Pesquisando e comunicando o clima: Eloisa Beling Loose

2 jul, 2025

Jornalista, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Eloisa Beling Loose dedica-se à comunicação das mudanças climáticas, articulando pesquisa, ensino e extensão.

Nascida em Panambi, no Noroeste do Rio Grande do Sul, Eloisa encontrou na comunicação um caminho para dialogar com a crise climática. Desde a graduação em Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), sentiu-se inquieta com a forma como a imprensa pautava (ou ignorava) as questões ambientais: “Naquele momento havia muitas lacunas. A preocupação era entender os enquadramentos, fontes e a presença, ou ausência, do cuidado ambiental nas coberturas dos meios de comunicação tradicionais”, relata a pesquisadora em entrevista à Apremavi.

O que começou como inquietação virou pesquisa, projetos de extensão e uma carreira marcada por contribuições no campo da comunicação ambiental e climática. Em seu trabalho, Eloisa transita entre as salas de aula, publicação de livros, apresentação de palestras e a produção de conhecimento aplicado, sempre tendo como foco o papel da comunicação para transformar realidades.

 

Publicações recentes

Em seu livro “Jornalismos e Crise Climática: Um Estudo desde o Sul Global sobre os Vínculos do Jornalismo com a Colonialidade”, Eloisa propõe uma abordagem crítica da comunicação climática, fundamentada em estudos decoloniais, questionando a hegemonia das narrativas do Norte Global e destaca como o apagamento de vozes do Sul contribui para soluções tecnocráticas e distantes das realidades locais.

A autora propõe um jornalismo engajado, comprometido com a justiça climática, que valorize conhecimentos tradicionais, contextos históricos e atores diversos. Um jornalismo que busca abrir espaço para formas plurais de entender e enfrentar as crises que o nosso planeta enfrenta.

Outra contribuição de destaque é o “Manual para a Cobertura Jornalística dos Desastres Climáticos. A publicação orienta jornalistas a compreenderem os desastres como fenômenos multicausais, que envolvem não só eventos extremos, mas também desigualdades sociais, degradação ambiental e falhas de governança.

 

Diversidade de vozes e múltiplas soluções

Eloisa reforça que, em tempos de emergência climática, ouvir diferentes perspectivas é essencial. “Permitir vários olhares é permitir possibilidades distintas. Se sempre escutamos as mesmas fontes, ficamos com uma restrição de soluções. Precisamos abrir espaço para vozes historicamente invisibilizadas, que podem trazer alternativas eficazes, mesmo que ainda restritas a microescalas.”

Ela lembra que populações indígenas, ribeirinhas e outras comunidades tradicionais carregam conhecimentos valiosos, frequentemente excluídos das discussões sobre o clima.

 

Laboratório de Comunicação Climática

Criado em 2024, logo após o desastre climático no Rio Grande do Sul, o Laboratório de Comunicação Climática da UFRGS (ComClima) surgiu buscando qualificar o debate sobre as mudanças climáticas na comunicação. A iniciativa coincidiu com o ingresso de Eloisa como professora efetiva da UFRGS e tem como objetivo integrar pesquisa, ensino e extensão em uma abordagem ampla e interdisciplinar. “Trabalhamos com a dimensão jornalística, comunicação institucional e comunitária, buscando compreender os usos e as interpretações que as pessoas estão tendo de mensagens como os alertas da Defesa Civil”, relata Eloisa.

Na análise da cobertura dos desastres climáticos no RS, Eloisa e sua equipe observaram uma tendência inicial à culpabilização dos fenômenos naturais, como chuvas e temporais, sem considerar a responsabilidade humana e política. Contudo, ao longo da fase de resposta, há uma complexificação do discurso, que passa a abordar mudanças climáticas, políticas públicas, legislação ambiental e falhas na gestão de risco. A pesquisa ainda está em curso, mas já evidencia a importância de repensar a cobertura jornalística, focando em causas estruturais, prevenção e justiça climática.

 

A universidade como espaço de futuro

Para Eloisa, uma semente de futuro conteria o respeito à diversidade, o reconhecimento da pluralidade de soluções e o engajamento coletivo. “Não há solução única para a crise climática. Precisamos transformar a riqueza de olhares e práticas em diversas formas de ação. Somos natureza, e nossa sobrevivência está entrelaçada com a de todas as formas de vida.”

Ela também destaca o papel fundamental da universidade na construção de novos caminhos diante da crise climática. “A universidade tem papel fundamental na formação de profissionais críticos e na produção de conhecimento que dialoga com a sociedade. É nela que podemos fomentar alternativas ao sistema dominante, que é parte da crise”

Eloisa Beling Loose semeia o futuro com ideias, ações e palavras. Entre salas de aula, livros, palestras e pesquisas contribui para construir uma comunicação climática que informa, mobiliza e transforma.

Sementes de Futuro Eloisa Loose

Entrevista, palestra e livros sobre comunicação e clima. Créditos: Thamara Almeida e Eloisa Beling Loose

Sementes de Futuro

Em busca de inspiração, a Apremavi apresenta nesta série de vídeos diversas formas de viver de forma ativista. Pessoas que se dedicam a contribuir com um mundo mais sustentável e biodiverso, criando soluções e buscando promover mudanças nos desafios locais e globais do nosso presente.

 

Autora: Thamara Santos de Almeida
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto
Foto de capa: Thamara Santos de Almeida

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