Boca no trombone e mão na massa na Semana da Água
Presente nas necessidades e no organismo dos seres vivos, as fontes de água se encontram poluídas; infestadas por composições tóxicas formuladas pelo Homem e identificadas, cada vez com maior frequência, entre a água que cai da torneira e na corrente sanguínea de seres humanos e não humanos.
Neste ano, a Apremavi utilizou como ponto de partida para dar propósito ao Dia da Água o debate ‘Águas Pela Vida’, co-organizado pelo Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental. Pesquisadores, representantes de movimentos sociais e do Poder Legislativo municipal de Florianópolis apresentaram diferentes perspectivas sobre o tema, mas formam coro sobre as necessidades para a proteção deste componente natural: é preciso agir com urgência e tratar a água não meramente como recurso, mas como direito essencial e inalienável de todos os seres.
Na roda de conversa foram relembrados dados da recente pesquisa sobre a qualidade da água nas cidades brasileiras, elaborada pela agência de jornalismo Repórter Brasil, com dados de testes realizados pelas empresas de abastecimento e reunidos pelo Ministério da Saúde. A análise mostrou que mais de 700 cidades apresentaram substâncias químicas e radioativas acima do limite permitido pelo Ministério da Saúde. Pior que dados alarmantes, a inexistência de informações: quase metade dos municípios (48%) não informaram os resultados dos testes feitos na água.
+ Confira o Mapa da Água e a situação na sua cidade.
Miriam Prochnow, co-fundadora e conselheira da Apremavi, propôs uma reflexão durante o evento: “Como a água nos toca? Onde ela nos encontra? É essencial relembrar nossas boas memórias, em rios, nascentes e cachoeiras, e confrontar com as agressões que nossa geração está promovendo. Os dados são assustadores, as mudanças climáticas já afetam o regime hídrico, trazendo secas e tragédias, como a que ocorreu em Petrópolis recentemente”. Vale ressaltar que tragédias como a citada não devem ser classificadas como “naturais”, mas sim antrópicas, até mesmo previsíveis, a partir de uma receita composta por mudanças no uso do solo, ocupação de APPs e descaso do Estado na proteção das florestas.
Miriam também lembrou que a poluição dos recursos hídricos é uma questão histórica no estado, que avanços já foram registrados no passado a partir de mobilizações da Sociedade Civil: “Em 1989 fizemos uma mobilização que chocou muitas pessoas em Blumenau. Buscamos chamar atenção para a qualidade da água. Ancoramos uma representação inusitada no rio, com uma faixa enorme”. Movidas por esperança, curiosidade ou indignação, muitas pessoas apoiaram o movimento e, já no início da década de 1990 Santa Catarina era vista como uma referência para a despoluição de mananciais.
Registro da mobilização realizada em Blumenau em 1989. Foto: Arquivo Apremavi.
Os especialistas defendem que o desmatamento seja zerado no Brasil imediatamente, caso contrário não existirá tempo para discutir e propor soluções que alterem a corrente de autodestruição em que ruma a sociedade. Confira a íntegra da live:
O professor João de Deus Medeiros, da UFSC, destacou a inação dos governos para a proteção dos cursos hídricos e do fornecimento de água. Pelo contrário, retrocessos aprovados nos últimos meses em diferentes instâncias, como o novo Código Ambiental de Santa Catarina (PL 18.350/2022) e o novo regramento para APPs em Áreas Urbanas (PL 14.285/2021) promovem a escassez e agravam a crise.
Petição pelas Águas do Brasil
A mesma coalizão que organizou a live no Dia da Água elaborou um manifesto sobre as Águas do Brasil, que se desdobra em um chamado para a manifestação popular, através de uma petição sobre o tema. O texto demanda uma investigação sobre a qualidade da água no Brasil, tendo em vista os dados divulgados no Mapa da Água.
