No dia 9 de julho faz 20 anos que foi criada a Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí – Apremavi. Na época do seu nascimento, a cada quatro minutos era desmatada uma área equivalente a um campo de futebol de Mata Atlântica. Santa Catarina ainda contabilizava os prejuízos das cheias da década de 80 e os atingidos percebiam que a natureza estava cobrando um preço pela destruição.

Centenas de madeireiras garimpavam as últimas canelas, imbuias, perobas, pinheiros e cedros. Só da Terra Indígena de Ibirama saiam mais de 300 caminhões de madeira por dia. Os rios recebiam todos os tipos de efluentes e esgoto e o ar recebia fumaça de centenas de chaminés.

Diante disso, 19 pessoas fundaram a Apremavi, com a missão de defender, preservar e recuperar o meio ambiente, os bens e valores culturais, buscando a melhoria da qualidade de vida humana. O grupo começou fazendo denúncias, mas também mostrando que existem maneiras de se utilizar os recursos naturais de forma sustentável.

No começo nada foi fácil. Alguns integrantes da Apremavi chegaram até ser ameaçados de morte. Foi então, que percebemos que precisávamos ter uma legislação ambiental forte. Começamos acompanhando a elaboração da Constituição Federal, em 1988. Mas foi a luta pela aprovação de uma legislação específica para a Mata Atlântica que mobilizou grande parte dos esforços da Apremavi nesses 20 anos. Participamos de inúmeras reuniões no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e no Congresso Nacional. Defendemos muito o Decreto 750/1993, que protegeu a Mata Atlântica enquanto a tão sonhada lei de proteção do bioma não era aprovada, o que finalmente ocorreu em dezembro 2006.

Nesses 20 anos, a Apremavi conseguiu aliar teoria e prática com distintas parcerias, da iniciativa privada ao setor público. Já em 88, a Apremavi participou da criação da Federação de Entidades Ecologistas Catarinenses, que congrega mais de 30 ONGs e tem papel fundamental na discussão de políticas de meio ambiente em Santa Catarina.

Participou ainda da criação e da coordenação da Rede de ONGs da Mata Atlântica. A Rede nasceu durante um dos grandes eventos de meio ambiente realizados no mundo, a Rio-92. Hoje a rede conta com 312 organizações filiadas. A Rio-92 serviu para a Apremavi ampliar parcerias e horizontes.

É importante reconhecer que nestes 20 anos, alguns setores de órgãos públicos, assim como muitas empresas mudaram sua forma de pensar e agir, passando a trabalhar com maior responsabilidade ambiental e preocupação com as futuras gerações.

As parcerias com empresas, órgãos públicos, universidades e organizações da sociedade civil são o caminho certo para o desenvolvimento de programas e ações concretas de conservação e recuperação do meio ambiente.

Muitos foram os projetos implantados durante estes anos. O viveiro Jardim das Florestas, que iniciou com 18 mudinhas no fundo do quintal, hoje produz um milhão de mudas por ano, de mais de 120 espécies nativas da Mata Atlântica, no município de Atalanta. Ao longo desses anos, ajudou a plantar milhares e milhares de árvores em centenas de diferentes propriedades, em municípios de Santa Catarina.

A Apremavi promove o uso legal e sustentável de propriedades rurais e paisagens. Propriedade legal é aquela que cumpre a legislação ambiental e ao mesmo tempo é um lugar agradável para morar e viver, com qualidade de vida e geração de renda. A conservação e recuperação das Áreas de Preservação Permanente, das Reservas Legais e o estímulo à agricultura orgânica, ao enriquecimento de florestas secundárias, à implantação de sistemas agroflorestais e o desenvolvimento do eco-turismo-rural, fazem parte deste trabalho.

A criação de unidades de conservação é a principal estratégia para a conservação da biodiversidade, em todo o mundo e buscar a criação de novas unidades sempre fez parte do trabalho da Apremavi.

Já em 87, em parceria com a Acaprena, elaborou os estudos técnicos que subsidiaram a criação da Área de Relevante Interessante Ecológico da Serra da Abelha, protegendo assim uma das últimas florestas com araucárias do Alto Vale do Itajaí. A Apremavi também participou das campanhas pela criação do Parque Nacional da Serra do Itajaí, do Parque Nacional das Araucárias e da Estação Ecológica da Mata Preta.

Santa Catarina tem hoje só 3% do seu território em unidades de conservação e precisa chegar no mínimo à 10%. Por isso, a Apremavi apóia as propostas de criação do Parque Nacional do Campo dos Padres e dos Refúgios de Vida Silvestre do Rio da Prata e do Rio Pelotas, entre outros.

Defende também que os municípios garantam a proteção de parte dos ecossistemas locais criando unidades de conservação municipais. Isso é necessário para que a comunidade local tenha áreas para pesquisa da biodiversidade e espaços de recreação em contato com a natureza, além de promover o ecoturismo.

A Apremavi ajudou a criar e implantar o Parque Natural Municipal da Mata Atlântica em Atalanta e em Parceria com a Prefeitura e apoio de empresas é responsável pela administração do Parque, que também é utilizado para educação ambiental, reuniões e cursos de capacitação. Além disso, a Apremavi está criando em Santa Catarina duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural – uma em Papanduva e outra em Bela Vista do Toldo. Com isso quer estimular os proprietários de terras a também criarem suas RPPNs.

Durante a caminhada, algumas lutas foram perdidas. Uma delas foi a perda do Estreito do Rio Uruguai, inundado pela hidrelétrica de Ita. Outra luta perdida foi contra a fraude da Hidrelétrica de Barra Grande no Rio Pelotas, onde foram destruídos milhares de hectares de floresta com araucárias. Barra Grande vai ficar gravada na história como a hidrelétrica que extinguiu da natureza uma espécie de bromélia: a Dyckia distachya. Como lição esperamos que processos como este nunca mais se repitam.

O trabalho da Apremavi sempre foi apoiado em ações de capacitação e educação ambiental, que retratam os problemas e apontam soluções com base na realidade da região, ajudando a difundir os resultados para outras regiões do Brasil.

Foram produzidas publicações e editados vídeos sobre os mais variados temas ambientais. Milhares de estudantes, professores, técnicos e agricultores participaram de palestras, cursos, oficinas, seminários e dias de campo.

Se há 20 anos os criadores da Apremavi já alertavam que o desmatamento, as queimadas e o uso insustentável dos recursos naturais iria afetar o futuro de todos, hoje não restam mais dúvidas sobre isso.

A certeza do aquecimento global e as mudanças climáticas em curso colocaram definitivamente a questão ambiental como a prioridade número um de todos os cidadãos em todos os países , mesmo que alguns ainda insistam em ignorar a realidade.

Com todo esse know-how, a Apremavi está lançando o programa Clima Legal, que visa o plantio de árvores nativas para a recuperação de áreas degradadas, e, conseqüentemente, o seqüestro de carbono da atmosfera, nesses tempos do tão comentado aquecimento global. Qualquer pessoa – física ou jurídica – pode adquirir uma das modalidades de plantio: Jardim, Bosque, Floresta, Ecossistema, Bioma ou Biosfera.

A Apremavi, que foi pioneira em recuperar matas ciliares e outras áreas de preservação permenente, tem certeza que o povo catarinense vai entender que somente com a Mata Atlântica protegida, será possível prevenir-se dos “Catarinas”.

Queremos inspirar cada vez mais uma verdadeira jornada em busca de um mundo melhor.

Porque é da nossa natureza fazer a diferença…

É da nossa natureza querer que você participe…

É da nossa natureza defender a natureza….

Pin It on Pinterest