Erva-mate, uma árvore de tradição

2 fev, 2010 | Guia de Espécies

A erva-mate, conhecida cientificamente por ilex paraguariensis, é originária da Mata Atlântica e pode ser encontrada nas florestas dos três estados do sul do Brasil, no norte da Argentina, Paraguai e Uruguai. Sua árvore pode atingir mais de oito metros de altura. O caule é curto e cinza e as folhas são ovais e coriáceas. O fruto é pequeno e pode ser verde ou vermelho-arroxeado.

A extração e cultivo da erva-mate é uma tradição antiga. Os primeiros a utilizarem a planta, fazendo uma infusão com as folhas, foram os índios Guaranis e Quínchua, que habitavam a região das bacias dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, na época da chegada dos colonizadores espanhóis.

A origem da palavra mate deriva do quíchua matty, nome dado para a cuia, o recipiente onde o chá mate era bebido por estes povos. Com o passar do tempo, o hábito de tomar chimarrão (feito com água quente) ou tererê (feito com água fria/gelada ou limonada) popularizou-se principalmente nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil, sendo também consumido na Argentina, Uruguai, Paraguai e em algumas localidades do Chile e do Peru.

A erva-mate é conhecida por suas propriedades estimulantes e digestivas, sendo que o mate pode ser considerado o chá oficial do Brasil, uma vez que além do uso tradicional sob forma de chimarrão ou tererê, o mate também é consumido como chá quente ou chá mate gelado no verão, comum nas praias do litoral brasileiro.

Além das tradicionais destinações da erva-mate (chimarrão, chá, refrigerante), a sua utilização na indústria química (tintas e resinas, medicamentos, desinfetantes e outros produtos), começa a crescer, embora ainda de forma reduzida.

Por ser uma planta capaz de combater doenças, como anemia, diabetes e depressão, e possuir um grande valor nutricional, a erva mate era considerada desde a época dos indígenas como um néctar dos deuses.

O mate contém quase todos os nutrientes que o organismo humano precisa e é capaz de estimular a atividade física e mental. Estudos mostram que estão presentes na erva vitaminas como as do complexo B, C, D e E, e sais minerais, como cálcio, manganês e potássio.

A erva mate combate células cancerígenas e retarda o envelhecimento. A principal característica é que ela tem o poder de eliminar a oxidação das células de colesterol ruim. O mate evita o acúmulo de placas de ateroma que causam o entupimento das artérias.

O chá mate, além de auxiliar na digestão e na hidratação, é um estimulante oferecendo mais ânimo e disposição. Entretanto, o consumo deste produto deve ser dosado caso o usuário sofra de insônia ou irritabilidade. As pessoas agitadas, nervosas ou que têm insônia devem evitar o consumo do chá mate a noite.

A erva mate é colhida em ciclos de dois em dois anos. A poda da planta jovem estimula a brotação e facilita a colheita das folhas, a condução dos brotos em forma de taça, facilita as colheitas e a planta é mantida com cerca de três metros de altura.

O cultivo da erva-mate abrange cerca de 180 mil propriedades dos estados do Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, este último responsável por pelo menos 75% da produção nacional. Emprega, direta e indiretamente, mais de 700 mil pessoas. As propriedades em que ela é cultivada são, na maioria, pequenas e médias o que lhe assegura uma importância social expressiva. Em Santa Catarina, o município de Canoinhas é considerado a capital da erva mate.

Também tem aumentado o cultivo da erva-mate orgânica, o que traz um diferencial na produção e na qualidade do produto. A erva-mate também é uma espécie-chave na composição de Sistemas Agroflorestais no Sul do Brasil, juntamente com a araucária.

Segundo dados pesquisados no município de Turvo (PR), uma família, por exemplo, com uma propriedade de 13,8 hectares, alcança produção anual de 300 a 400 arrobas de erva-mate. Nas propriedades que possuem este produto certificado como orgânico o preço quase dobra. Em 2008 a arroba de erva-mate (saca com 15 quilos do produto verde ou beneficiado) cultivada nos modelos tradicionais alcançou entre R$ 4,50 e R$ 5,50. Já com a certificação de erva orgânica, o preço da arroba chegou a R$ 8,20. Devido à qualidade do produto, sua comercialização atingiu o mercado exterior, através do contrato com uma empresa americana, a Guayakí, que no ano de 2008 adquiriu 90 toneladas da erva-mate orgânica.

