O sucesso das agroflorestas começa pelo solo saudável・Código Florestal na Prática
O segundo capítulo da série “Código Florestal na Prática”, lançado no Dia da Conservação do Solo (15/04), coloca em foco a importância da recuperação e proteção deste elemento para a restauração das florestas e promoção de atividades econômicas sustentáveis.
Um Sistema Agroflorestal (SAF) é constituído para alavancar a questão econômica nas propriedades rurais, gerando renda direta ao proprietário rural ou para a subsistência, promovendo a extração de produtos que servem para a alimentação familiar. Uma das grandes vantagens é a biodiversidade associada a um SAF: a variedade de espécies possibilita a geração de vários produtos, ao mesmo passo que colabora com a restauração do solo e pode estar conectada à Áreas de Preservação Permanente (APPs), ampliando as áreas verdes, o fluxo gênico e a conectividade entre remanescentes florestais.
A recomposição da vegetação nativa promove o melhoramento das características físicas, químicas e biológicas do solo. Isso acontece por conta da decomposição e incorporação de matéria orgânica na terra e penetração das raízes no solo. Os diferentes comprimentos de raízes, com a presença de árvores, auxiliam também na redução da erosão. Posteriormente, com a formação da serrapilheira (camada de matéria orgânica que recobre o solo, formada a partir de matéria orgânica em diferentes fases de decomposição) a fixação do nitrogênio no solo é facilitada, os efeitos da radiação solar atenuada e a temperatura do solo amenizada.
Ao mesmo passo do crescimento da floresta, os impactos das chuvas são reduzidos e o potencial de infiltração da água é ampliado com os SAFs, diminuindo os efeitos das enxurradas, onde há um aumento dos teores de matéria orgânica e da microbiota do solo; tornando todo o ambiente mais vigoroso e, por consequência, diminuindo ou mesmo dispensando o uso de fertilizantes sintéticos.
Verdadeiro manifesto contra a monocultura implantada em países exportadores de commodities, como o Brasil, o Sistema Agroflorestal é tem potencial para promover redes de produção sustentáveis em diversas cadeias produtivas, mas para isso demanda investimentos e programas de incentivo. Assim como as atividades agrícolas comuns no Brasil, em muitas regiões catalisadores do desmatamento, grilagem de terras, queimadas e poluição por agrotóxicos. Uma outra possibilidade dos SAFs é a inclusão de conhecimentos etnobotânicos do território, valorizando a cultura popular e o conhecimento biocultural das comunidades.
Alguns modelos de SAFs podem ser utilizados na recomposição de Reserva Legal e na indução de recuperação de APPs, conforme prevê o novo Código Florestal. Essa implementação pode ocorrer em áreas de florestas secundárias em estágio inicial de regeneração ou mesmo em área aberta onde não existe cobertura do solo substancial. Espécies frutíferas, medicinais ou espécies como a erva-mate, a araucária e o palmito são comumente utilizadas na implantação dos sistemas.
Sistema Agroflorestal tendo o café como espécie-chave. Foto: Arquivo Apremavi.
SAFs #Na Prática: o exemplo da Apremavi
A implantação de sistemas agroflorestais é uma das soluções apresentadas pela Apremavi para quem busca tornar a propriedade rural mais sustentável. Várias metodologias foram implantadas em áreas demonstrativas ao longo do tempo, sobretudo na propriedade do Centro Ambiental Jardim das Florestas, em Atalanta – SC, o que possibilitou ilustrar o desenvolvimento da floresta e mensurar o retorno socioeconômico da atividade.
Uma dessas áreas, implantada entre 1964 e 1987 tem como protagonistas a araucária (Araucaria angustifolia) e o palmito-juçara (Euterpe edulis), em um sistema consorciado. Cada espécie propicia a coleta de um produto com grande potencial econômico: os frutos de juçara (juçaí) e o pinhão, com mercado consumidor consolidado na Região Sul do país. As araucárias foram plantadas em 1964 e o palmito-juçara em 1987, com densidades finais de 167 e 2.500 plantas/ha, respectivamente.
Esquema do sistema agroflorestal araucária-palmito implantado pela Apremavi. Crédito: COALIZÃO/WRI (adaptado por Apremavi).
Em 2021, uma parceria entre o WRI Brasil e a Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura resultou na análise minuciosa de 40 casos de atividades econômicas sustentáveis utilizando espécies nativas, entre elas a área do sistema agroflorestal de araucária-palmito implantado pela Apremavi. Os SAFs estudados mostraram a rentabilidade e oportunidade de avançar na agenda da restauração a partir dessa modalidade, com benefícios também para a dinâmica de construção social e produção de alimentos ambientalmente mais adequados e socialmente mais justos.
A avaliação econômica dos projetos analisados em 2021 mostrou que as taxas internas de retorno (TIR) dos investimentos variam de 2,5% a 28,4% ao ano, com mediana de 15,8%. Mais de 90% dos casos mostram TIR superior a 9% – percentual competitivo na comparação com outras atividades agropecuárias. A rentabilidade é também um indicativo de que o Brasil tem uma grande oportunidade de gerar emprego e renda de forma sustentável, valorizando a biodiversidade e conservação das florestas.
> Confira 40 exemplos de arranjos agroflorestais na publicação do WRI
Implantando o Código Florestal
É um projeto que tem como objetivo geral reverter e reduzir a perda de florestas no Brasil. É executado por um consórcio de organizações que integram o Observatório do Código Florestal, sob a coordenação dos Amigos da Terra Amazônia. A Apremavi é uma das organizações que compõem o consórcio, e está atuando para através da produção de conhecimentos, realização de articulação com governos locais e com agentes públicos para a implementação plena do Código Florestal.
Autor: Vitor L. Zanelatto | Revisão: Thamara Santos de Almeida e Carolina Schäffer
Foto de capa: Apresentação do Sistema agroflorestal implantado pela Apremavi em Atalanta (SC) para visitantes ©️ Vitor Lauro Zanelatto