Gato-maracajá: o rei da floresta em pé
O gato-maracajá (Leopardus wiedii) tem ampla distribuição pelas Américas, ocorrendo desde o México até a região norte da Argentina e norte do Uruguai. No Brasil ocorre em quase todos os biomas e regiões, exceto em alguns locais do Nordeste. Ele é encontrado em uma ampla variedade de habitats, mas com foco em ambientes florestais e não utilização de ambientes campestres, o que inclui as florestas da Mata Atlântica, do Cerrado e da Caatinga e áreas pantanosas no Pantanal.
Mapa de distribuição do gato-maracajá. Fonte: União Internacional para a Conservação da Natureza.
O nome popular maracajá advém do tupi marakaiá. Além destes, a espécie é designada no português como gato-do-mato, gato-maracajá, gato-peludo, maracajá-peludo. No espanhol é chamada caucel, chiví, cunaguaro, gato brasileño, gato tigre grande, tigrillo, tirica malla grande, tigre gallinero, burricón, gato pintado, mbaracayá miní; no inglês margay.
Estudos genéticos com a espécie a dividiram em três subespécies que hoje são reconhecidas pelos especialistas: L. w. wiedii do sul do Amazonas; L. w. vigens do norte do Amazonas e L. w. glauculus na América Central.
É uma espécie solitária e possivelmente uma das mais arborícolas de todos os felinos, por isso são muito dependentes e adaptados a ambientes florestais, como caudas longas que podem representar até 40% do seu corpo, que usam para equilíbrio, além de tornozelos que giram até 180°.
Essa adaptação sugere que espécies fortemente dependentes de florestas, como o maracajá, podem estar enfrentando extinção regional em curto prazo. Além da destruição do seu habitat, a caça, os atropelamentos e a transmissão de doenças por animais domésticos também ameaçam a espécie.
As populações de maracajá parecem ser capazes de persistir sob níveis moderados de modificação de habitat, destacando a importância de conservar até mesmo pequenos remanescentes florestais nativos. É categorizada como “Quase Ameaçada” globalmente pela IUCN devido a sua ampla distribuição, mas sua abundância está em declínio. Já no Brasil está ameaçado de extinção, constando na categoria “Vulnerável”, segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças do Clima.
Ele se diferencia das outras nove espécies de felinos que ocorre no Brasil devido a sua coloração amarelo-escuro, com exceção da barriga que é mais pálida, olhos bem grandes e destacados, focinho saliente, patas grandes e cauda mais longa do que todo o seu corpo.
Prancha de 1844 de Paul Gervais para o Atlas de Zoologia do gato-maracajá. Fonte: Biodiversity Heritage Library
Um comportamento curioso da espécie é que há relatos que ele imita o som de suas presas para que elas se aproximem, como roedores e ratos, além de possuir uma grande habilidade de escalar árvores, embora passe a maior parte do tempo no chão. Usa a marcação de odores para indicar seu território, incluindo borrifar urina e deixar marcas de arranhões no solo ou nos galhos. Todas as suas vocalizações parecem ser de curto alcance, não fazendo chamados em longas distâncias
Nos últimos anos a Apremavi tem dedicado e ampliado as ações de monitoramento da fauna, sobretudo em áreas restauradas e conservadas nos projetos que desenvolve. O maracajá é uma das espécies que têm sido avaliadas, no âmbito do monitoramento dos mamíferos. Esperamos em breve conhecer mais sobre a espécie e assim colaborar para a ecologia ainda pouco conhecida do maracajá, bem como compreender como a restauração e a conservação podem influenciar ações para sua proteção.
Leopardus wiedii (gato-maracajá) registrado em uma área conservada monitorada pela Apremavi. Créditos: Arquivo Apremavi.
Gato-maracajá
Nome científico: Leopardus wiedii.
Família: Felidae.
Habitat: Vários tipos de ambientes, desde florestas tropicais a áreas pantanosas, com uma preferência para ambientes florestais.
Alimentação: Carnívoro.
Peso: De 3kg até 5kg.
Comprimento: Podem medir entre 42 e 80 cm de comprimento entre cabeça e corpo, com a cauda medindo de 30 a 51 cm.
Hábito de vida: noturno e arborícola.
Distribuição: América, desde o norte do México até o Uruguai.
Ameaças: perda e fragmentação de habitat, atropelamento, caça, conflitos e doenças de animais doméstico e de criação.
Status de conservação: Vulnerável (VU) MMA e Não ameaçado pela IUCN.
Fontes consultadas:
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Autora: Thamara Santos de Almeida
Revisão: Carolina Schäffer.
Foto de capa: Márcio Motta, CC BY-NC-ND 2.0