Num município catarinense a cerca de 100 km da cidade de Lages (SC), na fronteira com o estado do Rio Grande do Sul. A rodovia SC-458 termina ali, e a cidade está num beco-sem-saída graças aos blefes de uma Companhia Energética, a Baesa-Energética Barra Grande S.A., que embora também tenha construido algumas estradas no canteiro de obras e queira produzir energia elétrica, pretende destacar-se em breve com a destruição de mais de 5.000 ha de florestas.

Anita Garibaldi: a cidade ganhou seu nome da omônima revolucionária que por ali passou propagando os ideais da Revolução Farroupilha. Isso foi no ano 1842, a Floresta com Araucárias ainda era uma grande, contínua floresta, estendia-se conforme Reitz & Klein (1966) por uma vasta área no sul do Brasil:

    "…originalmente os pinhais mais extensos se situavam, principalmente, no assim chamado primeiro Planalto Catarinense, abrangendo as áreas compreendidas desde São Bento do Sul, Mafra, Canoinhas e Porto União, avançando em sentido sul até a Serra do Espigão e Serra da Taquara Verde, continuando em seguida pela Serra do Irani em sentido oeste (…) o pinheiro emergia como árvore predominante, por sobre as densas e largas copas das imbuias, formando uma cobertura própria e muito característica."

Isto também se tornou história: essas extensas florestas encontram-se hoje fortemente fragmentadas a menos de 3% de sua área original, dos quais irrisórios 0,7% poderiam ser considerados como áreas primitivas (primárias), as chamadas "matas virgens" (segundo dados da Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná, FUPEF).

Uma das poucas áreas remanescentes se encontra justamente nessa cidade com o nome da revolucionária originária da cidade de Laguna: Anita Garibaldi. Uma mata primária de mais de 2.000 ha de Floresta com Araucárias se estende ao longo do Rio Pelotas e seu afluente Vacas Gordas. Além disso, outros 2.258 ha de mata secundária em avançado estágio de recuperação e 1.100 ha de campos sulinos serão "tragados (…) resultando em mais de 5.435 ha de oportunidades perdidas para preservar uma paisagem típica de Santa Catarina", conforme escreve o jornalista Marcos Sá Corrêa do O Eco em setembro último.

É bem na divisa com o estado gaúcho que está encravado o empreendimento da Baesa, uma barragem de mais de 180 metros de altura. O lago da hidrelétrica também irá inundar áreas dos municípios catarinenses Cerro Negro, Campo Belo do Sul e Capão Alto, Vacaria e Esmeralda no RS.

Além de uma tragédia ambiental, conforme escreve Corrêa, criou-se como na maioria de outros empreendimentos desse tipo, onde a ganância humana criou sinergias com manobras e cambalachos, uma grande injustiça social. É o que Marco Antônio Trierveiler do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragem) pôde contar à equipe de filmagem do canal de TV que irá lançar ao ar ainda neste mês de outubro uma reportagem sobre o caso "A Hidrelétrica de Barra Grande".

O engenheiro florestal da ApremaviPhilipp Stumpe pôde acompanhar junto com o MAB os trabalhos de filmagem. Além de filmar áreas de mata virgem que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da firma ENGEVIX não mencionou, visitaram-se famílias de atingidos pela barragem que vivem da agricultura de subsistência na área de inundação do parque. Várias dessas famílias estão numa situação irregular do ponto de vista da Baesa, que não se vê na obrigação de indenizar quem não têm título de terra.

É uma injustiça social, independente de escritura ou não, uma vez que estas famílias não irão encontrar nenhuma alternativa ao que, mesmo que sob modestas condições, têm há várias gerações: uma sobrevivência.

"É sempre a mesma história: os empreendimentos energéticos, formados por empresas que praticamente se revezam entre si nos diferentes locais que constroem suas barragem, chegam sempre prometendo a mesma coisa: progresso. Mas disso por fim nada se vê: se colocarmos numa balança o dano ambiental e social causados, veremos que a empresa energética é a única que ganha nesta história", contou Marco Trierveiler diante das câmeras.

E quanto às araucárias, esta espécie ameaçada de extinção? Quem se detém a ler o EIA, e vê as fotos de áreas que nem ao menos irão ser alagadas, chega à conclusão que não existe mata virgem na região. Nesse dito estudo dizem até que araucárias nem são frequentes na região.

A Apremavi cedeu imagens gravadas num sobrevôo feito em setembro, que aliadas às agora filmadas por terra e de balsa no Rio Pelotas, formam um quadro completo da fraude que o IBAMA demorou demais para conseguir ver. E dos fatos e florestas da Mata Atlântica que estão procurando afogar.

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