LUTO pela vida que se foi nas chamas que ainda queimam o Pantanal

16 set, 2020 | Notícias

Imagina andar pela floresta e encontrar onças, jacarés, veados, araras, antas, serpentes e outros tantos animais que você puder imaginar… mas todos eles estão mortos, completamente queimados. A floresta também não existe mais. Tudo virou cinzas. Por quilômetros e quilômetros o que se vê é destruição, incontáveis animais mortos e árvores carbonizadas.

Não, esse não é um cenário fictício e muito menos a introdução de um roteiro de filme de terror. Infelizmente, esse é um relato verídico de uma situação avassaladora (e criminosa) que está acontecendo agora no Pantanal. E eu não sei vocês, mas enche meu coração de dor e me faz querer chorar ininterruptamente por um ano inteiro. Também me revolta perceber o completo descaso do poder público com o bioma que tem a maior concentração de animais da América do Sul.

Entenda a situação

O Pantanal, bioma brasileiro considerado Patrimônio Natural Mundial, enfrenta hoje a maior onda de incêndios já registrada na área. Em julho deste ano os pantaneiros viviam o auge da maior seca já registrada nos últimos 47 anos na região. A maioria dos rios perderam 50% do seu volume de água e áreas que normalmente eram alagadas, este ano ficaram secas.

Esse foi um dos fatores que contribuiu para que, em apenas oito meses de 2020, o Pantanal registrasse o equivalente às queimadas sofridas nos últimos seis anos. Outro fator que colabora para a propagação das queimadas é o crescente desmatamento — ação que tem o fogo como forte aliado. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), foram desmatados 24.915 km² do Pantanal até 2019. Além disso, vale lembrar que mais de 90% dos incêndios são causados por humanos – sem querer ou até mesmo propositalmente, como é o caso dessa onda de fogo que está extinguindo a vida do Pantanal, que pode ter sido criminalmente provocado por cinco fazendeiros da região de Corumbá, no norte do Mato Grosso do Sul.

O Programa Queimadas do INPE, que monitora os incêndios do Pantanal desde 1998, mostra que de 1º de janeiro até o dia 12 de setembro deste ano, foram registrados 14.489 focos de incêndio no Pantanal, um aumento de 210% em relação ao mesmo período em 2019 que teve 4.660 focos registrados. E se olharmos os números, que são assustadores, com mais atenção, vemos que a área queimada soma 2,3 milhões de hectares sendo o Estados do Mato Grosso o campeão em queimadas.

Na prática essas queimadas tem um impacto imenso. Afetam diretamente a floresta e a vida que ela abriga, incluindo áreas conservadas em Unidades de Conservação como o Parque Estadual Encontro das Águas, conhecido por abrigar a maior população de onças-pintadas do mundo, e o Parque Estadual das Nascentes do Taquari, importante corredor natural de biodiversidade que reúne as nascentes de alguns dos rios que compõem o Pantanal, já é percebido o impacto. Afetam o regime hídrico porque a vegetação agora é só um mar de cinzas. Afetam o ar que vem carregado de fumaça – fumaça essa que está se espalhando para os centros urbanos das cidades pantaneiras e até outros estados. Afetam a saúde da população. Afetam a economia uma vez que o ecoturismo representa um faturamento bruto anual de US$ 6,8 milhões às comunidades da região. Afetam as pesquisas científicas já que seus objetos de estudo agora estão carbonizados. Afetam todos que ainda tem um resquício de humanidade. Só parecem não afetar os criminosos que provocam essas ações e os que fecham os olhos e não tomam atitudes para combater esse absurdo.

Na verdade, o Brasil está em chamas

Além da calamidade que paira sobre o Pantanal, os outros biomas também se vem enfrentando o mesmo problema. Segundo relata o Correio Braziliense, 2020 já acumula a maior destruição por queimadas, com 125.031 focos em todo o país, o maior registro para o período desde 2010.

Na Amazônia já foram registrados mais de 60.675 focos de incêndios. A Mata Atlântica soma 11.439 incêndios – uma alta de 5% comparado ao mesmo período e 2019. No Pampa, os dados mais recentes do Programa Queimadas, apresenta uma evolução de 38% em relação ao que foi contabilizado até 12 de setembro de 2019 (as queimadas subiram de 1.055 para 1.459).

Nuvem de fumaça proveniente das queimadas no Pantanal e outros biomas brasileiros, ainda em agosto. Fonte: Serviço de Monitoramento da Atmosfera Copernicus.

O que você pode fazer?

Compartilhe as matérias que a mídia está divulgando sobre o assunto e converse com os seus amigos e familiares sobre essa tragédia.

Assine e divulgue a petição O Pantanal Importa! O manifesto é um chamado para que o governo brasileiro olhe para os incêndios e tome providências assertivas para combatê-lo.

Seja voluntário da força tarefa coordenada pelo Comitê do Fogo (órgão colegiado que reúne diversas instituições de governo, terceiro setor e iniciativa privada) que montou um Posto de Atendimento Emergencial a Animais Silvestres – PAEAS Pantanal para atender animais resgatados.

Acompanhe e apoie o trabalho das organizações que atuam diuturnamente na proteção do Pantanal e estão na linha de frente no combate aos incêndios e suas consequências. Segue algumas sugestões:

DOE

A doação de recursos ajuda as instituições que estão na linha de frente a enfrentar a situação com mais preparo. Os recursos estão ajudando a cobrir despesas variadas, desde a compra de alimento para os animais resgatados das chamas até o aluguel de caminhões-pipa que estão levando água e ajudando a apagar as chamas. Qualquer recurso é bem-vindo!

Seguem algumas opções:

  • A AMPARA Animal criou a campanha Pantanal em Chamas para arrecadar fundos para animais que estão sendo resgatados de queimadas e também está recrutando veterinários para compor a equipe de voluntários na região.
  • A Fundação Ecotrópica também organizou uma Vakinha e o recurso arrecadado será utilizado para compra de frutas, verduras, baldes e água potável para os animais encurralados em áreas totalmente devastadas.

 

MANIFESTO #AJUDAPANTANAL 

O Manifesto #AjudaPantanal é uma iniciativa da sociedade civil que busca dar visibilidade ao crime contra os direitos da natureza e aos direitos humanos e simboliza que a solidariedade nacional e internacional é fundamental para cobrar medidas efetivas e eficazes no combate ao fogo no Pantanal, de maneira URGENTE.

Até a manhã do dia 16 de setembro, 119 entidades e organizações da sociedade civil e 19 pessoas públicas haviam assinado o manifesto, entre elas a Apremavi.

Confira a íntegra do texto a lista das adesões aqui.

Autora: Carolina Schäffer.
Revisão: Miriam Prochnow, Vitor Lauro Zanelatto e Wigold B. Schäffer.
Fotos da montagem de capa: Ahmad Jarrah (jacaré), Conexão Planeta (anta), João Paulo Guimarães (jaquatirica, veado e guaxinim) e Mayke Toscano (fogo).

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