Florestas maduras da Mata Atlântica em perigo
A Mata Atlântica carrega um histórico de devastação que se confunde com a própria formação do Brasil ao longo dos séculos. Apesar dos avanços na restauração ecológica do bioma, a destruição de florestas maduras segue em ritmo acelerado.
Embora a Lei da Mata Atlântica proíba o desmatamento, permitindo sua remoção apenas em circunstâncias excepcionais, voltadas ao interesse social e a fins públicos, um estudo publicado na revista Nature Sustainability por pesquisadores brasileiros revela que a perda dessas florestas continua ocorrendo de maneira alarmante.
Entre 2010 e 2020, foram identificados 14.401 polígonos de desmatamento, resultando na perda de 186.289 hectares de florestas maduras. A maioria dessas perdas ocorreu em pequenas propriedades privadas, para a expansão agropecuária. Também foram registradas degradações menores, dentro de Unidades de Conservação e Terras Indígenas.
Embora a tendência de desmatamento tenha diminuído na região Sudeste, no Centro-Oeste, Sul e Nordeste os índices aumentaram ao longo do tempo. A maior perda anual foi registrada na Bahia (26% do total) e em Minas Gerais (34%), que juntas somam metade do desmatamento de florestas maduras. No Sul, Paraná (12%) e Santa Catarina (4%) também apresentaram aumento na remoção dessas florestas, concentrada principalmente sobre a Floresta Ombrófila Mista (94%).
Os dados indicam que 73% das áreas desmatadas estavam em propriedades privadas, enquanto apenas 8% da perda ocorreu em unidades de conservação, terras indígenas e territórios de comunidades tradicionais. Essas florestas representam cerca de 12,4% da cobertura florestal do bioma e são essenciais para a conservação da biodiversidade e do carbono armazenado na Mata Atlântica.
Impactos na biodiversidade e soluções possíveis
O desmatamento de florestas maduras impacta diretamente a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos. A Mata Atlântica abriga altos índices de endemismo e espécies ameaçadas, sendo altamente vulnerável a processos de extinção. Quase metade (44%) de suas espécies arbóreas está sob risco, e entre as endêmicas esse percentual chega a 86%.
Apesar das altas taxas de regeneração florestal (áreas superiores a 700 mil hectares entre 2011 e 2015), as novas florestas apresentam menor biodiversidade, biomassa e estoque de carbono. Além disso, cerca de um terço dessas florestas regeneradas é novamente perdido antes de atingir oito anos de idade.
A falta de fiscalização e governança eficaz contribui para a ilegalidade do desmatamento. Para conter essa perda, os pesquisadores destacam a importância de ações integradas, como:
- Criação e fortalecimento das Unidades de Conservação;
- Aplicabilidade efetiva da Lei da Mata Atlântica e do Código Florestal;
- Mecanismos financeiros, como mercado de carbono e Pagamentos por Serviços Ambientais;
- Proteção de territórios indígenas e quilombolas, que têm se mostrado fundamentais para frear o desmatamento.
Internacionalmente reconhecida como um hotspot de restauração, a Mata Atlântica tem recebido atenção para projetos de recuperação ecológica. No entanto, os especialistas alertam que o foco na restauração não pode desviar os esforços de conservação e controle do desmatamento, uma condição essencial para garantir um futuro viável para o bioma. Conservação e restauração andam juntas.
Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Arquivo Apremavi.