Dia 24 de junho, não foi só dia de São João. Foi o dia Nacional da Araucária. A data foi decretada na Semana da Mata Atlântica, em maio deste ano, em Campos do Jordão. No mesmo dia, aconteceu a última consulta pública para criação das Unidades de Conservação que protegerão os últimos remanescentes de floresta com a espécie. Desta vez, a comunidade de Palmas (PR), permitiu a realização do evento, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente, para explicar as propostas de criação de UCs de Floresta com Araucária.

A formação de áreas protegidas foi esclarecida nos municípios de Imbituva (PR), Ponta Grossa (PR), Tuneiras do Oeste (PR), Passos Maia (SC), Ponte Serrada (SC), Abelardo Luz (SC) e Palmas (PR). A reunião menos longa durou cinco horas e mais demorada oito horas. Vários políticos, madeireiros e oportunistas aproveitam o momento para expor "os prejuízos econômicos" que os municípios teriam se as áreas fossem implantadas. Somente depois de muito discurso, foi que a equipe de técnicos conseguiu conversar com a comunidade interessada. O momento serviu para dar respostas às dúvidas e mostrar as vantagens de se criar as UCs.

As prefeituras têm prazo para sugerir alterações nas áreas até 8 de julho. Depois disso o MMA e o Ibama irão analisar e elaborar um parecer com as sugestões enviadas. "Cumprimos todas as exigências legais para criar os parques e reservas que ajudarão a preservar remanescentes de florestas com araucárias", disse o diretor de Áreas Protegidas do MMA, Maurício Mercadante.

Ele destaca a ausência de pessoas favoráveis a proposta do governo. "Das quatro consultas, em apenas uma, em Abelardo Luz, teve uma pessoa elogiando a criação das UCs". Miriam Prochnow, coordenadora geral da RMA lembra que não há entidades ambientalistas nas regiões onde as UCs serão criadas, apesar da pesquisa de opinião apontar que 98% da população é favorável a proteção de áreas com araucária.

Durante as reuniões, Ministério e Ibama informaram novamente que a área de entorno de todos os parques reservas será de 500 metros, e não de 10 quilômetros. As atividades produtivas que já ocorrem nesse espaço não sofrerão qualquer interferência, desde que sejam respeitadas as áreas de preservação permanente (margens de rios, nascentes e topos de morros) e mantida a reserva legal de 20% das propriedades. Novos empreendimentos dependerão de licença ambiental.

João de Deus Medeiros – integrante da Força Tarefa formada pelo MMA, Ibama, universidades e ONGs – afirma que a comunidade está entendendo que o clima de terrorismo aplicado anteriormente não tinha sentido. As outras consultas foram canceladas, por questão de segurança, em razão de uma série de boatos espalhados por quem não desejava a criação das UCs.

Em três consultas o representante do governo do Estado de Santa Catarina leu o mesmo discurso, contrário a implantação das áreas de proteção. O governo ainda afirmou ser contra a criação de Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN). "Isso mostra não só falta de conhecimento, mas falta de abertura para entender a importância da criação dessas áreas protegidas", argumenta Miriam Prochnow, coordenadora geral da RMA e presidente da Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí (Apremavi). Ela também entende que, dessa forma, os governantes mostram falta de compromisso com o povo catarinense.

A RMA tem certeza que as comunidades dos estados de Santa Catarina e Paraná irão desfrutar da proteção dessas áreas. A RMA, que já promoveu a Campanha SOS Araucárias, recolhendo cinco mil assinaturas e pedindo ao presidente Lula mais proteção à árvore, parabeniza a equipe da Força Tarefa pelo seu trabalho perseverante e paciente. Isso mostra o compromisso de todos com a preservação desta espécie tão importante, pois somente persistindo hoje é que se pode garantir um amanhã mais saudável.

A proposta do governo inclui a criação do Parque Nacional das Araucárias, da Estação Ecológica da Mata Preta e da Área de Proteção Ambiental (APA) das Araucárias em Santa Catarina. As reservas somam 445.048 hectares. Desse total, apenas 25.830 hectares serão de proteção integral. Já no Paraná, serão criados o Parque Nacional dos Campos Gerais,os refúgios de Vida Silvestre dos Campos de Palmas e do Rio Tibagi,e as reservas biológicas das Perobas e das Araucárias, somando 98.252 hectares.

A efeméride foi decretada pelo presidente Lula, devido à importância estratégica da árvore. Já havia um Projeto de Lei tramitando na Câmara dos Deputados, de autoria do parlamentar Lobbe Neto (PSDB/SP), com essa intenção. A data foi escolhida em virtude da festa de São João coincidir com a época do pinhão.

A Araucaria angustifolia é nativa da Mata Atlântica brasileira e está seriamente ameaçada de extinção. Sua semente serve de alimento para a fauna como a cotia e a gralha-azul, que escondem o pinhão no chão e depois se esquecem, fazendo com que surjam muitas mudas. Elas semeiam hoje o que vão comer.

O pinheiro brasileiro, que foi dizimado devido a sua madeira ser de alto valor comercial, chegou a responder por mais de 40% das árvores existentes na Floresta Ombrófila Mista. Atualmente, é muito difícil se deparar com um pinheiro de tronco grosso, com mais de um metro de largura, mesmo em áreas protegidas. Sua ocorrência vai do planalto gaúcho à Serra da Mantiqueira, ocupava em torno de 200 mil km².

Só no Paraná, onde a araucária é o símbolo do Estado, a espécie cobria 40% do território. Em Santa Catarina, chegava a 30% e, no Rio Grande do Sul, 25%. Hoje dispõe de 3% de sua área original, incluindo florestas exploradas e matas em regeneração. Menos de 1% guarda as características da floresta primitiva, sem interferência do homem. Existem apenas em Unidades de Conservação (UC), como parques e Reservas de Patrimônio Particular Natural (RPPN). Este é um dos motivos da necessidade de criação de novas UCs com a ocorrência da araucária.

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