O esplendor do bugio-ruivo

10 fev, 2014 | Bichos de Atalanta, Guia de Espécies, Notícias

O bugio é um bicho da mata,
Um macaco com vocação para ser cantor,
Na floresta todos ouvem seu ronco
Um tom do bugio roncador.

Magnífico é poder acordar com o canto esplendoroso do bugio. Cheio de simpatia, se revela na mata lentamente, mas sempre atento afinal sua situação exige atenção em toda a floresta. Seu esplendor e canto inclusive já serviram de inspiração para músicas (veja abaixo). Na Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), o bugio Ed, virou personagem para ilustrar materiais de Educação Ambiental. Um deles, o folder sobre a importância dos animais nativos, pode ser acessado aqui.

Considerado um dos maiores primatas neotropicais o bugio pertence ao gênero Alouatta, que apresenta inúmeras espécies diferentes, assim caracterizadas principalmente pelos aspectos morfológicos, como sua coloração e tamanho.

São encontrados desde o Estado de Vera Cruz, no México, até o Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil e Corrientes, na Argentina. Em termos de altitude, ocorrem em regiões desde o nível do mar até 700 metros. Aqui em Atalanta, por entre a preservada Mata Atlântica encontrada aos pés da Serra do Pitoco, quem tem nos mostrado sua graciosidade e concerto – às vezes ensurdecedor – é um grupo de bugios da espécie Alouatta fusca.

Como os outros integrantes do gênero Alouatta, o bugio-ruivo é conhecido como um dos mais notáveis primatas que emitem vocalizações de longo alcance, principalmente em contextos de defesa de territorialidade.

São animais sociais e formam grupos que podem ter de 2 a 8 indivíduos. Os machos adultos sãovermelho-alaranjados e maiores que as fêmeas, apresentando uma pelagem mais densa, principalmente na região gular onde se forma uma espessa barba. As fêmeas e jovens apresentam coloração castanho escuro.

A reprodução pode acontecer ao longo do ano, porém cada gestação, de até 195 dias, gera somente um filhote. Nas primeiras semanas de vida, o filhote é carregado no ventre da fêmea e só mais tarde ele começa a se pendurar no seu dorso. Os bugios permanecem a maior parte do seu período diário em repouso e podem pesar até 9 kg quando adultos.

Os grupos apresentam comportamento hierárquico onde um macho adulto é considerado o dominante, este geralmente se mantém nos galhos mais altos da mata de onde observa tudo o que acontece. Apesar disso, desempenham muitas interações sociais, tais como brincadeiras (especialmente entre os filhotes e jovens) e seções de catação, comportamento que serve para limpar sua pelagem e reforçar os laços afetivos entre os indivíduos do grupo.

Os bugios tem uma adaptação nos membros anteriores, conhecida como esquizodactilia (dedos médios afastados), que facilita sua locomoção. Já a sua cauda preênsil, dotada de uma musculatura desenvolvida e grande sensibilidade, auxilia no ato de se pendurar nas árvores e de segurar objetos, além de servir como órgão de equilíbrio durante sua movimentação.

São animais folívoros e por isso alimentam-se principalmente de folhas, entretanto também comem frutos, sementes e brotos. As folhas do Cedro e da Embaúba são as preferidas, além dos frutos da Figueira e das flores do Garapuvú. Sendo assim, acabam exercendo um papel extremamente importante na dispersão das sementes de muitas espécies de plantas, auxiliando na sobrevivência e na manutenção da diversidade da floresta.

Os bugios não possuem muitos predadores naturais, contudo animais como a jaguatirica (Leopardus pardalis) e os falconiformes, dentre eles o gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus) e a águia-real (Harpia harpyja), preenchem essa lista. Ainda assim, as principais ameaças ao grupo são de origem antrópica, sendo o desmatamento e a fragmentação de seu habitat os fatores mais alarmantes, além da caça ilegal e predatória.

Diante do quadro de degradação ambiental em que vivemos, medidas conservacionistas devem ser tomadas imediatamente e a Apremavi convida todos vocês a conhecerem o novo Centro Ambiental Jardim das Florestas onde são desenvolvidas várias ações de Educação e Conservação Ambiental. Além disso, também estamos coletando assinaturas para a Campanha “Eu Respeito os Animais da Natureza e Digo Não À Caça“.

Bugio-ruivo

Nome científico: Alouatta guariba clamitans
Ordem:
Primates
Família:
Atelidae
Habitat:
Mata Atlântica
Alimentação:
folhas, sementes, brotos e frutos
Altura:
varia de 30 a 75 cm
Peso:
atinge até 9 quilos
Predadores naturais:
Falconiformes
Fatores de ameaça:
perda/fragmentação do habitat, desmatamento, tráfico ilegal e caça predatória

Fontes consultadas

Aguiar, L.M.; Reis, N.R.; Ludwig, G. & Rocha, V.J. Dieta, Área de Vida, Vocalizações e Estimativas Populacionais de Alouatta guaribaem um remanescente florestal no norte do estado do Paraná. Neotropical Primates, 11(2), 2003.

Bicca-Marques, J.C. & Calegaro-Marques, C. Ecologia Alimentar do gênero Alouatta Lacépede 1799 (Primate, Cebidae). Ciência Agronômica, Rio Branco, 3: 23-49, 1995.

Bugio (Alouatta fusca). Disponível em: http://ambientes.ambientebrasil.com.br/fauna/mamiferos/ bugio_(alouatta_fusca).html. Acessado em 09 de fevereiro de 2014.

Gregorin, R. Taxonomia e variação geográfica das espécies do gênero Alouatta Lacépède (Primates, Atelidae) no Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 23(1), Curitiba. 2006.

Machado, A.B.M.; Drummond, G.M. & Pagila, A.P. (eds.). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. MMA, Brasília. 2008.

Miranda, J.M.D; Moro-Rios, R.F.; Bernardi, I.P. & Passos, F.C. Formas não usuais para a obtenção de água por Alouatta guariba clamitans em ambiente de Floresta com Araucária no Sul do Brasil. Neotropical Primates, 13(2): 21-23. 2005.

Primatas do Brasil. Disponível em: http://primatasdobrasil.blogspot.com.br/2009/10/bugio-ruivo-alouatta-fusca-clamitans.html. Acessado em 09 de fevereiro de 2014.

Zaccaron, G.S. Estudo dos aspectos gerais e do comportamento de Alouatta fusca, em um Remanescente Florestal no Município de Morro da Fumaça – SC. Monografia apresentada para conclusão de graduação. UNESC. Criciúma. 2005.

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