Como protegemos nossas mudas nativas durante o inverno

28 jun, 2022 | Notícias, Viveiro Jardim das Florestas

A cerca de 500 metros de altitude, a área no coração de Santa Catarina, onde está instalado o Viveiro Jardim das Florestas, registra temperaturas negativas durante as intensas frentes frias do inverno, além de geadas e ventanias. 

Com a chegada do inverno a germinação e crescimento das plantas perde velocidade. São meses de verdadeira resistência às baixas temperaturas, aos menores índices de incidência solar, à geada nas folhas e congelamento do solo e aos ventos intensos que são frequentes durante a estação, sobretudo no Sul e Sudeste do Brasil.

Desde o início do Viveiro Jardim das Florestas a Apremavi infelizmente já registrou perdas no estoque e nas estruturas, principalmente por eventos extremos de geada e ventanias, e mais recentemente por um ciclone-bomba. Dezenas de milhares de mudas foram perdidas em anos de inverno intenso, e muitas outras tiveram o crescimento prejudicado.

Registro das consequências da geada em 2000, uma das mais intensas já registradas no viveiro.
Foto: Miriam Prochnow.

Esses episódios incentivaram nossos viveiristas a pesquisar e testar novas formas de mitigar os prejuízos. Paralisar ou reduzir a produção não é uma opção, já que essa medida representaria a diminuição da quantidade de espécies no viveiro, além de comprometer a oferta de mudas grandes e rustificadas para os plantios durante as outras estações.

Foram aplicados e testados recursos, soluções naturais e principalmente criatividade para mitigar os efeitos do frio. Os esforços renderam resultados positivos: nos últimos anos o número de perdas no viveiro reduziu consideravelmente.

Confira algumas estratégias que podem representar a sobrevivência das mudinhas durante o inverno:

Acondicionamento das mudinhas recém repicadas no interior de estufas

Considerando a fragilidade das pequenas mudas recém transplantadas nas embalagens é imprescindível que em épocas frias susceptíveis a geadas e a ventos fortes elas estejam protegidas das intempéries para que possam se desenvolver. As mudas nas estufas significam melhor crescimento e desenvolvimento devido a esse ambiente a temperatura ser mais elevada que o ambiente externo.

Manejo das mudas no interior da estufa. Foto: Vitor Lauro Zanelatto. 

Identificar as espécies mais sensíveis

Cada espécie reage de modo diferente ao frio, devido a morfologia vegetal e também das características adquiridas por conta da evolução e do habitat. Algumas apresentam muita resistência, como é o caso da araucária (Araucaria angustifolia), já outras demandam cuidados específicos para a sobrevivência, como é o caso do palmito-juçara (Euterpe edulis), que na floresta é protegido do frio e do vento pela copa de árvores maiores. É preciso observar quais espécies precisam de cuidados adicionais e armazenar as mudas nos espaços com maior proteção.

Identificação de espécies sensíveis ao frio. Foto: Vitor Lauro Zanelatto. 

Mudanças na rotina de irrigação 

A geada nas folhas se dá através da formação de cristais de gelo por conta do frio intenso. Em dias de baixa umidade, a irrigação nas horas mais frias pode significar a adição do elemento que formará a geada. Já em dias onde a água foi depositada sob as folhas naturalmente, a irrigação contínua até o nascer do sol poderá impedir a formação de gelo, já que a temperatura da água é maior que a do próprio ambiente.

Essa prática pode significar o aumento do consumo de água e é considerada uma medida extrema, justificada apenas nos dias mais frios do ano ou de alerta de geada intensa.

A mudança na rotina da irrigação pode colaborar com a redução de danos no viveiro. Foto: Vitor Lauro Zanelatto. 

Proteção das folhas com coberturas

Para impedir a deposição de água nas folhas e reduzir a velocidade dos ventos, as bancadas de armazenamento recebem cobertura com sombrite, uma malha sintética com a capacidade de regular a incidência solar e de materiais.

Durante os meses de frio, coberturas adicionais são instaladas no viveiro. Foto: Vitor Lauro Zanelatto. 

Atenção aos fungos e bactérias perniciosas

O frio faz com que o manejo das mudas seja diferente durante o inverno. O estoque fica mais concentrado, com menor espaçamento entre os indivíduos e circulação de ar reduzida, no caso das estufas ou caso haja limitadores de correntes de ar no viveiro. Esses e outros fatores podem favorecer o crescimento e a disseminação de microorganismos nocivos às plantas.

As análises da saúde das plantas, que já ocorrem no viveiro, devem ter frequência ampliada. Caso alguma contaminação seja identificada a fração do estoque afetada deve ser isolada e tratada, de preferência com misturas de compostos orgânicos ou de baixa toxicidade.

Uma das soluções utilizadas na Apremavi é a calda bordalesa, um fungicida permitido na agricultura orgânica formulado com sulfato de cobre e cal. A aplicação nas folhas controla várias doenças causadas por fungos (míldio, ferrugem, cercosporiose, antracnose, entre outras). Tem também efeito repelente contra alguns insetos.

A observação das folhas, caule e do substrato é essencial para identificar injúrias causadas por bactérias e fungos. Foto: Vitor Lauro Zanelatto. 

Aumento da temperatura com fogueiras

No viveiro, uma área de poucos metros pode armazenar milhares de mudas nativas. Essa concentração dá sentido ao aumento da temperatura do ambiente de modo antrópico, possível através de diferentes estratégias; na Apremavi, fogueiras foram acesas ao lado das bancadas no último ano. A serragem utilizada como combustível limita a formação de chamas, aumentando a segurança do processo e a temperatura do ambiente de modo distenso.

Fogueiras utilizadas para a proteção das mudas em 2021. Foto: Vitor Lauro Zanelatto. 

Avaliação da viabilidade do plantio

Por vezes, o plantio e consequente exposição das mudas aos eventos climáticos típicos do inverno significa a morte de parte das mudas. As características do tempo e do clima devem ser observadas e, sempre que viável, o plantio postergado para períodos que propiciem o crescimento rápido das plantas.

Adiar o plantio em algumas semanas ou meses pode significar melhores condições para o desenvolvimento das mudas após o plantio. Foto: Vitor Lauro Zanelatto. 

Referências Bibliográficas

EMBRAPA Agropecuária Oeste. Calda Bordalesa: utilidades e preparo. 2008. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/38833/1/FOL200837.pdf. Acesso em: 25 jun. 2022.
PROCHNOW, Miriam (Org.). No Jardim das Florestas. Rio do Sul: APREMAVI, 2007.

Autor: Vitor Lauro Zanelatto
Revisão: Carolina Schäffer e Edilaine Dick

Pin It on Pinterest