Tem árvores nos Campos de Altitude?
A vegetação dos Campos de Altitude apresenta menor porte, se comparada com as florestas da Mata Atlântica, mas com uma grande variedade de espécies, principalmente de herbáceas. Os arbustos são escassos e as árvores raras e isoladas.
A aparente monotonia dos campos revela uma grande diversidade de espécies, cores e texturas para quem observa com atenção. O que alguns chamam de “mar de grama” é, na verdade, ecossistema de significativa biodiversidade vegetal, com quase 300 espécies endêmicas (exclusivas daquele ambiente), muitas delas pouco estudadas.
Segundo o pesquisador João Ignaci, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), trabalhos recentes em Unidades de Conservação no ecossistema demonstram a riqueza do ecossistema: “A taxa de endemismo é de 25%, muito maior do que a encontrada na Floresta Atlântica da região”. Embora muitas plantas dali também existam em outras regiões de altitude, tanto tropicais quanto temperadas, outras existem apenas nos campos e estão ameaçadas com a conversão para atividades antrópicas que modificam significativamente a paisagem: “O número total de espécies também é alto e comparável a outros centros de biodiversidade, considerando que a área é pequena”, acrescenta Ignaci.
Espécies com ocorrência nos Campos de Altitude. Fotos: João de Deus Medeiros.
Os campos também prestam serviços ecossistêmicos (contribuições da natureza para as pessoas). As turfeiras, áreas de águas rasas com presença de espécies de musgos e gramíneas, atuam como esponjas na retenção de água para o lençol freático. Esses ecossistemas também absorvem grandes quantidades de dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera, contribuindo diretamente para o equilíbrio climático global.
Outra característica dos Campos de Altitude é a sua interseção com ecossistemas arbóreos da Mata Atlântica, como a Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucárias) e as Matas Nebulares. Essa confluência acontece em áreas de ecótonos dinâmicos e amplamente diversas, que formam um mosaico campo-floresta na paisagem. Conservar esse encontro implica também na manutenção da heterogeneidade estrutural e funcional do mosaico, que protege, além da fauna, flora e funga, nascentes e turfeiras de altitude.
A vegetação campestre deve ser uma prioridade para estudos de conservação e também demonstra a necessidade de proteger o ecossistema, ameaçado por mudanças na legislação, especialmente em Santa Catarina. Dentro das áreas protegidas da região, encontram-se parques nacionais e estaduais, reservas biológicas, florestas nacionais, estações ecológicas e áreas de interesse ecológico.

Encontro do campo com a floresta. Foto: Wigold B. Schäffer.
Proteja os Campos de Altitude
A campanha é uma das iniciativas do projeto “Cuidando da Mata Atlântica: Articulação Região Sul da RMA”, executado numa articulação entre a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e Instituto Mira Serra, com o apoio financeiro da Fundação dinamarquesa Hempel por meio da Fundação SOS Mata Atlântica.
Autores: Carolina Schäffer e Vitor Lauro Zanelatto
Revisão: João de Deus Medeiros
Foto de capa: Wigold B. Schäffer