Parece que não está fácil a vida das espécies típicas de ambientes de cachoeiras e corredeiras de rios. Acontece que esses ambientes, muitas vezes únicos e ideais para certas espécies, que levaram um mínimo de centenas de milhares de anos para ali se adaptar e sobreviver, são também os ambientes ideais para uma espécie bem recente nesse planeta, o Homo sapiens (que, na sua versão recentíssima da revolução industrial, poderia ser batizado mais apropriadamente de Homo pseudosapiens), retirar energia hidroelétrica.

Pobres espécies que ali estavam antes, muito, muito antes do atual Homo pseudosapiens! Estão ameaçadíssimas de extinção, por conta da voracidade cada vez maior por energia do pseudosapiens.

É o caso de duas espécies de bromélias do mesmo gênero: a Dychia ibiramensis, espécie que ocorre APENAS em um único município, Ibirama, em Santa Catarina. Todos os individuos e populações dessa espécie resumem-se ao espaço geográfico de apenas 1.100 metros de apenas uma margem do rio Itajaí do Norte, naquele município. Pois é, justamente ali estão querendo fazer uma PCH que, uma vez construída, vai acabar com o único habitat da espécie em todo o planeta Terra!

Já sua "prima" Dyckia distachya, espécie que ocorre ou ocorria em alguns pontos do Rio Uruguai, na fronteira dos estados de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, parecia que teria sorte maior, uma vez que seu endemismo não é tão surpreendentemente restrito quanto a ibiramensis. Qual que! A Dychia distachya já foi varrida do mapa em outra região de sua ocorrência, uma vez que ficou debaixo do lago formado pela barragem de Itá, no mesmo rio. Agora, está ameaçadíssima pelo alagamento da barragem de Barra Grande, a qual, se formado o lago, vai também ser muito provavelmente condenada à extinção!!!

Os esforços para reprodução em viveiro dessa espécie têm se revelado um fracasso. Já tentaram isso no caso da UHE de Itá e ningúém garante que vai dar certo em Barra Grande, fazendo desta a espécie mais ameaçada de extinção que se conhece por aqui.

A UHE de Barra Grande está pronta, fruto de um EIA/RIMA frandulento que omitiu a existência de raríssimas florestas com Araucária na área que seria inundada pelo seu lago. Lá no fundo, junto às rochas das margens e ilhas do rio Uruguai, ainda vivem algumas populações, com certeza as últimas, de Dychia distachya. Um dilúvio do novo milênio a ameaça. O Noé do século XXI tem se revelado incapaz de contruir uma arca que a salve da extinção. O deus Ibama está com a caneta na mão. É o deus protetor da vida de todas as espécies. Se cumprir com sua função, não poderá autorizar o enchimento do lago. Se autorizar o enchimento do lago, poderá estar com isso, varrendo do Planeta, mais uma espécie…

Não, não podemos aceitar isso. Os dilúvios não mais podem acontecer, foi promessa do Deus bíblico. O mesmo Deus que mandou vir o dilúvio, mas que também se preocupou com a salvação de TODAS as espécies, inclusive, à época o Homo sapiens, atual Homo pseudosapiens. Inclusive também a Dyckia distachya, que já existia por aqui, mesmo naqueles tempos bíblicos…

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