Sistema agroflorestal como aliado na recuperação da mata ciliar・Código Florestal na Prática

13 set, 2023 | Implantando o Código Florestal, Notícias

A implantação de um sistema agroflorestal possibilita que atividades de restauração ecológica e para fins econômicos sejam mutuamente beneficiadas. O exemplo vem de uma propriedade em Itaiópolis (SC), onde os proprietários buscam reparar o intenso desmatamento que ocorreu na região no século passado.

A produção de mudas nativas na Apremavi tem como objetivo principal a restauração ecológica de áreas degradadas na Mata Atlântica. Muitas possibilidades e oportunidades para os atores envolvidos no plantio de novas florestas são apresentadas pelos técnicos da instituição, buscando estimular a restauração de uma área maior que a prevista pela legislação, realizar o planejamento da paisagem e promover a sustentabilidade econômica da propriedade, através da diversificação das atividades. 

Uma das atividades apresentadas é a implantação de sistemas agroflorestais (SAFs) junto da atividade de restauração em Áreas de Preservação Permanente (APPs), reduzindo custos e otimizando os esforços para o plantio. A Apremavi oferece orientações e mudas para que uma área biodiversa e sustentável seja implantada; com a possibilidade de reunir culturas agrícolas, erva-mate, frutas nativas, araucárias e plantas adubadeiras. Neste contexto, é frequente eleger a erva-mate como cultura principal na geração de renda extra.

A erva-mate (Ilex paraguariensis) se destaca, porque o extrativismo não demanda a supressão de vegetação existente e nem prejudica a função ambiental da área, possibilitando a coleta também nas APPs e na Reserva Legal da Mata Atlântica, conforme previsto no Código Florestal (Lei nº 12.651/2012).

Nas entrelinhas da erva-mate podem ser plantadas espécies consideradas adubadeiras, como ingá-feijão, que fornecerá sombreamento inicial e matéria orgânica ao solo por meio de podas ocasionais. As espécies frutíferas nativas são alocadas no sistema de forma que possam receber maior insolação. Isso justifica espaçamento mais amplo, proporcionando próximo a essas espécies plantios com culturas agrícolas (milho, feijão, aipim, amendoim, abóbora, entre outras).

Quando são utilizadas no SAF espécies frutíferas, é importante que elas sejam dispostas de uma forma que nunca venham a ser sombreadas e que tenham espaço para desenvolver as copas que futuramente compõem o dossel superior da floresta. No caso da erva-mate, é ideal um sombreamento em torno de 30%. A erva-mate poderá ser plantada em diferentes espaçamentos, a depender do modelo e da quantidade de espécies que serão utilizadas no plantio.

Esquema e registro fotográfico de uma área implantada em Santa Terezinha (SC) em 2015, visando o extrativismo da erva-mate. Foto: Arquivo Apremavi.

#Na prática: memórias junto ao rio e a recuperação da mata ciliar

A Área de Preservação Permanente em uma propriedade de Itaiópolis (SC) difere de muitas que a Apremavi ajudou a implantar por conta da extensão e das espécies utilizadas. Num cenário onde a restauração ecológica de quinze metros em cada margem do rio era necessário, os proprietários Teresa Schurt Wazny e Mariano Wazny decidiram plantar árvores em uma área que corresponde ao dobro desse valor, plantando nos quinze metros adicionais espécies com potencial econômico, como a erva-mate. 

Os objetivos do projeto Restaura Alto Vale, executado pela Apremavi entre 2018 e 2021, estavam alinhados com os planos dos proprietários para o espaço, que há algum tempo possuíam interesse em plantar mudas nativas: “Na verdade a gente nem tinha essa ideia, vocês (da Apremavi) que vieram com esse projeto e a gente achou que seria uma oportunidade boa; agora a gente vê que ali está se formando uma floresta, um dia vai voltar, não como era antes né! Aquela mata nativa que era antes vai ser difícil de chegar como era antes”, compartilha Teresa. 

Os parceiros do projeto ainda lembram da época em que as florestas eram derrubadas de forma indiscriminada para a exploração comercial, através da venda de madeira e para a produção de carvão. Teresa relata que quando criança trafegava de canoa com sua mãe no rio, e presenciou a retirada de enormes árvores das margens do rio; cita um enorme baguaçu (Magnolia ovata) que foi cortado e que rendeu 16m3 de madeira, também um enorme pau-óleo, entre outras espécies, como sassafrás (Ocotea odorifera) e pindabuna (Duguetia lanceolata).

Décadas depois, protagonizam uma outra realidade, onde a conservação da natureza e as atividades econômicas crescem juntas, na mata ciliar. “É bom ver que as margens do rio serão novamente cobertas por árvores nativas como era antes, vai proteger (o rio). A gente vê que quando dá enchente as margens são destruídas, o plantio será uma proteção! E a erva-mate vai gerar renda, daqui mais um ano vai dar para colher”. 

Na propriedade de Teresa e Mariano, 1050 mudas de árvores nativas produzidas pela Apremavi foram plantadas nas margens do Rio Itajaí do Norte, em junho de 2020. Confira o Antes e Depois da área:

 

Área restaurada com apoio da Apremavi, agosto de 2023. Fotos: Maíra Ratuchinski/Arquivo Apremavi.

Autor: Vitor Lauro Zanelatto | Colaboração: Leandro Casanova e Maíra Ratuchinski
Revisão: Carolina Schäffer | Foto de capa:  ©️Maíra Ratuchinski/Arquivo Apremavi

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