Quanto maiores são as pressões danosas da sociedade sobre o ambiente, mais rigorosos e mais eficazes devem ser os mecanismos de controle, como é o caso do Código Florestal Brasileiro. Sem isso, continuaremos a matar a galinha dos ovos de ouro que são nossos recursos naturais, dos quais todos nós dependemos para sobreviver, inclusive a Economia, que sofre um prejuízo mundial anual de até 4,5 trilhões de dólares, só por conta dos desmatamentos e a degradação florestal, sem contar todo o resto. Economia e Ecologia são indissociáveis. A primeira depende visceralmente da segunda. Como dizia José Lutzenberger, a Economia é um mero capítulo da Ecologia.
Se quisermos sobreviver à atual crise ambiental e garantir um futuro com boa qualidade de vida para nossos filhos e netos, está mais que na hora de enfrentarmos de vez essa situação e tomarmos os remédios necessários, mesmo que sejam amargos.
O Código Florestal Brasileiro, mesmo com alguns defeitos, é um desses remédios, que naturalmente ainda precisam ser aperfeiçoados, visando o máximo de benefícios para a maioria com um mínimo de efeitos colaterais.
Ao contrário do que aconteceu recentemente em Santa Catarina, as discussões sobre o assunto necessitam ser profundas, de alto nível e com base em dados científicos e técnicos, buscando o indispensável equilíbrio entre o social, o econômico e o ambiental, todos no mesmo patamar de importância e sem o predomínio da emoção sobre a razão.
No dia da votação do código ambiental catarinense, centenas de agricultores lotaram o plenário da Assembléia Legislativa. Muitos gritavam palavras de ordem e aplaudiam deputados oradores contra as leis opressoras, que não deixam o agricultor trabalhar em paz. Fala-se agora numa marcha de milhares de agricultores sobre Brasília. Emoção ofuscando a razão, o bom senso.
Atalanta, um dos municípios mais agrícolas do Vale do Itajaí, 2009. Auditório lotado de agricultores, com gente em pé nas laterais e nos fundos. Em discussão, o mesmo assunto que fez centenas de agricultores marcharem sobre Florianópolis, bradando contra o Código Florestal. Só que em Atalanta, ao invés de discursos fáceis e frases de efeito de políticos desinformados e eleitoreiros, predominou um ambiente de serena apresentação e discussão técnica de aspectos ligados à essa lei, em linguagem acessível, principalmente no que diz respeito às reservas legais e APP, que são as áreas de preservação permanente.
Imagens de casos concretos de como seria a aplicação da lei em propriedades agrícolas de Atalanta ou em propriedades com rizicultura da vizinha Agronômica foram projetadas com os limites de propriedades sobrepostos a fotos aéreas de ambos os municípios, que todos ali conheciam. Reunião tranqüila e tranqüilizadora, mas não parou aí. A Apremavi, ONG promotora do evento, apoiando e apoiada pelos municípios, passou então a orientar secretários e técnicos de todas as 28 prefeituras do Alto Vale do Itajaí em como proceder para auxiliar seus agricultores a se adequar, ao invés de simplesmente incitá-los contra a lei, como fizeram os políticos. Na continuação, seminários em inúmeras comunidades multiplicam hoje o conhecimento e os aspectos práticos diretamente aos agricultores, que participam e tiram dúvidas, ativamente.
Se em Brasília, como no Alto Vale da pequena Atalanta, predominar a objetividade e a razão sobre a emoção, todos sairemos ganhando.
Artigo publicado no Jornal A Notícia, dia 19 de junho de 2010.