Histórias de vida de artivismo pela Natureza

8 nov, 2023 | Notícias

A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Uma pergunta para divagar sobre as nuances desses dois temas tão instigantes. O fato é que, para que a vida se torne mais interessante, precisamos da arte para nos envolver. Uma aliada da boa comunicação, tem sido usada para mobilizar a sociedade, produzindo transformações em vários níveis; e é nesse momento, que surge o artivismo, a união entre a arte e o ativismo. 

O artivismo pela natureza tem motivado muitas pessoas, unindo ambientalistas, artistas e amantes da vida. Tetê Brandolim e Wigold Schaffer são exemplos disso e a Floresta com Araucárias é um dos motivos de inspiração para eles. Ambos, com sua arte e exemplos de vida, estimulam as pessoas a se engajarem na busca por um mundo melhor.

Tetê e Wigold nunca se encontraram pessoalmente, mas compartilham a mesma paixão; e a Apremavi está feliz em poder compartilhar essas experiências.

 

A Araucária de Tetê 

A artista Tetê Brandolim aceitou o desafio de transformar em obra de arte a sua visão sobre a araucária e essa história começou quando Miriam Prochnow, fã da artista, viu as novas obras de Tetê, inspiradas nas árvores brasileiras, e perguntou se ela poderia fazer uma araucária para dar de presente para seu companheiro, Wigold.

Conhecida por seus quadros que criam jardins multicoloridos a partir de recortes de chita, o mais brasileiro dos tecidos, Tetê começou a plantar nas suas telas ipês amarelos, roxos, brancos e a criar uma verdadeira floresta. As obras são tão encantadoras que ela foi uma das premiadas na última Semana de Arte Portinari, promovida pelo Museu Casa de Portinari, em Brodowski. 

Fazer um quadro com ipê, que é todo colorido, é mais simples do que desenhar a araucária. Ela é linda e importante na floresta mas tem poucas cores”, conta Tetê. Por isso, o quadro foi produzido lentamente tendo um lindo céu azul onde duas araucárias, mãe e filha, recebem alguns dos “moradores” da ameaçada Floresta com Araucárias, uma das maiores riquezas da biodiversidade brasileira.  

Assim como Tetê, a araucária é uma grande mãe sábia, só que da floresta. Chega a viver mais de 700 anos quando pode seguir o fluxo da sua existência. Tetê Brandolim só, aos 82 anos, revelou o seu talento para as artes, em 2013, quando realizava o sonho de aprender a ler e escrever. Às vésperas de completar 93 anos de idade, ela continua todos os dias a produzir as suas obras. Já são mais de 700. Ela costuma dizer que todas estavam guardadas dentro do coração esperando a oportunidade de florescer

A vontade da artista é que a obra “Minha Primeira Araucária” desperte nas pessoas o mesmo amor que ela tem por esses seres tão especiais e únicos que nos oferecem tanto e só querem ter o direito de existir. 

A artista com a obra:  “Minha Primeira Araucária” por Tetê Brandolim, 2023.
Galeria de imagens da obra “Minha Primeira Araucária” por Tetê Brandolim, 2023. Tela em acrílico com colagem de tecidos, entre eles a chita – 80 x 60 cm.

> Mais sobre Tetê Brandolim no documentário: “Arte da Maturidade: Trajetória”

 
Wigold Schäffer, apaixonado por araucárias desde menino

Esta história de amor começa quando Wigold Schäffer, um menino de cinco anos, reclamava com seus pais por se incomodar com os desmatamentos que via em Santa Catarina na década de 1960. Pensava que se a degradação continuasse naquela velocidade, quando crescesse, não haveria mais árvores para seus filhos e netos conhecerem. Talvez por conta dos apelos tão constantes e insistentes, o pai de Wigold lhe entregou um saquinho com pinhões e orientou-o a plantá-los. Em 1964, aos cinco anos, ele plantava as cem primeiras sementes de araucária. Muitas germinaram. Daquelas sementinhas, restam hoje cerca de 20 araucárias grandes que produzem pinhões e alimentam gralhas, bugios e também a comunidade humana.

A percepção de que a degradação da Floresta com Araucária era abusiva marcou naquela criança o nascimento de um grande amor pela que foi, e continua sendo, uma das árvores mais exuberantes e também cobiçadas da Mata Atlântica. Desse amor de menino, anos depois, nasceram inúmeras ações em prol da conservação da floresta que a abriga.

A luta pela criação de Unidades de Conservação (UCs), a proposição de legislações protetoras, o estímulo para denúncias sobre desmatamentos, crimes ambientais e ações de restauração e a elaboração de materiais de educação ambiental foram possíveis a partir do trabalho da Apremavi, que ele ajudou a criar. Em parceria com outras pessoas e organizações, um conjunto de esforços permitiu que a Floresta com Araucária tivesse mais chances de sobreviver. Hoje, em Santa Catarina, onde a Apremavi estabeleceu sua sede, diversos exemplos de resultados positivos são somados, como a volta do papagaio-charão e de papagaio-de-peito-roxo, que todos os anos colorem os céus em busca do alimento proporcionado pelas araucárias da região serrana do estado. As espécies, que integram a lista de espécies da fauna ameaçadas de extinção, são nativas da Floresta com Araucária e dependem desse ecossistema para sobreviver.

Obra “Araucárias na Paisagem” por Wigold Schäffer, 2007
Obra “Araucárias na Paisagem” por Wigold Schäffer, 2007. Tela em acrílico – 40 x 60 cm.
Wigold também usou seu talento artístico como fotógrafo e pintor para eternizar lindos exemplares de araucárias e outras maravilhas da Mata Atlântica. A exposição “Belezas da Mata Atlântica”, é de autoria dele e nasceu da ideia de divulgar a riqueza da Mata Atlântica, um Bioma biodiverso em sua fauna, flora e população. Composta com 115 quadros com belas imagens da Floresta Atlântica, a mostra teve sua primeira exibição no Centro Ambiental Jardim das Florestas no dia do aniversário de 30 anos da Apremavi. Wigold também é o autor de dois ensaios fotográficos do livro “30 Anos, 30 Causas” que conta a história da Apremavi.
Algumas das fotos da exposição “Belezas da Mata Atlântica” por Wigold Schäffer
Apesar dos bons resultados em prol da natureza durante todos esses anos, infelizmente ainda são constantes as agressões às araucárias e a outras espécies que com elas convivem, não só em Santa Catarina, mas em todos os estados onde elas sobrevivem. A degradação que tanto incomodava Wigold quando criança, ainda existe.

São necessárias e urgentes medidas fortes do poder público para coibir a ocorrência de crimes ambientais. No entanto, a sociedade deve cumprir papel fiscalizador e denunciar irregularidades. Cada cidadão pode adotar medidas de proteção e recuperação da biodiversidade que estiverem a seu alcance como, por exemplo, o plantio de espécies nativas. A Floresta com Araucárias e os Campos Naturais associados a ela, bem como os animais que vivem nessas formações vegetais, terão chances reais para viver com qualidade somente se toda a comunidade unir esforços em prol da conservação.

A exemplo de Wigold Schäffer, devemos cultivar o amor à natureza. E como bem escreveu Rubem Alves, outro artivista da natureza, “aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas, porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno”.

 

Autoras: Maria Zulmira de Souza e Miriam Prochnow.
Revisão: Carolina Schaffer.
Foto de capa: Araucária, por Wigold B. Schäffer.

 

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