma ampliação focal da área a ser registrada.

Já em 2019, uma segunda capacitação sobre a  utilização de VANTs para registros fotográficos ocorreu. Foram aprimorados os esforços para a construção de planos de voo no software DroneDeploy e criação de ortomosaicos na ferramenta Agisoft PhotoScan. Após essa capacitação, a equipe técnica iniciou a geração de ortomosaicos em pequenas e médias propriedades para auxiliar na criação de mapas de uso de solo e dos projetos técnicos de restauração.

Para complementar os avanços nos usos de tecnologias de geoprocessamento e melhorar a avaliação dos processos de monitoramento da restauração, em 2019, a Apremavi, em parceria com a Klabin, sistematizou a primeira versão do Guia de Monitoramento de Projetos de Restauração de Áreas Degradadas e Alteradas. Criado no ArcGis Survey 123 (ferramenta de formulários dinâmico), permitindo a criação de um formulário de coleta de dados em campo. A depender das informações inseridas, o formulário calcula um conceito final do sucesso da restauração na área. Todas as informações referentes à coleta de dados ficam atreladas a uma localização geográfica.

 

Equipe da Apremavi avançando no geoprocessamento.

Equipe da Apremavi avançando no geoprocessamento. Fotos: Pedro Ferreira, Maurício Reis e Weliton Oliveira

Em 2022, outra imersão em geoprocessamento para formação continuada da equipe técnica foi realizada, abordando a coleta, tratamento e processamento de dados; geração de layout para mapas; estruturação e organização da base geral de dados; disponibilidade da base em dispositivos móveis; padronização das nomenclaturas e simbologias utilizadas nos mapas, entre outros assuntos. Essa imersão foi organizada e ministrada por técnicos da Apremavi com experiência no uso das ferramentas utilizadas, capacitados ao longo dos anos.

No início de 2024 um feito marcou o  avanço tecnológico em geoprocessamento: a equipe coletou e processou um ortomosaico de uma área única de aproximadamente 1.100 hectares. A atividade permitiu uma avaliação interna de procedimentos a serem seguidos bem como a modernização de alguns equipamentos. “Sempre buscamos mapear as áreas restauradas pela Apremavi, sejam com mapas feitos no papel, passando por ferramentas como o Trackmaker e Google Maps até chegarmos no ArcMap. Também buscamos oferecer treinamentos e trocas de experiências com a equipe para ampliar e melhorar o uso dessas ferramentas e realizar com riqueza de detalhes o planejamento das propriedades atendidas nos diferentes projetos executados pela Apremavi”, comenta Edinho Pedro Schäffer, coordenador de projetos da Apremavi.

Ainda em 2024, a Apremavi passou a integrar um Grupo de Trabalho de Inteligência Geoespacial do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, que reúne, sintetiza e disponibiliza informações de interesse comum aos integrantes da rede do Pacto. “Espacializar as informações sobre os projetos de restauração em desenvolvimento nos estados de abrangência da Mata Atlântica ajuda a termos uma dimensão mais clara sobre o alcance das ações em curso e a planejar a restauração em nível de paisagem para ganho de escala. Só temos mais 6 anos até o fatídico ano de 2030 e até lá muita coisa precisa ser feita”, comenta Carolina Schaffer, coordenadora de projetos na Apremavi e representante da instituição no Conselho Nacional do Pacto.

Além de acreditar na importância da capacitação da equipe para construção de capacidade de desenvolvimento interno, a Apremavi busca continuamente  investir no desenvolvimento e aquisição de equipamentos e tecnologias que auxiliem e melhorem a qualidade das atividades. Mauricio Reis, coordenador de projetos da Apremavi, comenta sobre a importância dessa busca constante para dar escala e objetividade à restauração: “a aplicação do geoprocessamento na restauração florestal se torna uma importante ferramenta para planejamento e desenvolvimento das ações, sejam elas em pequenas, médias ou em grandes escalas. A capacitação através da formação contínua é necessária para termos a equipe técnica sempre se aperfeiçoando e buscando tecnologia para serem implementadas nos projetos desenvolvidos pela Instituição.”

 

Evolução em geoprocessamento na Apremavi

Autores: Maurício Reis e Wigold B. Schäffer.
Revisão: Equipe de Comunicação e Informação da Apremavi.

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