O jornalista Marcos Sá Corrêa foi recepcionado nesta 5a feira no viveiro Jardim das Florestas da Apremavi em Atalanta (SC). Trata-se da primeira de uma série de visitas que Corrêa irá fazer com o intuito de conhecer a Apremavi e dar início prático ao intercâmbio entre a instituição ambientalista e o site O Eco, do qual Corrêa é sócio-fundador.

Corrêa e Miriam Prochnow (presidente da Apremavi) são líderes da Avina. A Avina apoia o intercâmbio das instituições a ela afiliadas, visando entre outros a capacitação e a troca de experiências das mesmas. "Ajuda mútua", mais do que uma combinação forte de palavras, no caso da Avina é uma ação prática.

Miriam, o biólogo Carlos Augusto Krieck e o Eng. florestal Philipp Stumpe mostraram as instalações e a área da instituição em Atalanta, iniciando com uma visita ao cemitério.

Cemitério, talvez isto soe um pouco peculiar… mas "este é o primeiro cemitério de Atalanta", explicou Miriam, "…quando esta propriedade foi adquirida, restava pouco que fizesse lembrar desta gente toda que aqui encontrou seu último repouso. Na consciência da maioria de nós, um cemitério é um lugar triste que geralmente procuramos evitar. Mas além de ser um local onde podemos lembrar de parentes e amigos, um cemitério também é um testemunho histórico. E este é um testemunho particularmente importante para a região… aqui encontra-se um bocado de história da qual procuramos lembrar. Ter consciência do nosso passado ajuda-nos no mínimo a aguçar um pouco da nossa percepção para o futuro."

"Pensar no futuro", nada melhor para ilustrar essa frase do que as "árvores-crianças" que se encontram como que à espera do plantio a poucos metros do cemitério restaurado: as milhares de mudas produzidas pela Apremavi.

"NÃO À EXTINÇÃO", a crase salienta a importância dessa frase estampada às costas da camiseta que Carlos está usando neste dia. O verde das plantas que estão brotando nas sementeiras ou das que estão em fileiras encanteiradas, nas estufas ou ao redor delas, mais do que esperança, esta cor deveria aliar-se também à palavra convicção. A certeza de que é das nossas florestas que depende tanto, não apenas ter os recursos hídricos, a qualidade de ar e de vida assegurados das gerações futuras.

Futuro, novamente esta palavra. Uma coincidência? Dificilmente, pois não é por acaso que se investe tanto empenho e dedicação à produção de árvores, algumas delas que além de raras, constam da lista oficial do IBAMA de espécies ameaçadas de extinção: canela-preta (Ocotea catharinensis), araucária (Araucaria angustifolia, o pinheiro-do-Paraná) e imbuia (Ocotea porosa, que é a árvore símbolo de Santa Catarina), são apenas três de cerca de 120 espécies de mudas de essências nativas das quais se produzem perto de 500.000 a cada ano no Jardim das Florestas.

Um número que impressiona, se considerarmos que são apenas árvores nativas, e em tão grande diversidade de espécies. Mas pouco, ante a riqueza de espécies tão característica da Mata Atlântica. Poucos milhares de árvores-crianças, já que a situação não é preocupante: é alarmante em que estado se encontra e o que se passa neste bioma brasileiro que está cada vez mais ameaçado.

Ameaçado, sim, de desaparecer. E ameaçada está toda essa biodiversidade que no passado estava presente em cada palmo quadrado de chão e no que crescia por cima dele, e que hoje encontramos representado em poucos fragmentos florestais, dos quais a maioria estão fortemente alterados. Alterados pelo corte irracional. Alterado, exaltado, irritado fica quem olha por trás dessa cortina verde das matas, onde plantas invasivas se aproveitaram do dano que os madeireiros causaram no passado. Onde árvores eram derrubadas, taquaras e cipós tomaram conta, impedindo que a floresta pudesse se regenerar. Um passado ainda presente, uma vez que o desmatamento, este pesadelo, continua.

Um sonho bom porém é o projeto "Planejamento de Paisagens", que irá tornar-se realidade ainda no mês de setembro. Corrêa pretende acompanhar detalhadamente este trabalho, que conta com o apoio da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza e da Fundação Interamericana, e que será realizado em parceria com a TNC.

Este trabalho visa o planejamento de propriedades rurais, oferecendo uma chance de incremento de renda aliado ao que se poderia chamar de conformidade com as leis ambientais. Ou simplesmente bom-senso, como se pode ver na prática da agricultura orgânica na propriedade modelo, que se encontra junto à R.P.P.N., os dois pontos seguintes na visita de Corrêa, que pôde ver novas fileiras, desta vez linhas alternadas de hortaliças livres de agrotóxicos, além da cachoeira, não por último um ponto estonteantemente bonito de se visitar.

O antepenúltimo local de visita foi o Parque Mata Atlântica, onde os visitantes foram recepcionados pela bióloga Juliana Laufer, também funcionária da Apremavi. Como nos dias anteriores chovera bastante, a cachoeira Perau do Gropp ofereceu um espetáculo de águas. Do parque seguiu-se para a propriedade Paraíso das Trutas, para ver exemplos de modelos agroflorestais.

Marcos Sá Corrêa é jornalista e fotógrafo. Formou-se em História. Escreve no site NoMínimo e no portal AOL. Foi editor de Veja e de Época, diretor do JB, de O Dia e do site NO. É pai de Rafael Corrêa, colunista de O Eco.


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