Dona Helena e a vontade de ter um pedacinho de terra | Mulheres que Restauram
“Há 35 anos trocamos um fusca pela terra que a gente mora hoje. Fizemos disso aqui nosso paraíso e hoje não troco essa terra nem por 20 fuscas”, é assim que começa a história de restauração de Helena de Jesus Moreira, a Dona Helena.
Dona Helena é do Maranhão, o marido é de Santa Catarina; depois de um namoro a distância firmaram residência em Cotriguaçu, Mato Grosso. “Quando chegamos aqui era tudo mato e nossa mentalidade na época, infelizmente, era derrubar todas as árvores, estávamos acostumados com o campo, então começamos a abrir espaço. Imaginávamos inclusive, que iríamos precisar comprar até o terreno dos vizinhos, porque a área do nosso ia ser pequena demais para nós dois” complementa Helena.
Por sorte, e por uma indicação da Pastoral da Terra, Dona Helena acabou fazendo um curso de Agricultura Familiar oferecido por uma Escola Técnica da região. “A cada etapa do curso que eu ia concluindo eu me dava conta que a gente já tinha derrubado demais; que para sobreviver já tínhamos terra suficiente em cultivo”, informa Helena que depois de seis meses convenceu o marido a largar o emprego da cidade e viver só do cultivo da terra. “Hoje nós dois moramos, trabalhamos e vivemos dessa terra; temos liberdade, dinheiro e felicidade. E a floresta é abrigo de muitos animais… macacos, araras, nenhum bicho é triste aqui na minha terra”.
Óleo de babaçu, doce de buriti, castanha e açaí, estes são alguns dos produtos que Dona Helena tira da floresta que ela ajudou a restaurar. Além disso, ela coleta sementes das árvores que plantou e ajuda a manter um viveiro de mudas nativas no Município de Cotriguaçu. “Precisamos passar para os outros o conhecimento que adquirimos, e esse viveiro é uma das formas de fazer isso. Só a mãe natureza é capaz de nos garantir a vida, o bem-viver e o bem-estar”, comenta Helena que é uma das lideranças da APROFECO (Associação dos Produtores Feirantes de Cotriguaçu) e Conselheira Fiscal da REPOAMA (Rede de Produção Orgânica da Amazônia Mato-grossense), ambas parceiras do Instituto Centro de Vida (ICV) no âmbito do Projeto Valorizando Cadeias Socioprodutivas na Amazônia e do Projeto Agroecologia em Rede.
O projeto foi iniciado em 2018, tem apoio do Fundo Amazônia/BNDES, e atua diretamente com associações e cooperativas de agricultores familiares que trabalham em seis cadeias socioprodutivas – Castanha, Babaçu, Hortifrutigranjeiros, Leite, Cacau e Café, e estão distribuídos nos municípios do Norte (Alta Floresta, Paranaíta, Nova Monte Verde e Nova Bandeirantes) e Noroeste (Cotriguaçu e Colniza) do Mato Grosso.
As atividades estão vinculadas às diferentes etapas das cadeias (da produção ao consumo), no fortalecimento da gestão das organizações envolvidas, no incentivo à pesquisa e políticas públicas. O objetivo é que os grupos comunitários e suas práticas de produção sustentável sejam fortalecidos contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos agricultores e para a manutenção das florestas.
Este é o segundo capítulo da série Mulheres que Restauram. Uma iniciativa da Apremavi na #DécadaDaRestauração, realização do ICV e da Apremavi, com apoio do GT de Gênero e Clima do Observatório do Clima.
Mulheres que Restauram
Este é o segundo capítulo da série Mulheres que Restauram, lançada este ano, no Dia da Terra, com a história de Ercília Felix Leite.
Mulheres que Restauram é uma iniciativa da Apremavi na Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas, com apoio do GT de Gênero e Clima do Observatório do Clima, e tem o objetivo de divulgar histórias de mulheres protagonistas na restauração e no planejamento de propriedades e paisagens, como forma de conscientizar a sociedade sobre a importância da atuação feminina na mitigação da crise do clima e promover o plantio de árvores nativas e a recuperação de áreas degradadas.
Autora: Carolina Schäffer.