Como ação concreta, é indicada a instalação de uma investigação minuciosa seguindo critérios das agências de controle (ANA e ANS), sob a supervisão do Ministério Público Federal e Polícia Federal, para apurar os seguintes fatos determinados:
1. Identificação das causas e dos responsáveis pela contaminação da água distribuída em numerosas cidades do Estado de Santa Catarina, e do Brasil, conforme amplamente divulgado pela mídia nacional, revelando a presença de substâncias nocivas à saúde, muitas vezes acima do limite permitido na legislação europeia e brasileira, como organoclorados, agrotóxicos, dentre outros;
2. Adoção das medidas cabíveis para que a população urbana e rural tenha acesso irrestrito a todas as informações que garantam o fácil entendimento de que suas águas são potáveis, saudáveis e seguras, resguardando os direitos inalienáveis de saciarmos nossa sede, nos alimentarmos, nos divertirmos, fazermos esportes aquáticos com segurança e celebrarmos nossos ritos religiosos,protegendo também o direito à vida de animais e plantas dos quais tanto dependemos.
3. Monitoramento da qualidade das águas (incluindo a quantificação de contaminantes emergentes) e plena transparência das informações, além da participação da sociedade civil organizada no planejamento das estratégias para garantir a qualidade dos recursos hídricos e o pleno saneamento básico.
+ Acesse e apoie a petição ‘Por uma Urgente e Profunda Investigação do Envenenamento da Nossa Água’
Matas Sociais viabiliza oficina sobre restauração no Paraná
Mudas de espécies nativas da Mata Atlântica produzidas pela Apremavi foram as protagonistas de uma oficina de capacitação para a restauração da Mata Ciliar, no assentamento Imbauzinho, próximo a cidade de Ortigueira (PR). Os participantes colocaram a mão na terra e realizaram o enriquecimento ecológico de uma APP com as mudas doadas através do Programa Matas Sociais.
A ação, associada ao Dia da Água, é resultado de uma parceria entre a Secretaria de Agricultura e do Meio Ambiente de Ortigueira com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-PR), a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP-PR) e Sindicatos dos Trabalhadores Rurais do município. Participaram da formação líderes comunitários e moradores do assentamento, composta por palestras relacionadas a conscientização do uso e conservação dos recursos hídricos, assim como a urgência da preservação ambiental das florestas nativas e dos componentes naturais.
Registro dos participantes da Oficina. Foto: Arquivo Apremavi.
Conservação do Solo e da Água em Debate
No Dia da Água (22/03), integrantes da equipe Apremavi estiveram juntos com produtores rurais, técnicos agrícolas e agrônomos no ‘Dia de Campo sobre Conservação do Solo e da Água’’ promovido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (EPAGRI) no Centro de Treinamento de Agronômica (CETRAG).
O evento contou com palestras sobre o atual estado de conservação dos solos do Alto Vale do Itajaí e com estandes temáticos para discutir boas práticas necessárias para conservação dos solos e da água nas propriedades. A Apremavi acompanhou o lançamento da campanha da Epagri “Vale Solo e Água: quem cuida colhe resultados” para o ano de 2022.
A Apremavi exibiu em um estande do evento ações e projetos que evidenciam a importância da restauração de paisagens na conservação e regeneração dos componentes naturais como o solo e a água. Também foram doadas 100 mudas nativas de diferentes espécies produzidas no Viveiro Jardim das Florestas.
Espaço da Apremavi no Dia de Campo promovido pela Epagri. Foto: Arquivo Apremavi.
Proteção das nascentes e dos rios em pauta na rádio
Ainda no Dia da Água, foi ao ar na Rádio Sintonia uma entrevista com Edilaine Dick, coordenadora de projetos da Apremavi, sobre as ações necessárias para a preservação dos recursos hídricos. A gravação colocou em destaque as possibilidades e caminhos para produtores rurais que buscam promover a restauração de áreas degradadas e o plantio de novas florestas.
Na oportunidade, Edilaine ainda compartilhou os principais resultados do projeto Restaura Alto Vale e reiterou o constante convite para que a comunidade conheça o trabalho e instalações da Apremavi, através de uma visita na sede, em Atalanta (SC). As visitas guiadas no Centro Ambiental e Viveiro da Apremavi estiveram suspensas desde o início da pandemia, mas agora estão sendo retomadas aos poucos. Para visitar a Apremavi, agende sua visita aqui.
Autor: Vitor Lauro Zanelatto.
Colaboração: Gabriela Goebel e William Villar de Castro Ribas.
Revisão: Carolina Schäffer.
Foto de Capa: Vitor Lauro Zanelatto.