Gato-do-mato-pequeno: o menor felino do Brasil
O gato-do-mato-pequeno ou gato-do-mato-do-sul (Leopardus guttulus) é considerado o menor felino do Brasil, pesando cerca de 1 a 3 kg. De aparência delicada e pelagem marcada por rosetas escuras, ou completamente preta nos indivíduos melânicos (aumento da concentração de melanina).
Distribuição e características
Ocorre principalmente no Brasil, com registros também no Paraguai e nordeste da Argentina, especialmente nos domínios da Mata Atlântica e do Cerrado. Entretanto, parece apresentar uma maior afinidade pela Mata Atlântica, onde há mais registros e populações aparentando maior viabilidade. O estado de Santa Catarina é considerado uma das regiões mais importantes para a conservação da espécie, abrigando áreas contínuas de floresta, Unidades de Conservação e populações estáveis.
Por muito tempo, o Leopardus guttulus foi considerado uma subespécie do gato-do-mato (Leopardus tigrinus), mas análises genéticas e morfológicas recentes levaram ao seu reconhecimento como espécie distinta. Sua pelagem é densa e os pelos crescem todos voltados para trás, inclusive na cabeça e nuca, uma característica pouco comum entre os felinos.
Ecologia e habitat
Apesar de sua distribuição ampla, o gato-do-mato-pequeno é fortemente associado a ambientes florestais. Pode ser observado em áreas alteradas, como áreas de silvicultura e agrícolas, mas apenas quando essas estão próximas à vegetação nativa. Sua dieta é composta principalmente por pequenos roedores, lagartos e aves, presas geralmente com menos de 1 kg, desempenhando a função de controlador das populações desses animais nos ecossistemas que habita.
Sua atividade pode ser tanto noturna quanto catemeral (atividade irregular ao longo do dia e da noite), variando de acordo com a presença de competidores, presas ou perturbações humanas.
Ameaças
Como muitas outras espécies da Mata Atlântica, o Leopardus guttulus sofre pela perda e fragmentação do habitat, sendo forçado a ocupar áreas cada vez menores e isoladas. Também enfrenta riscos de atropelamentos em estradas, abate por conflitos com criadores de galinhas e a da transmissão de doenças oriundas de animais domésticos. Por isso, a espécie é classificada como “Vulnerável” tanto pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) quanto pela lista nacional do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
Pesquisa e conservação
Diversas instituições têm se mobilizado para compreender e proteger a espécie. O Instituto Pró-Carnívoros e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por exemplo, realizam estudos sobre densidade populacional e ecologia do Leopardus guttulus. Já o Plano de Ação Nacional para Conservação dos Pequenos Felinos (PAN Pequenos Felinos) do ICMBio, em seu segundo ciclo, contempla a espécie e outros cinco táxons ameaçados, com o objetivo de ampliar o conhecimento e mitigar as principais ameaças às suas populações no prazo de cinco anos.
A conservação da espécie depende da continuidade de atividades de pesquisa, da conservação e conexão dos remanescentes florestais através de corredores ecológicos, da redução de ameaças diretas e indiretas e do engajamento das comunidades locais na coexistência com a fauna silvestre.
Gato-do-mato-pequeno (Leopardus guttulus) registrado nas áreas restauradas da Apremavi por meio de armadilhas fotográficas. Foto: Arquivo Apremavi.
Gato-do-mato-pequeno
Nome científico: Leopardus guttulus.
Família: Felidae.
Habitat: principalmente florestas.
Dieta: Carnívoro.
Peso: entre 1 a 3 kg.
Hábito de vida: pode ser tanto noturna quanto ter uma atividade irregular ao longo do dia e da noite.
Distribuição: América do Sul.
Ameaças: caça, perda de habitat, fragmentação e atropelamento.
Status de conservação: Vulnerável tanto pela União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN) quanto pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
Referências consultadas:
OLIVEIRA, TG de et al. Aspectos ecológicos de Leopardus tigrinus e outros felinos de pequeno-médio porte no Brasil. TG OLIVEIRA. Plano de ação para conservação de Leopardus tigrinus no Brasil. Atibaia: Instituto Pró-Carnívoros/Fundo Nacional do Meio Ambiente, p. 37-105, 2008.
OLIVEIRA, T. et al. Leopardus guttulus. The IUCN Red List of threatened species 2016: e. T54010476A54010576 [em linha]. 12 abr. 2016.
INSTITUTO PRÓ-CARNÍVOROS – Pró‑Carnívoros. Gato‑do‑mato‑do‑sul (Leopardus guttulus). Disponível em: https://procarnivoros.org.br/animais/gato-do-mato-do-sul/. Acesso em: 19 jun. 2025.
SARTOR, Caroline Charão. Influência do ambiente e degradação do habitat na ocorrência e fluxo gênico de duas espécies de felídeos neotropicais (Leopardus guttulus e L. geoffroyi). 2020.
TRIGO, Tatiane C. et al. Comparative assessment of genetic and morphological variation at an extensive hybrid zone between two wild cats in southern Brazil. PLoS One, v. 9, n. 9, p. e108469, 2014.
TRIGO, T. C. et al. Inter‐species hybridization among Neotropical cats of the genus Leopardus, and evidence for an introgressive hybrid zone between L. geoffroyi and L. tigrinus in southern Brazil. Molecular ecology, v. 17, n. 19, p. 4317-4333, 2008.
Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Carolina Schäffer e Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Registro do gato-do-mato-pequeno (Leopardus guttulus) por meio de armadilhas fotográficas em área restaurada pela Apremavi. Foto: Arquivo Apremavi.