Apremavi e MST plantam 3.500 árvores no Assentamento Filhos do Contestado
No sábado, dia 17 de abril de 2021, a Apremavi esteve no Assentamento Filhos do Contestado, em São Cristóvão do Sul (SC), para ajudar num mutirão de plantio de árvores nativas da Mata Atlântica. As 3.500 mudas, doadas pela Apremavi, formarão um novo Bosque de Heidelberg, projeto executado com apoio da organização alemã BUND. O plantio é de responsabilidade das 27 famílias assentadas, com apoio do Movimento Sem Terra (MST) de Santa Catarina.
As mudas plantadas no entorno dos 23 hectares da área do assentamento, formam um bosque proteção, que no futuro também servirá para uso múltiplo, uma vez que dentre as espécies plantadas estão frutíferas nativas, erva-mate e araucária. Desse modo, além dos benefícios ao meio ambiente, a comunidade também poderá contar com os produtos oriundos da floresta para incrementar a alimentação e a fonte de renda das famílias.
MST e Apremavi plantaram 3.500 árvores da Mata Atlântica em assentamento em São Cristóvão do Sul (SC). Foto: Gabriela Schaffer.
O plantio é também uma homenagem às vítimas do massacre de Carajás que ocorreu em 1996. Na época, trabalhadores sem terra que estavam acampados na região, e seguiram em marcha de Curionópolis até Belém do Pará, pela estrada estadual PA-150, reivindicando a desapropriação da fazenda Macaxeira, foram alvo de uma operação da polícia militar. Com ordens do governador do Pará na época, Almir Gabriel, para “tirar” os trabalhadores sem terra do local, muitos tiros foram disparados pela polícia contra as pessoas que participavam do protesto por terra e justiça. 21 camponeses foram assassinados no local e outras 79 pessoas ficaram feridas, duas das quais acabariam morrendo no hospital.
Em homenagem àqueles que perderam a vida em Eldorado dos Carajás, 21 das mudas destinadas ao assentamento foram plantadas em torno da bandeira do MST, exposta em uma colina do assentamento. O massacre, que no último dia 17 de abril completou 25 anos, deu origem ao Dia Nacional e Internacional da Luta pela Reforma Agrária. Saiba mais sobre o episódio aqui.
Para Vilson Santin, membro da direção do MST/SC e responsável por articular a parceria que resultou no plantio, essa ação deve ser apenas o começo de uma colaboração que ainda vai produzir muitos frutos, lembrando da campanha do MST de plantar 100 milhões de árvores em assentamentos de todo o país nos próximos 10 anos. Em Santa Catarina a meta é de 4 milhões de árvores plantadas.
Para Wigold Schaffer, fundador, voluntário e conselheiro da Apremavi, o plantio nas terras do Assentamento Filhos do Contestado é sinônimo de exemplo para a sociedade. “Nós precisamos construir um mundo diferente, com mais solidariedade, mais paz, participação e parcerias. O exemplo deste assentamento, onde 27 famílias dividem 23 hectares e mesmo assim encontram lugar para plantar 3.500 mudas nativas é gratificante e mostra o rumo que o mundo deveria tomar; onde todos têm o seu espaço: os animais silvestres, as plantas e os seres humanos. Todos vivendo em harmonia”, afirma Wigold.
As mudas plantadas formam um bosque proteção, que no futuro também servirá para uso múltiplo. Foto: Miriam Prochnow.
Mariana Lemos, uma das líderes do assentamento, falou da importância de homenagear as pessoas que morreram. “Estamos plantando em memória ao massacre de Carajás. Esse aqui é um simples exemplo, mas se todo mundo fizesse um ato desses, teríamos mais vida e ar mais puro. É uma homenagem também às vítimas do coronavírus. Espero que meus filhos tenham um futuro melhor, um mundo melhor, do que eu tive”, relata Mariana.
Para a coordenadora do MST, Joscimar (Jô) Santin, o dia foi de muita gratidão: “é um sonho que está sendo realizado. Desde a época em que estávamos acampados com as famílias, eu tinha o desejo de plantar árvores. Na terra onde pisava o boi, agora vai ter feijão, arroz, hortaliças, árvores”. Jô menciona também que no pedaço de chão conquistado já há frutos, frutos que a natureza nos dá de graça, é só sabermos cuidar: “há a araucária, essa árvore linda que fornece uma semente maravilhosa, o pinhão. Também estamos plantando a erva-mate, para o nosso chimarrão; é aí que está a importância de reflorestar. Onde no passado as árvores foram derrubadas, vamos plantar novamente, mudas que darão vida nova ao nosso assentamento”, completa Jô.
“Na terra onde pisava o boi, agora vai ter feijão, arroz, hortaliças, árvores”, comenta Joscimar Santin, coordenadora do MST. Foto: Gabriela Schaffer.
Já José Siderlei dos Santos, um dos líderes do assentamento, lembrou a importância da participação de todos: “Nós não podemos mudar o mundo inteiro, mas com o ato de cada um que está aqui, podemos fazer a nossa parte e, se todo mundo fizer a sua parte, o mundo será bem melhor”.
Esta não é a primeira vez que a Apremavi atua junto aos assentamentos. Em 2019, através do Projeto Restaura Alto Vale, foram doadas 970 mudas de espécies nativas para a recuperação de uma nascente no Assentamento Morro do Taió, em Santa Terezinha (SC). O responsável pelo plantio, Henrique Smitka, foi beneficiário do Programa Nacional de Reforma Agrária. Saiba mais sobre o trabalho desenvolvido na propriedade no Portal Ambiental da Apremavi.
Bosques de Heidelberg, um projeto da Apremavi
O Projeto Bosques de Heidelberg é fruto de uma parceria iniciada em 1999 entre a Apremavi e a Bund für Umwelt und Naturschutz Deutschland – BUND, uma organização ambientalista sediada em Heidelberg, no sul da Alemanha.
O intercâmbio entre as duas instituições têm como principal atividade o plantio de mudas nativas da Mata Atlântica para restauração de áreas degradadas e a realização de ações de educação ambiental. Essas atividades contribuem diretamente para o atingimento das metas de três dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: ODS 4, ODS 13 e ODS 15.
Um dos primeiros bosques do projeto foi implantado ainda em 1999 na Escola Municipal de Ensino Fundamental Ribeirão Matilde, em Atalanta (SC). Na época o projeto ficou conhecido como Heidelberger Wäldchen in Atalanta (Bosques de Heidelberg em Atalanta), entretanto, com o passar dos anos, e com a parceria gerando cada vez mais resultados, o projeto passou a ser chamado de Bosques de Heidelberg no Brasil. Hoje as atividades se concentram nos municípios da região do Alto Vale do Itajaí, em Santa Catarina.
O Projeto Bosques de Heidelberg, que completa 22 anos em 2021, já plantou mais de 161 mil árvores de espécies nativas da Mata Atlântica, em 31 municípios distribuídos nos estados de SC, PR e SP.
Autores: Miriam Prochnow, Vitor L. Zanelatto, Carolina Schäffer e Gabriela Schäffer.
NOTA: em todos os momentos da atividade relatada foram seguidas e respeitadas as normas de prevenção à Covid-19.