Projeto +Floresta divulga resultados do diagnóstico do meio físico
Estudos sobre a hidrografia, solo e vegetação foram realizados no último ano para embasar os projetos de restauração do projeto, que atua em Abelardo Luz (SC).
Durante a execução da Meta I do Projeto +Floresta foram realizadas diversas pesquisas nas reservas legais dos sete projetos de assentamentos envolvidos na iniciativa (PAs 13 de Novembro, Bela Vista, José Maria, Maria Silverston, Recanto Olho D’Água, Roseli Nunes e Volta Grande) e na Área de Preservação Permanente (APP) da Terra Indígena Toldo Imbú, em Abelardo Luz. As pesquisas embasaram a classificação das áreas em diferentes cenários (A, B e C) e posteriormente os projetos finalísticos de restauração, que foram apresentados e aprovados pelo Ibama para a implementação da restauração das unidades de implantação do projeto (UIs).
Para o diagnóstico do meio físico foram estudados a hidrografia, solos, morfologia e a vegetação. As pesquisas ocorreram nas UIs – áreas a serem restauradas e no seu entorno. O estudo de vegetação foi conduzido pela equipe técnica da Apremavi, enquanto os demais trabalhos foram realizados pela equipe da Bio Teia Estudos Ambientais (empresa contratada para o trabalho).
Diagnóstico de hidrografia
Em relação à hidrografia das UIs, todas elas estão inseridas na Bacia Hidrográfica do Rio Chapecó, e dividem-se nas sub-bacias dos rios Pacheco, Vermelho e Chapecó. Através dos estudos foi observado que muitas nascentes e rios nestas áreas estão desprotegidos por vegetação e/ou tendo impactos de causados pelo pisoteio de animais, justificando a restauração para a melhoria da conservação dos recursos hídricos. Os PAs e a área ocupada pela TI exercem papel importante para a manutenção dos recursos hídricos regionais.
Diagnóstico de solos
Os solos das áreas analisadas foram classificados como Latossolo, Latossolo Vermelho, Cambissolo e Nitossolo (Terra Estruturada). De acordo com a análise da qualidade nutricional do solo, há uma grande variabilidade dentro da mesma área, significando que o uso do solo altera suas características, pelo tipo de vegetação e manejo do solo. Além disso, foi observada a exaustão nutritiva dos solos, mesmo para aqueles usos que ainda possuem alguma cobertura de vegetação (estágio inicial, médio e avançado de restauração). Solos desprovidos de cobertura ficam expostos a ação física da água, que somado a falta de capacidade de troca catiônica (CTC) e de barreiras físicas, é lixiviado ao longo de áreas íngremes até cursos d’água, causando o empobrecimento dos solos nas encostas e assoreamento dos rios.
Em várias unidades de implantação os solos possuem elevada acidez potencial (H+Al) e baixo pH, o que demandará a calagem (aplicação de cal) para corrigir a acidez, neutralizar o alumínio (Al) trocável e fornecer cálcio (Ca) e magnésio (Mg), e assim possibilitar o desenvolvimento da vegetação no processo de restauração. Ademais, verificou-se que as áreas para restauração que possuem vegetação não apresentam quantidade satisfatória de serrapilheira formada e, então, parte do ciclo biogeoquímico é baixo.
Para Fabiana Dallacorte, coordenadora dos estudos da Bio Teia Estudos Ambientais “Não há como produzir alimentos sem água, sem polinização e sem microrganismos do solo, é emergente a necessidade de trilharmos caminhos mais conscientes em relação ao uso que fazemos do solo e minimamente respeitar a legislação vigente no que tange a proteção de áreas que protegem os corpos d´água. Espera-se que todos os envolvidos nestas terras entendam de forma coletiva a necessidade de olhar para o seu pequeno pedaço de terra como um grande influenciador de comportamentos que levem à conservação dos ecossistemas em que estão envolvidos.”
Diagnóstico da vegetação
A respeito da vegetação, as áreas destinadas à restauração foram classificadas através da Resolução Conama nº 04 (1994) como: aproximadamente 64% de vegetação em estágio inicial, 14,39% em estágio médio e menos de 1% (1,71 ha) de vegetação em estágio avançado de regeneração. Ainda foram observados 0,43 hectares ocupados com plantio de exóticas (pinus e eucalipto) e outros 53,97 hectares com uso antrópico, especialmente como pastagem.
Foram encontradas no diagnóstico de vegetação 125 espécies arbóreas, divididas em 42 famílias. As principais espécies observadas no levantamento fitossociológico foram: Ocotea puberula (canela-guaicá), Matayba eleagnoides (camboatá-branco), Zanthoxylum rhoifolium (mamica-de-porca), Myrsine coriacea (capororoquinha), Araucaria angustifolia (araucária), Cupania vernalis (camboatá-vermelho), Schinus terebinthifolia (aroeira-vermelha), Sapium glandulosum (leiteiro), Ocotea porosa (imbuia) e Ateleia glazioveana (timbó). A família botânica com maior número de espécies encontradas foi Myrtaceae, característica das frutíferas como pitanga, araçá, cereja e uvaia. Um dado relevante a ser mencionado é que 66,29% das espécies vegetais encontradas são zoocóricas, ou seja, têm suas sementes dispersas pela fauna, destacando a importância dos animais na manutenção da vegetação local.
Destaca-se que tais resultados são relativos às áreas que serão restauradas pelo Projeto +Floresta e foram destinados à restauração através do Chamamento Ibama nº 02/2018, que por sua vez não abrangem todos os blocos de Reserva Legal dos assentamentos envolvidos no projeto. O projeto é financiado pelo Ibama através do Acordo de Cooperação Técnica nº 34/2021 e supervisionado pelo Ministério Público Federal de Santa Catarina (MPF/SC), pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pela Justiça Federal de Santa Catarina, na forma da ação n° 5001458-53.2017.4.04.7200/SC.
Os resultados das pesquisas foram apresentados na Oficina Técnica do Projeto +Floresta, realizada em março de 2023, que contou com a participação de representantes do Ibama, parceiros e comunidade envolvida no projeto. Além disso, os resultados também serão apresentados individualmente nos assentamentos e na TI, nas reuniões com a comunidade que devem anteceder o início das atividades de implementação da restauração.
Realização do diagnóstico da vegetação do projeto +Floresta. Foto: Leandro Casanova
Autora: Marluci Pozzan com informações dos relatórios do Diagnóstico do Meio Físico: Hidrografia, Morfologia e Solos (Bio Teia Estudos Ambientais) e Diagnóstico do Meio Físico: Vegetação (Apremavi).
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto.
Foto de capa: Realização do diagnóstico do meio físico do projeto +Floresta. Foto: Marluci Pozzan.