Clima muda rápido demais para as florestas tropicais
As florestas tropicais das Américas, conhecidas por sua extraordinária biodiversidade e papel crucial na regulação do clima global, podem estar em descompasso com as mudanças climáticas. Um artigo publicado na revista Science revela que essas florestas não estão se adaptando com rapidez suficiente para acompanhar as alterações nas temperaturas e nos regimes de precipitação causados pelas mudanças climáticas. Até 2100, as projeções indicam um aumento de até 4 °C nas temperaturas e uma redução de quase 20% na precipitação em muitas regiões tropicais.
“Esses ambientes estarão sujeitos a climas que nunca enfrentaram antes”, relata o estudo. Com isso, é possível que, no futuro, comunidades vegetais completamente diferentes – e ainda desconhecidas – substituam as florestas tropicais atuais.
O trabalho analisou 6.000 parcelas permanentes de floresta e envolveu a colaboração de 134 cientistas de todo o mundo, dentre eles pesquisadores brasileiros. Eles observaram mudanças muito lentas na composição das espécies arbóreas nas últimas décadas – muito aquém da velocidade exigida pelas mudanças no clima. As mudanças observadas nas características das árvores representam apenas cerca de 10% do que seria necessário para acompanhar as alterações ambientais em curso.
Como as árvores são organismos de vida longa e com baixa taxa de renovação, a lentidão em acompanhar o clima pode levar a florestas cada vez mais vulneráveis. Isso significa que “as florestas estão ficando para trás em relação ao clima”. Essa lacuna crescente ameaça comprometer os serviços ecossistêmicos essenciais que essas florestas prestam, como a regulação do carbono, a proteção da biodiversidade e a manutenção dos ciclos hidrológicos.
Montanhas, secas e adaptações possíveis
O estudo também aponta que as florestas em regiões montanhosas tendem a responder mais rapidamente às mudanças, já que espécies podem migrar para altitudes mais adequadas em distâncias menores. Nas planícies, esse deslocamento é mais difícil.
Além disso, espécies com traços adaptativos à seca – como árvores caducifólias, que perdem as folhas durante a estação seca – podem se tornar mais comuns. Traços como tolerância à seca e maior plasticidade funcional serão cruciais para a sobrevivência das espécies no novo cenário climático.
Fragmentação e limitações à adaptação
Regiões como a Mata Atlântica e o sul da Amazônia brasileira apresentam uma vulnerabilidade ainda maioràs mudanças climáticas: nesses locais, a fragmentação florestal e outras pressões humanas dificultam a capacidade das florestas de se ajustarem, reforçando sua fragilidade.
Diante desse cenário, os cientistas reforçam a urgência de conservar áreas florestais intactas, restaurar ecossistemas degradados e criar corredores ecológicos que facilitem a migração natural das espécies. Mais do que nunca, compreender e apoiar os processos de adaptação natural é essencial para a sobrevivência desses ecossistemas – e, por extensão, do equilíbrio climático global.
A pesquisa também reforça a importância do monitoramento ecológico de longo prazo e do trabalho colaborativo entre cientistas, comunidades locais e tomadores de decisão para construir respostas eficazes diante da crise climática.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Wigold Schäffer.