Paisagens da Mata
A Mata Atlântica abriga diferentes tipos de vegetação que se traduzem em uma grande diversidade de paisagens.Apesar de originalmente compor uma grande floresta contínua, a Mata Atlântica recebeu, ao longo do tempo, diferentes denominações. Essas variações refletem os critérios adotados por pesquisadores para classificar suas formações florestais, considerando aspectos fitofisionômicos (relativos à forma da vegetação) e florísticos (relativos à composição de espécies).
Com o reconhecimento da Mata Atlântica como Patrimônio Nacional pela Constituição Federal de 1988, tornou-se fundamental estabelecer uma definição clara das áreas pertencentes ao bioma para orientar as políticas públicas de conservação.
Nesse contexto, a Fundação SOS Mata Atlântica organizou, em 1990, um seminário que reuniu especialistas e pesquisadores de todo o país. Além dos critérios fitofisionômicos, o encontro passou a considerar também os processos ecológicos que interligam os diferentes ecossistemas do bioma, como a relação entre a restinga e a mata, o deslocamento de animais, o fluxo genético entre populações e as áreas de transição conhecidas como zonas de tensão ecológica. O seminário revelou que o bioma era muito mais amplo do que se imaginava. Até então, apenas a Floresta Ombrófila Densa era reconhecida como Mata Atlântica. Como resultado dos debates, foi adotado o conceito de Domínio da Mata Atlântica, englobando todas as áreas que originalmente compunham essa cobertura florestal contínua. Essa definição foi posteriormente reconhecida pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) em 1992 e incorporada ao Decreto nº 750/1993. Atualmente, ela é a base legal estabelecida pela Lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.428/2006).
Fitofisionomia é o termo utilizado para descrever os diferentes aspectos visíveis da vegetação, como estrutura, porte, densidade e formas de vida predominantes. Na Mata Atlântica, essa diversidade de formas vegetacionais resulta em uma grande variedade de paisagens.
Os ecossistemas que formam o bioma e conferem toda essa riqueza visual e ecológica à Mata Atlântica são:
Floresta Ombrófila Densa
O termo ombrófila (de origem grega) significa “amigo das chuvas”, por isso, a principal característica ecológica da Floresta Ombrófila são as elevadas taxas de precipitação bem distribuídas ao longo do ano e temperaturas médias acima de 15ºC.
A Floresta Ombrófila Densa constitui um prolongamento da faixa florestal que acompanha a costa brasileira desde o Ceará ao Rio Grande do Sul, localizada principalmente nas encostas da Serra do Mar, da Serra Geral e em ilhas situadas no litoral entre os estados do Paraná e do Rio de Janeiro. É marcada pelas árvores de copas altas, que formam uma cobertura fechada.
Floresta Ombrófila Mista
A Floresta Ombrófila Mista, também chamada de Floresta com Araucárias, é um ecossistema da Mata Atlântica característico dos planaltos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, e de maciços descontínuos, nas partes mais elevadas de São Paulo, Rio de Janeiro e Sul de Minas Gerais.
Sua fisionomia natural é caracterizada pelo predomínio da Araucaria angustifolia, uma árvore de grande porte cujas copas dão um destaque especial à paisagem. No sub-bosque da floresta, bastante denso, ocorre uma complexa e grande variedade de espécies como a canela sassafrás, a imbuia, a erva-mate e o xaxim, algumas delas endêmicas.
Foi reduzida a menos de 3% da sua área original.
Floresta Ombrófila Aberta
Na Floresta Ombrófila Aberta a vegetação é mais aberta, sem a presença de árvores que fechem as copas no alto.
Ocorre em regiões onde o clima apresenta um período de dois a, no máximo, quatro meses secos por ano, com temperaturas médias variando entre 24º C e 25º C.
É encontrada, por exemplo, nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Alagoas.
Floresta Estacional Semidecidual
A Floresta Estacional Semidecidual, ou também conhecida como Floresta Tropical Subcaducifólia, tem uma dupla estacionalidade climática: uma tropical, com época de intensas chuvas de verão seguidas por estiagens acentuadas; e outra subtropical, sem período seco, mas com seca fisiológica provocada pelo intenso frio de inverno, com temperaturas médias inferiores a 15°C.
Apresenta várias singularidades florísticas sendo que até 50% da sua vegetação é considerada caducifólia, ou seja, perde as folhas durante um período do ano. Essa característica dependente da intensidade e duração das temperaturas mínimas máximas e da deficiência do balanço hídrico.
