O esplendor do bugio-ruivo
O bugio é um bicho da mata,
Um macaco com vocação para ser cantor,
Na floresta todos ouvem seu ronco
Um tom do bugio roncador.
Magnífico é poder acordar com o canto esplendoroso do bugio. Cheio de simpatia, se revela na mata lentamente, mas sempre atento afinal sua situação exige atenção em toda a floresta. Seu esplendor e canto inclusive já serviram de inspiração para músicas (veja abaixo). Na Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), o bugio Ed, virou personagem para ilustrar materiais de Educação Ambiental. Um deles, o folder sobre a importância dos animais nativos, pode ser acessado aqui.
Considerado um dos maiores primatas neotropicais o bugio pertence ao gênero Alouatta, que apresenta inúmeras espécies diferentes, assim caracterizadas principalmente pelos aspectos morfológicos, como sua coloração e tamanho.
São encontrados desde o Estado de Vera Cruz, no México, até o Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil e Corrientes, na Argentina. Em termos de altitude, ocorrem em regiões desde o nível do mar até 700 metros. Aqui em Atalanta, por entre a preservada Mata Atlântica encontrada aos pés da Serra do Pitoco, quem tem nos mostrado sua graciosidade e concerto – às vezes ensurdecedor – é um grupo de bugios da espécie Alouatta fusca.
Como os outros integrantes do gênero Alouatta, o bugio-ruivo é conhecido como um dos mais notáveis primatas que emitem vocalizações de longo alcance, principalmente em contextos de defesa de territorialidade.
São animais sociais e formam grupos que podem ter de 2 a 8 indivíduos. Os machos adultos sãovermelho-alaranjados e maiores que as fêmeas, apresentando uma pelagem mais densa, principalmente na região gular onde se forma uma espessa barba. As fêmeas e jovens apresentam coloração castanho escuro.
A reprodução pode acontecer ao longo do ano, porém cada gestação, de até 195 dias, gera somente um filhote. Nas primeiras semanas de vida, o filhote é carregado no ventre da fêmea e só mais tarde ele começa a se pendurar no seu dorso. Os bugios permanecem a maior parte do seu período diário em repouso e podem pesar até 9 kg quando adultos.
Os grupos apresentam comportamento hierárquico onde um macho adulto é considerado o dominante, este geralmente se mantém nos galhos mais altos da mata de onde observa tudo o que acontece. Apesar disso, desempenham muitas interações sociais, tais como brincadeiras (especialmente entre os filhotes e jovens) e seções de catação, comportamento que serve para limpar sua pelagem e reforçar os laços afetivos entre os indivíduos do grupo.
Os bugios tem uma adaptação nos membros anteriores, conhecida como esquizodactilia (dedos médios afastados), que facilita sua locomoção. Já a sua cauda preênsil, dotada de uma musculatura desenvolvida e grande sensibilidade, auxilia no ato de se pendurar nas árvores e de segurar objetos, além de servir como órgão de equilíbrio durante sua movimentação.
São animais folívoros e por isso alimentam-se principalmente de folhas, entretanto também comem frutos, sementes e brotos. As folhas do Cedro e da Embaúba são as preferidas, além dos frutos da Figueira e das flores do Garapuvú. Sendo assim, acabam exercendo um papel extremamente importante na dispersão das sementes de muitas espécies de plantas, auxiliando na sobrevivência e na manutenção da diversidade da floresta.
Os bugios não possuem muitos predadores naturais, contudo animais como a jaguatirica (Leopardus pardalis) e os falconiformes, dentre eles o gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus) e a águia-real (Harpia harpyja), preenchem essa lista. Ainda assim, as principais ameaças ao grupo são de origem antrópica, sendo o desmatamento e a fragmentação de seu habitat os fatores mais alarmantes, além da caça ilegal e predatória.
Diante do quadro de degradação ambiental em que vivemos, medidas conservacionistas devem ser tomadas imediatamente e a Apremavi convida todos vocês a conhecerem o novo Centro Ambiental Jardim das Florestas onde são desenvolvidas várias ações de Educação e Conservação Ambiental. Além disso, também estamos coletando assinaturas para a Campanha “Eu Respeito os Animais da Natureza e Digo Não À Caça“.
Bugio-ruivo
Nome científico: Alouatta fusca
Ordem: Primates
Família: Atelidae
Habitat: Mata Atlântica
Alimentação: folhas, sementes, brotos e frutos
Altura: varia de 30 a 75 cm
Peso: atinge até 9 quilos
Predadores naturais: Falconiformes
Fatores de ameaça: perda/fragmentação do habitat, desmatamento, tráfico ilegal e caça predatória
Fontes consultadas
Aguiar, L.M.; Reis, N.R.; Ludwig, G. & Rocha, V.J. Dieta, Área de Vida, Vocalizações e Estimativas Populacionais de Alouatta guaribaem um remanescente florestal no norte do estado do Paraná. Neotropical Primates, 11(2), 2003.
Bicca-Marques, J.C. & Calegaro-Marques, C. Ecologia Alimentar do gênero Alouatta Lacépede 1799 (Primate, Cebidae). Ciência Agronômica, Rio Branco, 3: 23-49, 1995.
Bugio (Alouatta fusca). Disponível em: http://ambientes.ambientebrasil.com.br/fauna/mamiferos/ bugio_(alouatta_fusca).html. Acessado em 09 de fevereiro de 2014.
Gregorin, R. Taxonomia e variação geográfica das espécies do gênero Alouatta Lacépède (Primates, Atelidae) no Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 23(1), Curitiba. 2006.
Machado, A.B.M.; Drummond, G.M. & Pagila, A.P. (eds.). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. MMA, Brasília. 2008.
Miranda, J.M.D; Moro-Rios, R.F.; Bernardi, I.P. & Passos, F.C. Formas não usuais para a obtenção de água por Alouatta guariba clamitans em ambiente de Floresta com Araucária no Sul do Brasil. Neotropical Primates, 13(2): 21-23. 2005.
Primatas do Brasil. Disponível em: http://primatasdobrasil.blogspot.com.br/2009/10/bugio-ruivo-alouatta-fusca-clamitans.html. Acessado em 09 de fevereiro de 2014.
Zaccaron, G.S. Estudo dos aspectos gerais e do comportamento de Alouatta fusca, em um Remanescente Florestal no Município de Morro da Fumaça – SC. Monografia apresentada para conclusão de graduação. UNESC. Criciúma. 2005.
Esses dias vi um bugio ruivo morto por atropelamento no Rodoanel.
Nem sabia que eles habitavam essa região de SP.
Fiquei com muita pena.