Estudos consistentes, recém-publicados pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e pelo Instituto Nacional do Câncer (Ministério da Saúde), revelam situação assustadora sobre o uso de agrotóxicos no país.
Desde 2009, somos o maior consumidor mundial destes produtos, com a venda de 936 mil toneladas por safra.
O mercado saltou de US$ 2 bilhões para US$ 8,5 bilhões em uma década, atrelado ao crescimento do plantio de culturas transgênicas.
A taxa de aumento de uso de agrotóxicos é maior que o crescimento de produtividade, um indicador de que estamos utilizando mais produtos químicos para produzir a mesma quantidade de alimentos.
Usamos no Brasil ao menos 22 produtos banidos em outros países. A consequência é a intoxicação de trabalhadores rurais e a presença de resíduos cancerígenos em alimentos, na água, na biodiversidade.
Chegamos à hipocrisia de propor limites toleráveis para o resíduo no leite materno, como se isto fosse aceitável.
O estudo da Abrasco reúne uma sólida literatura que demonstra que a produção com o uso intensivo de agrotóxicos não é uma necessidade, mas uma escolha e que uma produção ecológica é possível.
A escolha está articulada com as monoculturas em grandes propriedades, que atende aos interesses de poucos e causa um impacto difuso brutal ao meio ambiente e à saúde pública.
A lógica econômica impõe aos pobres comer alimentos contaminados, enquanto a elite tem a opção dos produtos orgânicos.
Tais estudos são somente mais uma evidência de que nos iludimos com a convicção que o Brasil domina a agricultura tropical sustentável.
Os enormes ganhos de produtividade estão apoiados em um sistema de produção altamente dependente de químicos e que ultrapassou a exaustão ambiental e o limite do bem-estar humano.
Temos o conhecimento e a tecnologia, mas nos falta a força para enfrentar os interesses que nos impedem de sermos líderes da agricultura e da produção de alimentos realmente sustentáveis.