Brasil já perdeu um terço da sua vegetação nativa
Nova coleção do Mapbiomas, lançada na última quarta (21/08), contabilizou a quantidade de áreas naturais (vegetação nativa, superfície de água, áreas naturais não vegetadas e praias) nos últimos 39 anos (1985 a 2023).
Até 1985, o Brasil já havia perdido 20% de suas áreas naturais. Nos 39 anos seguintes, entre 1985 e 2023, essa perda se intensificou, abrangendo mais 13% do território nacional, o equivalente a 110 milhões de hectares. Com isso, em 2023, o total de áreas naturais convertidas em uso humano atingiu 33% do território.
Rodrigo Agostinho, presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), destacou durante a live de lançamento da nova coleção que “a degradação florestal anda junto com os desafios das mudanças climáticas; Esse conjunto de ferramentas nos ajuda no acompanhamento dos embargos do desmatamento e ações posteriores de priorização da restauração”.
O estudo mapeou 29 classes de uso do solo, incluindo uma nova categoria: as formações de corais. A formação florestal foi o tipo de cobertura nativa que mais sofreu perda de área, enquanto pastagem e agricultura foram os usos da terra que mais se expandiram. Estados como Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo registraram os maiores ganhos em vegetação nativa, em contraste com Rondônia, Tocantins e Maranhão, que tiveram as maiores perdas. Em termos de proteção, Unidades de Conservação, Terras Indígenas e Quilombolas conseguiram preservar mais de 97% de sua vegetação nativa, mas 81% da perda total de vegetação nativa ocorreu em áreas privadas ou em locais com o cadastro ambiental rural (CAR) sem registro fundiário georreferenciado.
A Amazônia foi a região mais afetada, perdendo 55 milhões de hectares de vegetação nativa, seguida pelo Cerrado, com 38 milhões de hectares, e pela Caatinga, com 8,6 milhões de hectares.
Mapa e gráficos do histórico do uso e cobertura da terra nos biomas brasileiros entre 1985 e 2023. Créditos: coleção 9 do MapBiomas.
Mesmo com uma perda de 10% da vegetação nativa da Mata Atlântica entre 1985 e 2023, esse bioma registrou o maior crescimento percentual de vegetação nativa nos últimos 16 anos, com um aumento de 56%. Entretanto, a Floresta Ombrófila Mista, monitorada pela primeira vez, mostrou-se historicamente a mais explorada, reduzida a menos de 50% de sua área original até 1985, ressaltando a urgência de ações de conservação e restauração. Vale lembrar que esse aumento em área não necessariamente implica em qualidade, já que em Santa Catarina, por exemplo, dados do Inventário Florístico Florestal (IFFSC) mostram que mais de 50% dos fragmentos florestais são pobres em diversidade.
Infográfico da evolução do uso e cobertura da terra na Mata Atlântica entre os anos de 1985 e 2023. Créditos: coleção 9 do MapBiomas.
A nova coleção também trouxe inovações, como a avaliação do histórico de uso e cobertura do solo das propriedades cadastradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR), um instrumento essencial do Código Florestal.
> Confira os principais destaques da nova coleção
Os dados apresentados pelo MapBiomas são um alerta crucial para o Brasil. A perda acelerada de vegetação nativa não apenas ameaça a biodiversidade, mas também exacerba os efeitos das mudanças climáticas. As florestas desempenham um papel importante no enfrentamento da emergência climática. Sua devastação contribui para o aumento das emissões de gases de efeito estufa, intensificando eventos climáticos extremos como secas, enchentes e ondas de calor.
Além disso, a degradação de áreas naturais compromete a resiliência dos ecossistemas, reduzindo sua capacidade de se adaptar às mudanças já em curso. O mapeamento detalhado das perdas e dos usos do solo fornecido pelo MapBiomas é uma ferramenta importante para guiar políticas públicas e estratégias de restauração que possam reverter esse cenário e mitigar os impactos climáticos.
Sobre o Mapbiomas
O MapBiomas é uma iniciativa do SEEG/OC (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima) e é produzido por uma rede colaborativa de co-criadores formado por ONGs, universidades e empresas de tecnologia organizados por biomas e temas transversais.
Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Carolina Schäffer.
Foto de capa: Ibama combate desmatamento ilegal na Terra Indígena Pirititi, Roraima. Foto: Foto: Felipe Werneck/Ibama