Floresta Estacional Decidual
A Floresta Estacional Decidual é um ecossistema da Mata Atlântica caracterizado por duas estações, uma seca e outra chuvosa, aonde parte das árvores perdem as suas folhas em períodos mais desfavoráveis, principalmente no período mais seco e frio do ano. Ela é uma floresta mais aberta e repleta de cipós, e com importantes espécies madeiráveis.
Em Santa Catarina, ocorre ao longo do Rio Uruguai e seus afluentes. É hoje um dos tipos florestais mais degradados do Estado, remanescendo de sua área original total cerca de 16% de floresta, sendo 52% dessa área representada por fragmentos florestais com menos que 50 ha. Este cenário é oriundo principalmente da conversão da Floresta em áreas agrícolas e introdução de espécies exóticas.
Campos de Altitude
Os Campos de Altitude normalmente ocorrem em elevações e em linhas de cumeada, associados ou não a fragmentos florestais. A vegetação característica é formada por comunidades de gramíneas, em certos lugares, interrompida por pequenas charnecas. Frequentemente nas maiores altitudes ocorrem topos planos ou picos rochosos, como na região do Campo dos Padres, em Santa Catarina.
Os campos de altitude possuem grande relevância biológica devido a alta biodiversidade, e tem importantes funções ecológicas como a manutenção, filtragem e regularização dos sistemas hidrográficos e sequestro de carbono. Além disso, a flora campestre é caracterizada por muitos endemismos, sendo que muitas dessas espécies estão ameaçadas de extinção, devido à conversão dos campos para diferente uso do solo.
Brejos Interioranos
Os Brejos Interioranos ou Brejos de Altitude são encraves florestais, uma vegetação diferenciada dentro de uma paisagem dominante, em meio à Caatinga e têm importância vital para a região nordestina, pois possuem os melhores solos para a agricultura e estão diretamente associados à manutenção dos rios.
Devido à altitude elevada do ambiente aonde se encontram, criam todas as condições necessárias ao desenvolvimento de uma flora que reúne tanto características da Mata Atlântica (floresta Ombrófila Densa) quanto da caatinga (Savana Estépica), contrastando com as áreas circundantes, que possuem condições climáticas mais secas.
Manguezais
Manguezal é uma formação que ocorre ao longo dos estuários, em função da água salobra produzida pelo encontro da água doce dos rios com a do mar. É uma vegetação muito característica, pois tem apenas sete espécies de árvores, mas abriga uma diversidade de microalgas pelo menos dez vezes maior.
Os manguezais são de grande importância para a fauna aquática, abrigando uma enorme diversidade de animais como moluscos, crustáceos (camarões, caranguejos), peixes, aves (gaivotas, garças, urubus, flamingos, gaviões etc.), e jacarés. Muitos buscam esse ecossistema para se reproduzirem.
Além de servir como berçário para os animais, os manguezais também servem para amortecer o impacto das marés e para conter os sedimentos trazidos pelos rios, evitando assim o assoreamento das praias.
Restinga
A restinga é um espaço geográfico formado sempre por depósitos arenosos paralelos à linha da costa, de forma geralmente alongada, produzido por processos de sedimentação, onde se encontram diferentes comunidades que recebem influência marinha, podendo ter cobertura vegetal em mosaico.
A vegetação das restingas é influenciada por alguns fatores abióticos, entre os quais se destacam a topografia do terreno, que pode apresentar faixas de elevações e faixas de depressões; a influência marinha, que diminui à medida que se avança para o interior e o solo, um importante condicionador e fator limitante da distribuição de formações florísticas herbáceas ou subarbustiva.
Essas condições ambientais determinam as diferentes fisionomias vegetais da restinga. A fauna também é bastante rica. Muitas aves migratórias utilizam as restingas como locais de alimentação e descanso.
Vegetação Fixadora de Dunas
Dunas constituem acumulações de areias quartzosas finas homogêneas na retaguarda da orla marítima resultantes exclusivamente da ação de ventos na remoção de areias praiais, em seu transporte e em sua deposição.
A vegetação fixadora de dunas, que cobre boa parte da areia das praias, impede que a areia da praia se espalhe pelas primeiras avenidas da orla e também funciona como local de descanso para aves migratórias, além de ser habitada por outras espécies de animais.
Apresentam característica formação botânica constituída por espécies halófilas (adaptadas a ambientes de maior salinidade) e psamófilas (adaptadas a solos arenosos de baixa ou nenhuma edafização), em crescente diversidade e porte de espécies na medida que se distanciam da linha de praia.










