Quanto resta da Floresta com Araucárias?

4 fev, 2025 | Notícias

A Floresta com Araucárias, também definida como Floresta Ombrófila Mista, é um ecossistema da Mata Atlântica característico da região Sul do Brasil e de algumas áreas do Sudeste. Ela abriga uma variedade de espécies, muitas delas endêmicas, sendo marcante a presença Araucaria angustifolia, o pinheiro-brasileiro. A exploração dos recursos e a conversão do solo para outras atividades reduziram drasticamente sua extensão original, tornando-a um dos ecossistemas mais ameaçados do país.

Durante o século XX, o desmatamento de araucária para fins madeireiros  foi intenso, resultando na extração de cerca de 18,5 bilhões de metros cúbicos de madeira no Sul do Brasil, principalmente para exportação para a América Latina e Europa antes de 1960. Essa exploração severa causou a perda direta de habitat e a redução da biodiversidade, afetando espécies associadas à araucária, como a imbuia (Ocotea porosa), muitas delas em risco de extinção.

Uma pesquisa realizada no ano passado apontou que resta apenas 4,3% da cobertura original da Floresta com Araucárias, o equivalente a aproximadamente 1,2 milhão de hectares. Desse total, apenas 13,5% estão dentro de Unidades de Conservação (UCs), enquanto a maioria dos fragmentos existentes são pequenos, com menos de 50 hectares, representando mais de 66% da área remanescente. Os 10 maiores fragmentos têm uma média de 4.132 hectares, localizados nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Assim, a Floresta com Araucárias está mais ameaçada do que se pensava anteriormente: estudos anteriores indicavam que 12,6% da floresta original permanecia, mas essa pesquisa mais recente revelou que esse número é bem menor. A maior parte do desmatamento ocorreu antes da década de 1970, com destaque para a região sul do Paraná, onde a supressão foi mais intensa.

A pesquisa ainda aponta que apesar dos compromissos do Brasil com a meta 11 de Aichi da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD), que estipula a proteção de 18% do território nacional, a Mata Atlântica continua sub-representada na rede de áreas protegidas, com apenas 7,3% de sua área dentro de Unidades de Conservação. No caso específico da Floresta com Araucárias, somente 0,6% (159 mil hectares) de sua extensão original está protegida por Unidades de Conservação ou Terras Indígenas.

A conservação desse ecossistema pode ser fortalecida por meio da ampliação e criação de novas UCs e da implementação efetiva de políticas de proteção em terras privadas, incluindo a aplicação rigorosa das regras para Reservas Legais (RL) e Áreas de Preservação Permanente (APP), conforme estabelecido no Código Florestal.

 

Oportunidades para a restauração ecológica

Diante da fragmentação extrema da Floresta com Araucárias a restauração ecológica é indicada pela pesquisa como uma oportunidade para o aumento da conectividade entre os fragmentos remanescentes. A identificação de remanescentes antigos pode servir como referência para projetos de restauração, pois esses fragmentos possuem estrutura florestal complexa.

A restauração pode ser feita por meio de metodologias ativas e passivas, aproveitando a alta capacidade de regeneração natural da araucária. Ações de plantio de mudas, enriquecimento florestal e controle de espécies invasoras podem ser essenciais para garantir o retorno desse ecossistema tão ameaçado.

Um exemplo de iniciativa para a restauração da Floresta com Araucárias é o projeto Conservador das Araucárias, desenvolvido pela Apremavi em parceria com a Tetra Pak. O projeto visa a restauração florestal com espécies nativas, atrelada à captura de carbono para mitigação das mudanças climáticas. Além disso, promove a adequação de propriedades rurais à legislação ambiental, a conservação de mananciais hídricos, do solo e da biodiversidade, bem como a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais. No território do projeto estão localizadas UCs, Quilombos, Terras Indígenas e Assentamentos de Reforma Agrária, envolvendo parceiros rurais que compartilhem a visão de conservação e restauração da iniciativa.

> Conheça o projeto 

Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Thamara Santos de Almeida.

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