8 de março: dia de luta e inspiração

8 mar, 2023 | Notícias

O Dia Internacional das Mulheres, 8 de março, nasceu há um pouco mais de cem anos, a partir da luta das mulheres em diversos movimentos pelo mundo. Por volta de 1910, esses movimentos começaram a se organizar tendo como tema principal o direito ao voto; nascia assim o movimento sufragista. Além do direito ao voto, as mulheres lutavam por mudanças na regulamentação do casamento, do divórcio e do acesso aos bens da família, pelo direito ao estudo e ao trabalho, bem como pela participação em organizações políticas.

Essas reivindicações não eram unificadas, ocorriam até então em datas distintas ao redor do mundo. Entretanto, em 1917, durante a Revolução Russa, uma greve de operárias e sua revolta contra a escassez de alimentos e exploração (conhecida como luta por “Paz e Pão”), motivou as mulheres no mundo inteiro pela criação de uma data que representasse o ideal do movimento. Elas precisaram de quatro anos, e só em 1921 o dia 8 de março foi escolhido, durante a Conferência das Mulheres Comunistas, como o Dia Internacional das Mulheres.

Conheça a história completa no livro “As origens e a comemoração do dia internacional das mulheres” da historiadora espanhola Ana Isabel Álvarez González

No Brasil, o movimento sufragista teve como principal ícone e liderança a advogada, ativista, bióloga, cientista e servidora pública, Bertha Maria Júlia Lutz (1894-1976). Bertha teve contribuição fundamental na luta pelos direitos das mulheres, tendo, entre outras ações, liderado o movimento pelo direito das mulheres ao voto, que só virou realidade no país em 1933.

Recusar à mulher igualdade de direitos em virtude do sexo é negar justiça à metade da população“, dizia Bertha em um dos vários depoimentos de luta.

Dia da Mulher

Bertha Lutz falando em uma reunião da Organização das Nações Unidas (ONU). Foto: Arquivo UN Photo replicado na Agência Senado.

Desafios atuais na luta das mulheres

Cem anos depois, apesar das conquistas, como o direito ao voto, os desafios enfrentados ainda são inúmeros. Um dos maiores é a luta pela vida e pela vida com qualidade.

Inúmeros são os casos de mulheres que são mortas pelos seus parceiros pelo fato de serem mulheres. Somente em 2022 o número de vítimas de feminicídio aumentou 5% no ano passado e chegou ao recorde de 1,4 mil mulheres mortas. Um dos fatores que contribuiu para esse fato cruel, sem dúvida, foi o desmonte da rede de proteção à mulher instaurado pelo Governo Bolsonaro. 

Eventos extremos causados pela mudança do clima, como tempestades, enchentes e deslizamentos, também impactam de forma diferente as mulheres, sobretudo as que vivem em condição periférica. Segundo infográfico publicado pelo GT de Gênero e Clima do Observatório do Clima, mulheres e meninas são mais afetadas e têm mais probabilidade de morrer em tragédias causadas por fenômenos naturais.

Além do medo de perderem a vida, as mulheres enfrentam a divisão desproporcional do trabalho doméstico e do cuidado com as pessoas. A sociedade segue enxergando trabalhos domésticos, não-remunerados, como algo natural e inerente às mulheres. Na pandemia isso ficou evidenciado quando um estudo mostrou que as pesquisadoras mulheres, principalmente aquelas com filhos pequenos, foram os grupos mais afetados pelo COVID-19 em relação a sua produtividade acadêmica. Ou seja, as mulheres produziram menos artigos científicos, que é o principal trabalho de uma pesquisadora, para assumir, muito mais que os seus parceiros homens, os cuidados com os filhos pequenos que tiveram que ficar em casa com o fechamento das escolas.

As profissionais da área da saúde também foram vítimas de forma desigual da pandemia. O relatório da Organização PanAmericana da Saúde (OPAS) evidenciou que as mulheres são a maioria dos profissionais de saúde e estavam na linha de frente cuidando dos pacientes, representando 72% de todos os casos de COVID-19 entre os profissionais de saúde da região.

 

As Mulheres da Apremavi

A Apremavi acredita que o protagonismo e a participação das mulheres no processo de criação de ideias e tomada de decisão, a visibilização e a remuneração do trabalho da mulher, além do olhar para a participação de gênero como parte da solução e não só como ponto de vulnerabilidade, são caminhos importantes em busca de um futuro mais justo e sustentável.

8 de março

Mosaico de foto das mulheres que fazem parte da equipe da Apremavi em diversos cargos da instituição, desde a vice-presidência, a coordenação de projetos e da área financeira, até a área técnica, administrativa e de comunicação e o envolvimento nas atividades do dia-a-dia do Viveiro Jardim das Florestas. E cards com depoimentos de algumas delas sobre o que representa para cada uma delas o dia 8 de março. Fotos e cards: Arquivo Apremavi.

Grande inspiração, não só na Apremavi, Miriam Prochnow, ambientalista e co-fundadora da instituição, trabalha na área ambiental há mais de 35 anos. Em seu depoimento sobre como vê o seu trabalho ela relata “gosto de imaginar que meu trabalho inspira e dá forças para que outras mulheres se sintam encorajadas a participar da construção de um mundo melhor para as futuras gerações. Um mundo sustentável e de paz. Nós precisamos que isso aconteça se quisermos que a humanidade continue pelas bandas do planeta Terra”.