A certificação da erva-mate passa por ações de fiscalização e padronização de qualidade, visando obter um produto que esteja sendo produzido num ambiente equilibrado e numa propriedade que atenda à legislação ambiental. Pesquisadores analisaram que a melhor erva-mate é a sombreada, ou seja, aquela cujas folhas são extraídas do interior da floresta. A erva-mate sombreada apresenta melhor composição natural, não tendo suas propriedades químicas alteradas pela exposição ao sol, por exemplo.

A certificação da erva-mate, produzida no Sul do Brasil, representa um importante passo na introdução da certificação florestal no país. Foi o primeiro produto não-madeireiro a receber o selo FSC por meio da adoção de critérios específicos para produtos não-madeireiros em remanescentes da Mata Atlântica. Atestada pela certificadora Smartwood, que trabalha através do Imaflora, a certificação é a garantia da prática de um manejo florestal ambientalmente adequado, socialmente justo e economicamente viável.

A ervateira Putinguense, sediada no município de Putinga, estado do Rio Grande do Sul, foi a primeira a cumprir o rigoroso processo da certificação socioambiental. O selo, concedido em março de 2003, gerou um impacto imediato na valorização da erva-mate.

A erva-mate é uma das espécies produzidas no viveiro Jardim das Florestas da Apremavi. O fruto é colhido maduro para retirar as sementes. As sementes são enterradas na areia fina por aproximadamente seis meses, num processo chamado de escarificação (camadas alternadas de sementes e areia). Depois desse período as sementes são colocadas para germinar numa sementeira, sendo que a germinação ocorre após mais dois meses. Depois elas são passadas para “saquinhos”, onde ficam de quatro a seis meses na estufa para atingirem um padrão de 15 a 20 cm, quando podem ir para o campo.

As técnicas de plantio, apesar de não serem complexas, requerem atenção. Para que o cultivo desta planta seja realizado com sucesso é preciso saber que os melhores dias para o plantio são os dias sem sol. A plântula é muito sensível ao sol, por isso exige sombreamento até que a planta atinja alguma maturidade. As plantas nativas se reproduzem por meio de pássaros que ingerem o pequeno fruto e defecam sua semente já escarificada.

Plantio de erva-mate no sub-bosque de mata secundária. Foto: Acervo Apremavi.

Erva-mate

Nome científico: Ilex paraguarienses A. ST.-Hil.
Família: Aquifoliaceae
Utilização: usada para lenha e fabricação dos caixotes. Suas folhas são utilizadas para fazer “mate”, ou chimarrão, um dos mais conhecidos chás do país. Seus frutos são consumidos por várias espécies de aves.
Coleta de sementes: diretamente da árvore quando começar a queda espontânea dos frutos.
Época de coleta de sementes: janeiro a março.
Fruto: vermelho escuro, roxo, com pouca polpa.
Flor: branca.
Crescimento da muda: médio a lento.
Germinação: lenta – necessitando de estratificação.
Plantio: mata ciliar, área aberta, sub-bosque.

Agricultor ao lado dos pés de erva-mate plantados por ele. Foto: Acervo Apremavi.

Autoras: Miriam Prochnow e Tatiana Arruda Correia.

Fontes Consultadas:

Análise de Compostos Fenólicos, Metilxantinas, Tanino e Atividade Antioxidante de Resíduo do Processamento da Erva-Mate: Uma Nova Fonte Potencial de Antioxidantes. Disponível em:
http://www.google.com/search?hl=pt-BR&rls=com.microsoft:pt-br:IE-SearchBox&q=erva+mate+e+saude+pdf&start=10&sa=N Data de acesso: 25 jan. 2010.

ERVA MATE. Blog Multivegetal. Disponível em: http://blog.multivegetal.com/ Data de acesso: 24.jan. 2010.

ERVA MATE . Revista rural. n° 103 – setembro 2006. Disponível em: http://www.revistarural.com.br/Edicoes/2006/Artigos/rev103_erva_mate.htm. Data de acesso: 24 jan. 2010.

HEINRICHS, R.; MALAVOLTA, E. Mineral composition of a commercial product from mate-herb (Ilex paraguariensis St. Hil.). Ciência Rural, Santa Maria, v. 31, n. 5, p. 781-785, 2001.

LORENZI, HARRI. Árvores Brasileiras: Manual de Identificação e Cultivo de Plantas Arboóreas Nativas do Brasil. vol.1, 3ª ed. – Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2000.

PROCHNOW, M (org). No Jardim das Florestas. Rio do Sul: APREMAVI, 2007. 188p.

PICONE, Claudia (coordenação). O Uso Sustentável dos Recursos Naturais na Floresta com Araucárias. The Nature Conservancy (TNC). [2009].

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