Década da Restauração: por que o monitoramento da fauna é tão importante?

28 maio, 2024 | Notícias

Avançar na restauração ecológica demanda também um olhar atento aos moradores da mata: avaliar a fauna e suas contribuições na promoção da biodiversidade das áreas alteradas é primordial para que condições similares às de antes da antropização sejam estabelecidas.

Para isso, organizações têm dedicado esforços no monitoramento e identificação dos animais que vivem em áreas conservadas ou que receberam plantios de mudas, estão em processo de condução da regeneração natural ou alguma outra técnica para a recuperação das espécies nativas. O Instituto Çarakura, Unidade Regional do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica em Santa Catarina ao lado da Apremavi, é um dos atores que está trabalhando ativamente desde 2021 para alcançar este objetivo. 

Os estudos são realizados principalmente com busca ativa nas áreas e uso de armadilhas fotográficas – câmeras que realizam registros a partir da percepção de movimento – que são estrategicamente instaladas em trilhas e estradas onde há sinais de passagem de animais, como rastros ou pegadas. Normalmente, essas armadilhas são deixadas nos locais selecionados por pelo menos quinze dias, permitindo a obtenção de uma quantidade significativa de dados sobre a fauna local.

Os registros obtidos são analisados posteriormente, de acordo com procedimentos indicados pela bibliografia. De maneira geral, o resultado é uma lista de espécies com ocorrência registrada na região através de fotografias e vídeos, que pode ser lapidada através de métodos estatísticos para determinar abundância relativa (tamanho da população) de cada espécie. Os dados ainda podem mostrar status de conservação, características do comportamento dos animais, como padrões de atividade e hábitos de predação, alimentação e reprodução.

Foto em destaque: Cutia (Dasyprocta azarae). Foto: Abujoy [CC BY-SA 2.5]. Galeria: Registros de fauna registrados em áreas em processo de restauração. Fotos: Arquivo Apremavi.

Além disso, o Instituto Çarakura utiliza câmeras fotográficas ou celulares para registros diários durante caminhadas pelas trilhas das Unidades de Conservação nas quais ele atua. Esses registros incluem tanto avistamentos diretos de animais quanto registros de pegadas e outros sinais encontrados ao longo das trilhas. Além da migração dos animais, é possível acompanhar as mudanças ao longo do tempo, obter sinalizações acerca da eficiência das conexões entre remanescentes florestais, o que permite um maior fluxo gênico, aumento da área para a busca de recursos (como água, alimento e abrigo) e para o desenvolvimento das populações da fauna. 

Para Fábio Penna, colaborador do Çarakura, os monitoramentos têm outra função importante: sensibilizar pessoas e instituições para a conservação da biodiversidade, desde as espécies-bandeira até ecossistemas completos. “Apresentamos os resultados dos monitoramentos ao público nas atividades de educação ambiental, palestras, oficinas e redes sociais, ajudando a aumentar a conscientização sobre a importância das Unidades de Conservação para a fauna e a inspirar ações de proteção por parte da comunidade.”, destaca Penna.  

Os dados produzidos também são compartilhados para uso em produções acadêmicas: pesquisas de graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – Campus Florianópolis e Curitibanos estudam as informações levantadas nos parques estaduais Rio Canoas, Serra do Tabuleiro e Fritz Plaumann, onde o Instituto mantém termos de colaboração para apoiar a gestão das Unidades de Conservação (UCs).

Penna compartilha algumas evidências levantadas graças aos esforços para o monitoramento da fauna nas UCs: “As pesquisas de monitoramento têm documentado uma rica diversidade de espécies de aves, répteis e, especialmente, mamíferos. Entre os mamíferos registrados, estão espécies ameaçadas de extinção, como por exemplo a onça-parda (Puma concolor) e o gato-do-mato-pequeno (Leopardus guttulus). Os dados obtidos a partir desses monitoramentos revelam padrões de comportamento, distribuição e sazonalidade das diferentes espécies. Essas descobertas são compartilhadas em oficinas educativas sobre fauna e também publicadas nas redes sociais dos parques, contribuindo para a conscientização sobre a biodiversidade e o valor da conservação das áreas protegidas.”

Atividades para o monitoramento da fauna em Atalanta (SC), e registros de animais que ocorrem na Mata Atlântica. Fotos: Arquivo Apremavi.

O monitoramento da fauna na Apremavi

Através do projeto Cuidando da Mata Atlântica, em parceria com a The Vita Coco Company, a Apremavi também está ampliando sua estratégia de pesquisa para o monitoramento da fauna da Mata Atlântica, com foco na mastofauna e na avifauna, em áreas restauradas e conservadas. Além disso, a nova versão do Protocolo do Monitoramento da Restauração da Apremavi prevê o registro de indicadores básicos para avaliação da presença da fauna nas áreas onde projetos de restauração ecológica foram realizados.

Carolina Schäffer, Coordenadora de Projetos na Apremavi, destaca as últimas atividades de monitoramento realizadas pela instituição: “A presença da fauna é um indicador relevante do sucesso da restauração dos ecossistemas, por isso, cada vez mais estamos olhando para nossas áreas de atuação para entendermos se a dinâmica ecológica nesses espaços está se aproximando do que era encontrado ali na sua formação original. Nossos estudos estão sendo conduzidos, a princípio, em Atalanta (SC), onde já identificamos várias espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios, entre elas ameaçadas. A ideia é conduzir levantamentos de fauna em todas as áreas de atuação da instituição para termos maior clareza da curva de sucesso dos processos de restauração conduzidos pela Apremavi ao longo dos anos“.

 

 

Autor: Vitor Lauro Zanelatto
Colaboração: Fábio Penna
Revisão: Carolina Schäffer e Thamara Santos de Almeida
Foto de capa: slowmotiongli/Adobe Stock

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