Quaresmeira, a flor que anuncia a Páscoa

29 mar, 2023 | Guia de Espécies

A Quaresmeira também pode ser conhecida popularmente como manacá-da-serra, flor-de-maio, flor-da-quaresma, jacatirão-de-capote e pau-de-flor. As espécies do gênero Tibouchina são conhecidas como quaresmeiras, a principal delas é a Tibouchina granulosa, muito presente na arborização urbana. As espécies de maior ocorrência na Mata Atlântica são a Tibouchina mutabilis e a Tibouchina sellowiana.

Elas são muito parecidas morfologicamente por se tratarem do mesmo gênero, portanto são difíceis de serem diferenciadas, principalmente apenas com informações advindas de fotografias. Assim, por serem as duas espécies de quaresmeira com maior ocorrência na Mata Atlântica vamos abordar as duas nesta matéria nos referindo a elas como quaresmeiras.

A quaresmeira é uma espécie pioneira, característica da encosta úmida da Serra do Mar que ocorre do Rio de Janeiro até Santa Catarina. É encontrada quase exclusivamente na mata secundária, chegando, por vezes, a dominar a paisagem e podendo viver de 60 a 70 anos.

Além da importância ecológica, a quaresmeira é muito utilizada na arborização urbana, com fins paisagísticos, devido à beleza de suas flores e por não apresentar raízes agressivas, permitindo seu plantio em diversos espaços, desde isoladas em calçadas, até em pequenos bosques em grandes parques públicos. Seu crescimento é rápido.

Elas têm esse nome porque parte da floração mais intensa é próxima ao período religioso da Quaresma, que vai da quarta-feira de cinzas ao domingo de Páscoa, período de reflexão que antecede a Páscoa para os católicos. Outra coincidência: a cor símbolo da Páscoa é o roxo, mesma tonalidade de cor das flores da quaresmeira.

As flores são solitárias, grandes, vistosas e duráveis. Desabrocham com a cor branca e gradativamente vão se tornando violáceas, passando pelo rosa. Esta particularidade faz com que na mesma planta sejam observadas flores de três cores.

Sua madeira apesar de ser de qualidade inferior é indicada para a construção de vigas, caibros, obra internas, postes, esteios e moirões para lugares secos.

Estresse faz as quaresmeiras florirem

Na mata original, a quaresmeira pode viver de 60 a 70 anos. Com o estresse da cidade, ocasionado pelo monóxido de carbono, elas adotaram uma estratégia evolutiva diferente e vivem menos de 50 anos e podendo florescer três vezes por ano. As quaresmeiras que se encontram isoladas nas ruas são as mais afetadas por esse estresse causado pelo monóxido de carbono, produzido pela queima de combustível dos veículos, e o ozônio. A falta de adubação, o pequeno espaço para crescer e expandir suas raízes e as podas drásticas também apressam a morte das quaresmeiras.

Segundo os pesquisadores, as plantas estressadas acabaram adotando a estratégia evolutiva de produzir mais flores para garantir mais sementes e mais “descendentes”. A floração é a forma de perpetuação da espécie. Nas quaresmeiras, as mais velhas vão ficando cada vez mais exuberantes.

A Origem das Quaresmeiras contada pelos índios

Por várias vezes tamoios e portugueses se enfrentaram e no ano de 1566 aconteceu um grande combate entre os dois povos. Esse episódio ficou conhecido na história como a guerra das canoas, que se desenrolou ao redor de Paquetá (RJ) e que dizimou toda a tribo tamoio que vivia na Ilha.

Dizem que os tamoios, já prevendo essa derrota e a extinção da sua tribo, providenciaram com antecedência um grande ritual religioso  em que  invocaram os espíritos dos seus ancestrais para que, de alguma forma, ficasse marcado para sempre que o chão e a Natureza desta ilha das muitas pacas era território deles, e a eles pertencia.

Não há concordância em relação ao local em que tal rito ocorreu: se na Imbuca, ou na Lagoa Grande. Em cada um desses locais havia uma taba da tribo de Paquetá, e cada uma delas era dirigida por um cacique, além do Pajé, que era o mesmo para as duas aldeias. Eram pois três chefes: dois temporais e um espiritual. E foi em torno deles que ficou estabelecido o sinal para marcar a posse indígena de Paquetá. Ficou combinado que os espíritos dos ancestrais usariam para marcar esse fato, as mesmas cores que cada um dos três caciques costumava usar nos seus cocares e nos seus colares. O da Imbuca preferia o amarelo das penas dos bem-te-vis, o da Lagoa Grande preferia as flores azuis das bromélias que enfeitavam as margens dessa grande lagoa e o Pajé andava sempre ornamentado com vários colares de conchas cor-de-rosa, que existiam em quantidade nas praias de Paquetá.

E os mais antigos contam que foi depois da guerra das canoas, quando morreram todos os índios de Paquetá e os seus três caciques, que começaram a aparecer mata atlântica, essas três grandes árvores ornamentais: o Ipê amarelo, que floresce principalmente na Imbuca, as quaresmeiras, que enfeitam de  roxo as encostas, e as paineiras da curva do vento, que sempre enfeitam Paquetá com as suas  grandes flores cor-de-rosa. Dizem que elas simbolizam aqueles três grandes chefes tamoios.

Quaresmeira ou manacá-da-serra. Foto: Carolina Schäffer

Detalhes da flor da quaresmeira (T. mutabilis ou T. sellowiana). Foto: Carolina Schäffer

 

Quaresmeira

Nome científicoTibouchina mutabilis (Vell.) Cogn. e Tibouchina sellowiana.
Família: Melastomataceae
Utilização: Madeira utilizada para vigas, caibros e moirões. Muito utilizada para paisagismo urbano e geral.
Coleta de sementes: Diretamente da árvore quando começar a abertura espontânea dos frutos.
Fruto: marrom, seco, em forma de taça, contendo várias sementes por fruto, possuindo aproximadamente 0,7 cm de diâmetro.
Flor: Rosa, branca, violácea.
Crescimento da muda: Rápido.
Germinação: Delicada.
Plantio: Mata ciliar, área aberta, solo degradado.
Época de coleta de sementes: Fevereiro a abril 
Observação
: As sementes deverão ser minimamente cobertas com substrato leve mantidas com pouca umidade.

Autoras: Tatiana Arruda Correia e Miriam Prochnow.
Revisão: Thamara Santos de Almeida e Guilherme Peres Coelho.
Foto de capa: Carolina Schäffer.

Fontes Consultadas:

BIANCARELLI, A. Estresse faz quaresmeiras florirem. Disponível em:
http://www.premioreportagem.org.br/article.sub?docId=440&c=Brasil&cRef=Brazil&year=2002&date=mar%C3%A7o%202002. Data de acesso: 06 abr. 2009.

CARDOSO, M. A Origem das Paineiras, das Quaresmeiras e do Ipê Amarelo. Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/5387/1/a-origem-das-paineiras-das-quaresmeiras-e-do-ipe-amarelo/pagina1.html . Data de acesso: 31 mar. 2009.

LORENZI, H. Tibouchina mutabilis (Vell.) Cogn.  In: LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 1992. p. 262.

Manacá-da-Serra. Disponível em:
http://www.jardineiro.net/br/banco/tibouchina_mutabilis.php. Data de acesso: 02 abr. 2009.

 

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