Em 1987, na fundação da Apremavi, Miriam esteve acompanhada também de outra mulher inspiradora, Lucia Sevegnani (em memória). Doutora em Ecologia e ex-professora da FURB, Lucia foi, dentre tantas outras coisas, uma das pesquisadoras e organizadoras do “Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina”, em 2012. Sua vida e seu trabalho ainda hoje são fonte de pesquisa e alento para toda a sociedade catarinense. 

Seguindo os passos das fundadoras, Carolina Schäffer, mestre em Botânica, atualmente exerce a vice-presidência da Apremavi e busca sua maior inspiração na história da instituição e na própria Mata Atlântica, “trabalhar para conservá-la e restaurá-la, e fazer isso na companhia de muitas mulheres aguerridas, é o que me inspira”. Carolina também acredita que “contratar mulheres e empoderá-las para que exerçam suas funções com maestria e autonomia é parte da minha missão como gestora da instituição”.

O olhar e a busca pela equidade de gênero na equipe da Apremavi não é nova. Hoje a instituição emprega 18 mulheres, num universo de 38 colaboradores, e estas ocupam os mais variados cargos da instituição, desde a vice-presidência, a coordenação de projetos e da área financeira, até a área técnica, administrativa e de comunicação e o envolvimento nas atividades do dia-a-dia do Viveiro Jardim das Florestas.

Uma das técnicas ambientais da Apremavi, Gabriela Goebel, mestranda em Botânica, atua e vive pelo que acredita; “meu trabalho contribui com a causa ambiental por meu comprometimento e amor ao meio ambiente. Acredito que essa vontade de fazer a diferença possa inspirar outras mulheres a ocupar e ter voz em todos os espaços, e mostrar que estamos fortes na luta por um mundo mais justo para todas as espécies e ecossistemas”.

Também dedicada, a mestre em Biologia Animal, que atua como assistente de comunicação e informação na instituição, Thamara Santos de Almeida, espera “inspirar e encorajar outras mulheres a acreditarem que é possível lutar contra as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade transformando o amor em mudar essa realidade por trabalho remunerado, conquistando assim a nossa independência financeira, algo tão caro para nós mulheres”.

Em seu depoimento, Thamara toca em outro ponto que precisa ser pauta: a disparidade salarial entre gênero. Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam que globalmente, em média, as mulheres recebem salários cerca de 20% menores do que os dos homens. Por isso, o encorajamento por independência financeira e a oferta de salários igualitários é uma das ações que ajuda a combater a desigualdade de gênero.

Coordenadora administrativa e membro da diretoria, a administradora Maria Luiza Schmitt Francisco comenta “sinto que vim para este mundo com uma ou com várias missões, buscando sempre a evolução, e que não faz sentido algum trabalhar somente para receber o salário no final do mês. Preciso me sentir realizada e sentir que estou fazendo algo pelo bem comum, para o benefício da minha e, principalmente, das futuras gerações”.

Atuar no presente e inspirar futuras gerações move a Apremavi desde o início, por isso a instituição promove ações de conscientização e educação ambiental no âmbito dos projetos que executa, além de impulsionar o engajamento dos jovens na área socioambiental.

Inspirar pelo exemplo também é lema das auxiliares de administração da Apremavi. A contadora, Sirlene Ceola, pensa que o exemplo dá condições mais fortes que palavras, além disso “ensinar nossos filhos a cuidar do meio ambiente atrai uma geração atrás da outra. Sou inspirada por mulheres e posso fazer o mesmo, inspirá-las com meu trabalho”. E sem dúvida inspira mesmo, tanto é que sua colega Aline Martins, graduanda em administração, diz que espera com a sua atuação profissional “influenciar outras mulheres a ter um olhar mais amplo do meio ambiente, de forma a enxergar sua importância e adquirir responsabilidade social, garantindo à nossa e às futuras gerações uma melhor qualidade de vida”.


A equidade faz parte dos Princípios da Apremavi

Na última revisão da Carta de Princípios da Apremavi foram incorporados os propósitos “Respeitar e valorizar as diferenças individuais (de origem, nacionalidade, gênero, cor/ raça, religião, étnicas, sociais, culturais, etárias, físicas e de orientação sexual)” e “Promover a equidade de gênero, oferecendo oportunidades iguais independente de diferenças individuais em um ambiente de trabalho“. Desde então, estratégias para o cumprimento desses princípios de forma plena estão sendo observadas com ainda mais intensidade e implementadas de forma transversal na instituição.

Muito além de inspirar, na missão pela conservação e restauração da Mata Atlântica e sua biodiversidade, precisamos garantir que todas as mulheres tenham acesso às mesmas oportunidades de aprendizagem e tenham condições igualitárias de trabalho e de ocupação dos espaços científicos, políticos e no setor socioambiental.

REFERÊNCIAS

Lopes, M. M., de Souza, L. G. P., & de Oliveira Sombrio, M. M. (2004). A construção da invisibilidade das mulheres nas ciências: a exemplaridade de Bertha Maria Júlia Lutz (1894-1976). Revista gênero, 5(1).

González, A. I. Á. (2010). As origens e a comemoração do dia internacional das mulheres. São Paulo: Expressão Popular.

Pan American Health Organization (2021). Gendered Health Analysis COVID-19 in the Americas.

Pay transparency legislation:  Implications for employers’  and workers’ organizations (2022).  International Labour Organization.

Autoras: Carolina Schäffer e Thamara Santos de Almeida.

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