Curso capacita sobre Inventário Florestal da Mata Atlântica
A Prefeitura Municipal de Chapecó, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente (Sedema) e a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) promoveram nos dias 25 e 26 de julho o “Minicurso sobre Inventário Florestal e Estágios Sucessionais da vegetação da Mata Atlântica”. O evento foi realizado no Centro de Treinamento de Chapecó – CETREC – da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – EPAGRI.
O curso teve como objetivo dar o aporte teórico-prático necessário para a realização de inventários florestais e identificação de estágios sucessionais da vegetação da Mata Atlântica. Foi ministrado pelo Professor Dr. João de Deus Medeiros, do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e contou com a participação de 30 pessoas, entre representantes de órgãos ambientais, de segurança, fiscalização, organizações-não-governamentais, universidades, acadêmicos interessados no tema.
Durante o minicurso foram abordadas as características gerais da vegetação do Estado de Santa Catarina, com destaque à Floresta Ombrófila Mista e Floresta Estacional Decidual, por serem características da região Oeste do Estado. Também foram abordados temas relacionados à sucessão ecológica, ecologia da paisagem, processos sociais, transformações históricas, legislação ambiental e políticas públicas necessárias à conservação da biodiversidade.
Outro enfoque foi sobre metodologias adotadas para inventários florestais, considerando aspectos qualitativos e quantitativos. A aplicação prática deste conhecimento ocorreu no próprio CETREC, por meio de trabalhos em grupos, que implementaram na prática exercícios de inventário florestal, com levantamento, tratamento dos dados, e enquadramento do estágio sucessional da área amostrada.
Priscila Fernanda Rech Confortin, da Sedema, destaca que o minicurso cumpriu com seus objetivos ao mesmo tempo em que oportunizou a qualificação dos técnicos e profissionais da área ambiental: “o evento contribuiu com a prestação de melhores serviços à comunidade e ao meio ambiente”, comenta Priscila.
Marluci Pozzan, da Apremavi, acrescenta que o evento foi bastante interessante, pois abordou vários pontos relativos à flora catarinense e envolveu diversos atores sociais relacionados à preservação do meio ambiente, os quais serão multiplicadores do conhecimento em suas respectivas instituições: “A integração do conteúdo programático teórico com atividade prática teve grande contribuição no sucesso da capacitação”, cita Marluci.
O professor João chamou atenção também para a importância de se analisar o conjunto dos dados do inventário florestal e não apenas o percentual geral da cobertura florestal do estado, que pode mascarar a gravidade da situação das florestas catarinenses: “é importante ter essa avaliação mais detida dos dados do Inventário, pois a simples projeção da ampliação da cobertura florestal (os atuais 29% indicados no inventario) pode ser repassado como algo positivo, dando a entender que a política de conservação da natureza no Estado é exitosa, quando o dado qualitativo, também expresso no inventário, mas negligenciado, mostra o contrário“, destaca João de Deus.
Dados do Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina
- Projeto envolveu a definição de 440 unidades amostrais de 0,4 ha (4.000 metros quadrados).
- Mais de 200.000 arvores foram medidas.
- A cobertura florestal do Estado é de 29%.
- Entre 4 e 5% a cobertura é de formações pioneiras (capoeirinhas).
- Na floresta estacional decidual (que ocorre no oeste ao longo do rio Uruguai) a situação é mais critica, estando a cobertura com apenas 16%.
- Florestas maduras (bem diversificadas) no estado não chegam a 5%.
- 860 espécies de arvores e arbustos foram registradas no inventário.
- O numero de espécies arbóreas nas florestas é baixo, no máximo a metade do numero esperado – entre 35 e 40 espécies quando o esperado seria 70.
- O volume de madeira das florestas e seu estoque de biomassa e carbono são atualmente menores que um terço do valor original.
- Nossas florestas são degradadas e ainda sofrem ameaças de conversão para expansão de atividades humanas.
- O Inventário registrou 150 espécies com apenas 1 ou 2 indivíduos em todo o estado.
- Varias espécies importantes apresentam baixa diversidade genética em muitas de suas populações – é o caso, por exemplo, da araucária, canela-preta, imbuia, canela- sassafrás, xaxim.
- Há hoje, para muitas espécies, grande aumento no risco de extinção local.
Autor: Marcos Alexandre Danieli.
Revisão: Miriam Prochnow.